2018-05-18

JOSÉ MARIA PEDROTO
O futebol era um vício…mas o Homem tinha vida para além da Paixão!


JOSÉ MARIA PEDROTO
O futebol era um vício…mas o Homem tinha vida para além da Paixão!
E quando se diz que Pedroto, treinador, era um homem à frente do seu tempo…tudo se estendia para lá da metodologia do treino, da visão do fenómeno e da leitura do jogo no “banco”. O “Zé” era um homem preocupado com os seus jogadores enquanto pessoas comuns. E tinha um forte espírito de solidariedade, não só no âmbito da “família portista” (Miguel Arcanjo chamava-lhe o Divino Mestre), mas até com ex-jogadores de outros clubes a quem ajudava não só financeiramente. 


José Carlos Silva

José Maria Pedroto foi mais uma vez homenageado, agora pela «Tertúlia do Dragão”, cujo espaço passou a contar com uma sala VIP que leva o seu nome. A mulher, Cecília, e os filhos Isabel e Rui acompanharam o Prof. José Neto e o Presidente do FCP Pinto da Costa, numa sessão para lembrar o homem e o treinador de eleição. José Neto ilustrou a importância de Pedroto na sua passagem pelo clube e na sua formação como homem do futebol – não apenas no pormenor das estatísticas; Isabel e Rui acentuaram a faceta do pai, embora com uma natural rigidez, preocupado com o saudável crescimento dos filhos à luz do tempo que foi – uma ideia igualmente partilhada por Pinto da Costa, que destacou o facto de ele lhe manifestar a sua preocupação, não com o futuro financeiro dos filhos, antes com a importância de lhes proporcionar ferramentas para melhor enfrentar eventuais dificuldades da vida; e Cecília Pedroto preferiu salientar que o marido, embora respirando e transpirando futebol, sempre procurou nunca misturar a família e a profissão. Visivelmente emocionada, revelou que o marido nem sabia que ela ia ver os jogos ao estádio das Antas no seu lugar cativo. E feliz pela continuidade de Sérgio Conceição como técnico do clube, Cecília Pedroto – embora recusando comparações com outros grandes treinadores portugueses, antigos e actuais, e não esquecendo a enorme evolução do futebol – sempre foi dizendo com orgulho que nenhum o igualou no que respeita a capacidades técnicas. Jorge Nuno Pinto da Costa lembrou com naturalidade a sua relação de amizade com Pedroto não só no F.C. do Porto. E foi em sua casa, com amigos comuns, que partilhou responsabilidades com a ida do técnico, quer para Setúbal, quer para o Boavista. A doença que viria a minar a vida de Pedroto, demasiado cedo, foi igualmente objecto da memória do presidente do clube azul e branco. 


Foi pena, embora se perceba a exígua disponibilidade de tempo, que a «tertúlia» não tivesse sido estendida à numerosa assistência. Pedroto era um homem de tertúlias, lembrou o filho Rui. E eu, que tive a felicidade de poder acompanhar pelo menos duas na Petúlia, madrugada dentro, graças sobretudo à camaradagem de Nuno Brás, Sérgio Teixeira e de Manuel Fernandes, da RDP, não esqueço a simplicidade com que o «Mestre» explicava como os defesas laterais deviam evitar os cruzamentos dos extremos adversários. Ou de como, ainda não havia marcas no relvado como hoje, e já ele colocava um jogador à frente do adversário na marcação dos cantos e um outro junto ao poste da baliza – quantas vezes até nos dois! Questionado um dia por um jornalista, depois de uma série de 5 empates do FCP, no tempo em que as vitórias ainda valiam 2 pontos…Pedroto disse: meu rapaz…vale mais 5 empates do que 3 derrotas! Há muitas outras situações conhecidas, como aquela do penálti que o Oliveira falhou contra o Sporting, nas Antas (a perder por 1-0) e que, por indicação de Pedroto, Romeu acabou por ter êxito na recarga, empatando o jogo…ou uma outra passada com Jairo – um brasileiro que chegou ao clube em finais dos anos 70 do séc. XX: num dos treinos, o avançado insistia em cruzar muito antes da linha de fundo para a área, o que retirava eficácia ao ataque. Então Pedroto mostrava-lhe aquele espaço mais próximo do ângulo entre as linhas lateral e de fundo, imaginando um “quarto de círculo” em grande plano. Estás a ver? É mais ou menos por aqui que deves cruzar. Mas Jairo insistia no “erro”. Até que, num desses cruzamentos, o ataque lá acabou por marcar um golo. Então Pedroto terá desabafado: pronto, também serve! 


         Era assim José Maria Pedroto – um homem à frente do seu tempo e que o tempo levou muito antes do tempo merecido! De Lamego ao Porto, da Invicta ao Mundo…a doença fatal viria a impedir-me de apresentar a história do «Mestre», ou parte dela, na primeira pessoa, mas ficaram testemunhos vários de diferentes quadrantes clubísticos, salientando as capacidades como homem e como treinador. Transmitido ainda antes do seu passamento…talvez ainda esteja em “arquivo” na RDP-Antena1. 



António Bondoso
Jornalista
18 de Maio de 2018. 


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