MACAU !
FOI HÁ 10 ANOS... PASSAM 10 ANOS... COMPLETAM-SE 10 ANOS...
Um número, uma efeméride, um "balanço"! À boa maneira portuguesa, faz-se sempre um balanço de qualquer acontecimento, de uma qualquer situação - por mais insignificante que possa ser. 10 dias, um mês, 6 meses, 1 ano, 5 anos, 10 anos!
Contudo, Macau não é um acontecimento qualquer. Merecedor das atenções portuguesas apenas depois do 25 de Abril de 1974 - sobretudo quanto à sua modernização - o território no qual permanecemos 400 anos nunca deixou indiferente quem lá viveu.
Por isso, também eu tenho feito o meu balanço. Não como jornalista, apenas ou sobretudo. Particularmente como cidadão do mundo que, por acaso, um dia foi viver e trabalhar em Macau.
E durante seis anos acompanhou o processo de transição. Doloroso para uns, oportunidade para outros. Oportunidade para estes, de ver crescer os seus interesses - sem perceber exactamente a importância dos acontecimentos. Aproveitando a dor, a inquietação, o dilema de alguns milhares - distribuíam críticas a torto e a direito, sobretudo aos responsáveis pelo processo, aos governantes na República e no Território.
Não deixa de ser curioso notar a incongruência dos "argumentos". Cedemos muito, era preciso mostrar mais firmeza. Talvez na memória desses outros ainda o trauma da inevitabilidade da descolonização africana ! Que não podíamos contornar... nem controlar, nas circunstâncias do tempo em que se deu. Apenas "Peões de Brega" no contexto da Guerra Fria, nem dos nossos "aliados" podíamos receber mais ajuda. A qual, no fundo, era quase nada! Inevitável, portanto, uma descolonização fora de tempo. Tal como havia sido já a tragédia do "Estado da Índia" em 1961.
E quando falo em "curioso" - quero apenas salientar a incongruência de quem criticou o que se poderá chamar de "teimosia" de Salazar, na altura. Que quis resistir, com firmeza, sem condições objectivas para o fazer. Os mesmos, ou outros com idêntica deformação, não se coibiram de criticar os governantes do novo regime português - exactamente por ausência dessa mesma teimosia relativamente a Macau.
O habitual atavismo português, a habitual conversa de café, a habitual ausência da procura do conhecimento, a tradicional incompetência de uns quantos - destinados a morrer na ignorância.
Como aquele senhor educador de infância que, para um banal texto de "balanço" elaborado para o jornal Público por Francisca Gorjão Henriques e Daniel Rocha [que viajaram a convite da Fundação Oriente], referiu : - "por vontade do sr. Rocha Vieira tinha-se embalado tudo, e o último a sair que feche a porta e apague a luz". Pedro Ascensão trocou, entretanto, o ensino pela propriedade de um bar em Macau, onde chegou em 1994.
O texto (com origem nos "olhos" e nos "ouvidos" daqueles jornalistas do Público) até é merecedor de uma análise positiva da minha parte. Mas não é mais do que uma peça jornalística. Eventualmente como outras de igual forma recomendáveis. Falta-lhe, contudo, a componente científica. Provavelmente também não seria essa a intenção de quem os "enviou" - agora que a profissão é dominada pela vertigem e pela obsessão do "vender"!
A proximidade proporcionada pela "net" torna tudo mais fácil. E Macau - apenas um ponto lá longe - não deixa de ser, para mim, um ponto permanente no qual ainda pulsam amigos e conhecidos. Especialmente para eles, apenas mais este "ponto":
CONTENTOR
Apenas um ponto
Longe, ansiosamente distante
Mas ainda assim o centro
Das belas imagens
Que marcaram o oriental capítulo do meu império imaginário.
Macau
O rio e as ilhas
Pérolas brilhantes da memória dos amigos que resguardo
Respeito e respiro
Sinto e vivo em cada lembrança que me chega.
Não foi Camões que me prendeu
Nem a sua virtual Dinamene
Foi mais a força do insenso e do ópio brutal de Pessanha
Como às Portas de um Cerco à espera.
Do seu túmulo se elevam em espiral
Não me deixam levianamente levantar ferro
Ancorado como estou nas amarras de um porto interior
Do qual vi partir o contentor
Fiel depósito dos amores que me rodeiam
Serenam e protegem quando tudo é angústia à minha volta.
------------- A.Bondoso, 2009.
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