2020-09-18

A MULHER SANTOMENSE/SÃO-TOMENSE EM PORTUGAL…e esse caminho longe!

“A saudade é uma distância que dói porque não é acessível”.

“Carregamos a saudade de gente que nos fez bem…e por vezes dói”.

Duas ideias que marcam pessoas diferentes mas que manifestam idêntica emoção quando se fala do país distante.

Duas mulheres de S. Tomé e Príncipe, na diáspora em Portugal, a propósito do Dia da Mulher Santomense que se assinala a 19 de Setembro. 



Independentemente do simbolismo da data, que vai ser comemorada a preceito e com dinamismo – como saberemos mais à frente – há sentimentos e emoções na comunidade que traduzem uma forte ligação às ilhas encantadas do Golfo da Guiné. E foi por aí que tracei o caminho, solicitando pequenos depoimentos sobre a saudade da «terra» e sobre a perceção que têm do país à distância.

         E se a saudade «não é mensurável» por vezes – como são os casos da Áurea Graça Amorim, da Mena e da Nanda Teixeira, ela também é «infinita», por outras, por exemplo para a Maomé Cravid e Milé Albuquerque Veiga. Em qualquer caso, foram vivências únicas para Conceição Beirão Carvalho, que as recorda sem «saudosismo doentio» e podem ser analisadas sob vários pontos de vista – como sucede com Maria José Rebelo: “é uma ausência de algo que já passou” e “também é uma questão emocional. Carregamos o peso de algo invisível e por mais que se diga que se mata a saudade, ela está dentro de nós”. No fundo, reforça a Mena Teixeira, há uma «saudade boa dos cheiros, dos sabores, da presença e da ausência».

         E é nesta ambivalência da presença e da ausência que se coloca a questão da perceção do país à distância.

         A Maomé, por exemplo, diz ter «um sentimento de pertença, resignação e amor incondicional» enquanto a Nanda Teixeira refere “a percepção de um país muito frágil, com inúmeras carências a todos os níveis”. A Áurea diz  que «a perceção do país à distância é impossível» mas a Milé Veiga afirma ter uma «perceção permanente, buscando informação por via dos média». Para Maria José «não podemos caminhar para São Tomé. Não há caminho. É preciso voar ou fazer viagem de barco». Por isso dói tanto a saudade. Tal como a Milé, igualmente a Conceição Beirão procura manter-se atualizada e cita Francisco Tenreiro:- “longe…apenas nas milhas”! O tempo, diz, ainda é de brumas: - «Quisera poder sorrir de júbilo, mas, infelizmente, ainda não chegou esse tempo há muito acalentado. A brisa fresca de Abril de 1974 demora a dar o ar da sua graça».

         45 anos depois da independência de STP, já era tempo de sentirmos soprar a «brisa fresca». Contudo, Conceição Beirão regista com enorme satisfação o papel da mulher santomense na diáspora, reconhecendo que «ser santomense em Portugal, apesar das vicissitudes, é arar em terra fértil. Portugal é o país mais hospitaleiro do mundo». Por isso, deixa a maior e a mais respeitosa vénia à “MenNon” (Associação das Mulheres Santomenses em Portugal, a comemorar 10 anos de vida) pela «generosidade e presença admirável, onde a escuridão turva o presente e tolhe o futuro, bem como a todas as que, de uma ou outra forma, continuam a fazer a História Nacional».

Muito grato a todas as que, sendo solicitadas a participar nesta minha ideia, o fizeram prontamente. Longa vida à “MULHER” de S. Tomé e Príncipe em todo o mundo!



António Bondoso                                                                        

18 Setembro 2020.


 

2020-09-17

Olá. Estamos – de novo – em período de contingência.

Olá. Estamos – de novo – em período de contingência. E com números elevados que assustam! 



Estamos, sobretudo, na contingência de perder o «Planeta» devido às atitudes humanas que foram conduzindo a «Terra» às doenças que, agora, nos obrigam à “contingência”.

Estamos também na contingência de ver reeleito um presidente em «estado de negação», como é o caso de Trump, nos EUA, que abandonou/rasgou os acordos sobre o clima – igualmente uma evidência que vai destruindo o Ártico, oscilações que, seguramente, têm vindo a ajudar a chegar a esta situação de contingência. Depois da UNESCO abandonou também a OMS (só falta mesmo deixar a ONU) e tem vindo a alimentar uma guerra comercial com a República Popular da China – a qual terá sem dúvida graves repercussões na boa saúde da economia mundial, sendo evidente que a RPC, pela sua milenar cultura de paciência e de olhar o tempo a longo prazo, sairá vencedora do confronto. É uma cultura de «imperialismo silencioso», baseada na propaganda do “pacifismo” e da “amizade”, e cujo cenário se foca na necessidade de dar respostas a quase mil e quinhentos milhões de cidadãos que habitam o país considerado o meio do mundo. África e América Latina no centro desse esforço.  

Por outro lado, estamos na contingência de tentar perceber até onde irá o belicismo de Putin, escudado na busca do espaço vital da Rússia em permanente e intensa atividade para recuperar o protagonismo de tempos idos. Direi mesmo uma contingência iniludível, face às respostas que o regime tem dado sempre que há «movimentações» sociais em países próximos, como aconteceu na Geórgia e na Ucrânia, como agora sucede na Bielorússia – já não falando na intervenção na Síria.

Estamos na contingência imediata de perceber o que se está a passar no Médio Oriente, quando países árabes estendem as mãos e os negócios ao Estado de Israel – com uma atitude «discreta» dos rivais Irão e Arábia Saudita. Uma operação «abençoada» por Trump numa tentativa de ganhos internos em época de eleições…mas que não resolve o velho problema dos palestinianos. Tampouco dos israelitas, pois um depende do outro.

E o que dizer da contingência africana…sabendo-se da fragilidade intrínseca da UA perante o já mui antigo «assalto» de outras potências. Basta ler Nkrumah em «A Luta de Classes Em África» para perceber como se instalou o neocolonialismo, depois de um colonialismo secularmente vicioso que não permitiu uma estrutura social economicamente forte: “Permanece, portanto, uma burguesia compradora, tributária em grande escala dos interesses imperialistas em África. (…) O neocolonialismo, sob todas as formas, impediu o estabelecimento de uma independência real”. Por isso e apesar de outros «senhores» se apresentarem, permanece a «eterna dívida» das potências europeias.

Também por isso se percebe a contingência de uma União Europeia eternamente cheia de boas intenções mas falha de uma estratégia duradoura. Talvez não possa ser de outra forma quando ela própria tem hesitado e apenas dá pequenos passos «internamente». Tanto na crise financeira de há dez anos como neste conturbado tempo da pandemia da Covid-19 que nos conduz para um buraco económico imprevisível. Louve-se, por agora e finalmente, a ideia de um salário mínimo europeu.

Mas estamos em tempo de contingência. E de urgência! Na contingência de mais uma «vaga» da “SarsCov-2” e na urgência de uma vacina para debelar o mal que nos impede de levar uma vida normal. Se não percebermos isto…estaremos na contingência de nos perdermos. 


António Bondoso

Setembro de 2020.