2009-05-03

MEMÓRIA E FRAQUEZAS !

SÓ OS FORTES SÃO CAPAZES DE PERDOAR...

A FRAQUEZA É IGNORANTE E NÃO GUARDA RESPEITO À MEMÓRIA !

Um sublinhado que me entristece pelos motivos. Um simples vício de estar atento às notícias, particularmente de ler jornais - agora, maravilhosa e comodamente pela net - colocaram-me ao alcance dos olhos uma breve notícia postada no sítio do Jornal de Notícias :- RUAS DE MOÇAMBIQUE PERDEM NOMES COLONIAIS.

Não é que seja um assunto novo e preocupante... não chega sequer a ser um "assunto" !
De facto, não vejo qualquer problema na substituição dos nomes do tempo colonial. Em vez de termos uma Rua do Alentejo - que não diz absolutamente nada aos africanos - é bom que haja uma rua com o nome de Ngungunhana. Uma "africanização" natural. Como não deixa de ser continuarmos a ver nomes como Lenine, Karl Marx ou Mao Tse Tung.

Como não deixa de ser natural, em Portugal, continuarmos a pronunciar nomes como Avenida do Brasil, Rua de S.Tomé, Rua de Angola...

Como não deixa de ser natural, na Nigéria, a cidade de Lagos continuar a chamar-se "Lagos" - exactamente o nome original que lhe foi dado pelos portugueses na "aventura" das descobertas. Ou, então, continuar a ouvir chamar Camarões ao país ali ao lado da Nigéria - exactamente o nome que os portugueses atribuíram ao rio que ali acharam.

Apenas peguei no "assunto", pela simples razão de que - nos últimos dias - muito se falou de "memória", a propósito dos 35 anos do encerramento do campo do Tarrafal, de má memória!

Mário Soares, Pedro Pires, Fernando Rosas... disseram de sua justiça, condenando o regime colonialista e repressivo de antes do 25 de Abril de 1974.

O actual Presidente de Cabo Verde, Pedro Pires, disse mesmo "ser necessário, num acto de memória, revisitar a história da África de forma descomplexada e despida de apologias justificantes"!

Uma preocupação avisada de Pedro Pires, já que a história do seu país não começou apenas na data da independência!

Só não cheguei a "perceber" Pedro Pires, quando ele se refere a "distorções a corrigir" e que - para os africanos - "é crucial repensar a sua história, devendo usar a sua própria lente: olhar para nós mesmos, com a nossa própria visão da História e do Mundo. Há que ver o nosso percurso histórico, as nossas forças e fraquezas, através da nossa percepção de nós mesmos e não recorrer à percepção dos outros, mesmo que sejam as mais eruditas"! (?)...

Teria sido interessante que Pedro Pires concretizasse quem distorceu o quê, quando, como e porquê...e com que interesse(s)!

E agora, a propósito do perdão dos fortes (e ainda da memória e do respeito que lhe é devido!), não resisto a citar um brilhante trabalho do Expresso sobre as causas e os efeitos do Presídio do Tarrafal.

Um dos textos, publicados na edição do 25 de Abril, refere mensagens dos irmãos angolanos Pinto de Andrade ( Vicente e Justino) dirigidas a Eduardo Fontes - o último director do campo.
"Diga-lhe, por favor, que não guardo nenhum ressentimento contra ele"... "não guardo qualquer rancor ou sentimento negativo para com ele"... "no fundo, o regime de então condicionou-nos a todos"!


1 comentário:

platao disse...

Gostei de ler o apelo à memória. E, como António Bondoso, faço coro nas interrogações que também me provocam as referências de Pedro Pires às distorções a corrigir sobre a História do seu país. Bom, naturalmente que compreendo que o povo caboverdiano, tal como outro qualquer, deva "usar a sua própria lente" para "ter a sua própria visão da História e do Mundo". Fica-lhe bem. Sem esquecer que as realidades que compõem todo o fenómeno histórico não se compadecem com as interpretações que cada um entende dar em cada momento. Ou em cada vento dessa História.
Sobre Cabo Verde ou qualquer outro país do mundo, são imensas as abordagens, é muita e diversificada consoante os interesses, a construção da memória. Para, no final, ninguém poder ser dono da História.

Helder Fernando