2020-10-25

 

NOS 75 ANOS DA «ONU»…a “prenda” mais significativa seria o projeto de uma «nova ordem internacional», a qual exige uma rutura profunda com os paragdigmas do século XX. E para mudar o mundo é fundamental que o capitalismo selvagem e a globalização desumanizada, que geram a pobreza e a miséria, não possam ter lugar nessa NOI. 

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Como escrevia Adriano Moreira em 2009, “Entrámos numa época de tempo tríbulo, em que a sobrevivência dos conceitos clássicos do passado tende para puramente virtual; em que o presente não encontrou categorias racionalizantes do processo que por isso se desenha anárquico; em que o futuro está nimbado de incerteza, refractário a ser apreendido por uma futurologia confiável. 

             A ONU que hoje conhecemos, resultado da «Carta de São Francisco», de 26 de Junho de 1945, e que começaria a funcionar formalmente em Outubro seguinte, já não responde com eficácia aos problemas do nosso tempo. A “segurança” do planeta ainda é entendida, sobretudo, no que toca a conflitos armados em grande escala, esquecendo os novos desafios que se colocam nos campos da saúde e das oscilações climáticas. É verdade que as «guerras» se vão multiplicando. E já não há apenas uma “guerra fria” opondo particularmente dois «blocos». Após a implosão da URSS apareceu a hegemonia dos EUA – arvorados em “polícia do mundo” – mas depois a China foi avançando, primeiro economicamente mas sempre militarmente, enquanto os americanos, particularmente nesta última década, caminham para o isolacionismo, abdicando da intervenção em pontos cruciais do globo e do seu papel determinante em temas tão complexos quanto decisivos para o futuro da humanidade.

         Sendo certo que António Guterres, apesar de todas as dificuldades do mandato, conseguiu agilizar/reformar a arquitetura de paz e segurança para assegurar maior prevenção e mais eficácia e menos custos nas operações de manutenção da paz, também é verdade que as «grandes potências» que preenchem o CS não facilitaram a tarefa. Os EUA, sobretudo, menorizaram o papel da Organização – nomeadamente fechando as portas à UNESCO e à OMS, já para não falar do comportamento vergonhoso perante as questões do clima.  

Portanto, é imperioso criar uma Nova Ordem Internacional focada na justiça e na solidariedade…ou então poderemos assistir – agora sim – ao início do «Fim da História». Não o previsto há uns anos por Fukuyama, a propósito da implosão da URSS e do chamado Bloco de Leste, mas o fim das relações humanas tal como as conhecemos até há poucos meses. 

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Para isso, também, é fundamental o fortalecimento da União Europeia no sentido de impor a Alemanha a um Conselho de Segurança renovado e ampliado, provavelmente com a Índia, a África do Sul, a Austrália ou mesmo o Brasil. Neste caso, seria crucial que – finalmente – a CPLP soubesse enriquecer o seu potencial.

António Bondoso

25 de Outubro de 2020.


2020-10-21

O ESTREITO DE MAGALHÃES...foi uma passagem para um "outro mundo". Um mundo novo. 

Vitória ou Victória – assim era nomeada a nau que Fernão de Magalhães comandou na sua viagem de circum-navegação ao serviço do rei de Castela, tendo descoberto a passagem do Atlântico para o Pacífico em 21 de Outubro de 1520, muito a sul do continente americano, eternizando o seu nome e a sua ideia de chegar ao berço das «especiarias» por Ocidente.

Foto de Ant. Bondoso

         Ao falar do feito e da nau Victória, são trazidos à minha memória outros dois navios emblemáticos: o chileno BAQUEDANO e o português SAGRES, ambos navios-escola. O nosso ainda navega – e só a «pandemia» o impediu de completar a viagem de Magalhães – enquanto o Baquedano foi descartado da sua função talvez em finais dos anos 30 do século passado. Não encontrei a data segura, mas sabe-se que o autor do livro O ÚLTIMO VELEIRO ou O Último Grumete da Baquedano – Francisco Coloane – venceu um concurso literário com esta obra em 1941.

          De Francisco Coloane, natural de Quemchi – Chiloé – no sul do país e filho de um marinheiro, sou leitor incondicional e com ele tive o prazer de conversar telefonicamente há mais de 20 anos, juntamente com a minha camarada da Rádio Macau Joyce Pina. «O Último Veleiro» foi escrito para homenagear a última viagem do navio-escola BAQUEDANO até ao cabo Horn.  

         Coloane, que Luís Sepúlveda* (cuja escrita me cativou desde o início) considera o seu mestre na arte de contar, foi jornalista e um dos maiores escritores chilenos, deixando-nos outras obras como Terra do Fogo, Terra do Esquecimento, A Voz do Vento, Cabo Hornos ou O Caminho da Baleia – as quais retratam de forma vigorosa a geografia social e humana das longínquas terras e mares por onde navegou Magalhães para chegar ao outro lado do mundo, antes de ser morto em Cebu, uma das inúmeras ilhas das Filipinas.

         Neste «O Último Veleiro», no capítulo “De Punta Arenas Até La Tumba Del Diablo”, Coloane descreve uma viagem em sentido inverso ao de Magalhães, dizendo que a Baquedano “…deu a volta ao cabo Froward, abrupta extremidade que assinala o fim da parte continental do Novo Mundo e, passado o Farol San Isidro, numa manhã de Inverno, avistou a bonita cidade de Punta Arenas, com quarenta mil habitantes, situada nas margens do estreito de Magalhães, frente à lendária ilha da Terra do Fogo. (…) A cidade, reclinada no sopé da península de Brunswick, surgiu completamente branca de neve, como se fosse uma fantástica metrópole de mármore».

         Como sabe bem «viajar»! Apesar da “pandemia”, aproveitemos esta efeméride marcante de «Magalhães» e deixemo-nos levar. Como tenho saudades de olhar e de ver os barcos a navegar nos oceanos da alma. Como tenho saudades de ver os aviões de papel a serpentear por entre os dedos do coração. E quando (ou se) não puder viajar…leia, leia muito. 


Apenas uma última nota para lembrar que devemos reter, por exemplo, o facto de que a descoberta do «Estreito de Magalhães» permitiu acrescentar aproximadamente 60% ao mundo até então conhecido, confirmando a condição esférica do nosso planeta e oferecendo à humanidade um até então desconhecido “Planeta Oceano”. O estreito tem 600 quilómetros de comprimento e 2 de largura na sua parte mais estreita.

 

* LUÍS SEPÚLVEDA foi um perfeito retratista do Chile dos anos 70 do século XX e, mesmo exilado na Europa, nunca deixou de «pintar» criticamente a atualidade do seu país em tempos recentes. Gosto de o ler, a sua escrita apaixona-me. Transporta-me para o sul do sul, para a Patagónia, para Atacama, para o estreito de Magalhães, para a liberdade de uma vida simples num ambiente saudável, para a justiça do pensamento livre.


António Bondoso

21 de Outubro de 2020. 





 

2020-10-19

MOIMENTA DA BEIRA E A NOVA REVOLUÇÃO DO TABOLADO…ou de como o Povo de Moimenta se deixa «render», quer à renovação das tradições, quer à transformação e ao desenvolvimento. Desenvolvimento entendido como fator de progresso sustentável. 


Foto de Ant. Bondoso

Há sete anos, por ocasião da posse de José Eduardo Ferreira para o seu 2º mandato como Presidente do Município Moimentense, escrevi um pequeno texto com base nas linhas orientadoras por ele traçadas para definir a ação dos anos seguintes. 


Foto de Ant. Bondoso

E recordo por exemplo «Humildade, solidariedade e confiança» como imagens que marcaram o discurso de posse, reservando alguma dureza – os tempos eram outros – para o governo da República de então. E disse José Eduardo Ferreira: «Em tempos de dificuldades e de exigência, não só financeiras, o Estado está a retirar-se de uma parte considerável do país».

         Apesar de ter havido uma significativa inversão em 2015, o Estado não deixou de “retirar” das chamadas regiões de baixa densidade, aumentando serviços – por outro lado – e sem a correspondente atribuição de verbas.

         Apesar de tudo isso, o Presidente da Câmara de Moimenta da Beira não deixou de olhar para o futuro – particularmente da «Vila» - observando com pena o não «cumprimento» de velhas reivindicações essenciais ao desenvolvimento da região, como a questão do “regadio” que é fundamental para a produção da maçã, imagem de marca incontornável. 


Foto de Ant. Bondoso

De um outro ponto de vista, é de notar o avanço das obras de transformação e renovação do Jardim do Tabolado, nomeado como Largo do General Humberto Delgado – um dos espaços mais nobres da vila. Diz o projeto que «A intervenção, no âmbito da regeneração urbana, vai ainda permitir uma maior e melhor interligação entre os diferentes espaços que compõem a área de reabilitação, designadamente entre a ampla praça existente em frente ao edifício da Câmara Municipal e os seus espaços laterais, tornando-os, no seu conjunto, numa área urbanística física e visualmente contínua mais agradável e propícia a momentos de sociabilização e convívio». Para além, claro, da mobilidade pedonal.

Fig do Projeto de Renovação Urbana da CM de Moimenta da Beira.

         Sabe-se que a transformação urbana foi sempre rodeada de polémica, de críticas – como sinal de resistência à mudança, próprio da condição humana. Mesmo percebendo que o avanço é inevitável e que nada é imutável. E o «espaço» em referência já sofreu várias intervenções ao longo de um século. Se eu me recordo…outros bem mais antigos do que eu terão na memória todas as transformações.

António Bondoso

Outubro de 2020.

Nota: - se estiver interessado em consultar o meu texto de há 7 anos, pode aceder ao link:

https://moimentananet.blogspot.com/2013/10/o-povo-de-moimenta-da-beira-nao-se.html 

OU EM 

https://palavrasemviagem.blogspot.com/2013/10/o-povo-de-moimenta-nao-se-pode-render.html