À VOLTA DE MIM E DO MUNDO...
CENTENÁRIO...OU UM RECONHECIMENTO MERECIDO!
Esta efeméride coloca em destaque a vida e a obra de um
dos grandes – mas quase desconhecidos – símbolos da aventura portuguesa no
Oriente.
Saído de Freixo-de-Espada-à-Cinta, onde nasceu em 1912,
Monsenhor Manuel Teixeira chegou a Macau em 1924 – onde viria a receber o nome
de “Man Pak Chin”, o que significa mais ou menos a origem da sabedoria e da
virtude.
De facto, esta “personalidade espantosa” – no dizer da
investigadora Celina Veiga de Oliveira – legou às gerações futuras uma
impressionante, incontornável e preciosíssima obra sobre a presença portuguesa
no Oriente e da qual os portugueses fazem, porventura, apenas uma muito pálida
ideia.
O professor e editor António Aresta, que também o
conheceu em Macau, referiu-me há uns anos cerca de 130 títulos – alguns dos
quais traduzidos em inglês e em chinês. Uma obra que classifica de vital
importância, pois que – se não fosse o trabalho persistente e metódico de Mons.
Manuel Teixeira na investigação, classificação e publicação – boa parte da
documentação sobre a nossa presença no Oriente ter-se-ia perdido. Daí, a
necessidade urgente de serem reeditadas algumas das suas obras fundamentais,
como por ex a “Toponímia de Macau” –
cujo manuscrito data do início da década de 1970 mas que só viria a ser
publicado (em dois volumes) em 1979.
Rejeitado pela “censura” do governador de então e perdido
em Portugal no esquecimento das motivações do pós-25 de Abril, o manuscrito
viria a ser recuperado pelo interesse e pelas diligências de uma sua velha
amiga de Macau – a professora e escritora Ana Maria Amaro. A censura da obra,
disse-me o próprio durante uma entrevista efectuada já depois do seu regresso a
Portugal e já muito próximo do seu 90º aniversário, teve origem na simplicidade
de um nome de rua: “Rua do Ópio”, de acordo com as autoridades de então,
contaria uma história impublicável, eventualmente à semelhança por ex da Rua da
Felicidade. Monsenhor Manuel Teixeira opôs-se determinantemente ao corte do
respectivo capítulo: - “Nem uma vírgula. São factos, não se podem apagar da
história”. Decidiu, então, enviar o manuscrito para Lisboa, onde viria a cair
no esquecimento da “ditadura” e, depois, no turbilhão da revolução que se
seguiu ao golpe militar do 25 de Abril de 1974.
Nessa entrevista para a Antena 1 da RDP (transmitida no programa Nós e Os Outros, mais
tarde cortado da grelha no “consulado Marinho”) e da qual retiro todas as
ideias fundamentais do presente texto, Mons. Manuel Teixeira recordou ter chegado
ainda a “pregar” em língua chinesa e mencionou figuras e locais que o marcaram.
Nomeadamente Carlos Assunção – seu aluno “muito inteligente” e a quem ensinou
Latim; o “poeta insubstituível” Adé dos Santos Ferreira; ou o seu “irrequieto”
aluno Carlos Marreiros, já nessa época um génio da caricatura.
E seguiu dizendo que os portugueses deixaram uma marca
muito forte no Oriente, sobretudo conquistando a amizade dos povos – atitude
particularmente devida à acção dos missionários. Não só em Macau e em Malaca
mas também na Coreia (onde participou no “Paralelo 38” em cerimónias em honra
de N. Sª de Fátima, a 13 de Maio) e na China, onde destaca o trabalho do Padre Jesuíta
Mateus Ricci, italiano de origem (Matteo Ricci) que estudou em Coimbra e
aprendeu a língua portuguesa para melhor se integrar na vivência de Goa em
finais do séc. XVI. Dizem escritos e Manuel Teixeira corrobora, que Ricci foi
depois chamado a Macau para estudar a língua chinesa com o objectivo de
missionar na China, onde a religião católica enfrentava enorme resistência.
“Conquistou os mandarins pela ciência” – diz Manuel
Teixeira. Para além de Humanidades, Ricci partilhava conhecimentos de
Matemática e de Astronomia, tendo morrido em Pequim em 1610. “E só não foi
canonizado”, acrescenta, pelas críticas que erradamente lhe dirigiram. Ricci
foi acusado de ensinar ciência em vez de pregar o evangelho!
Outra “canonização” falhada, mas por motivos diversos,
foi a do Padre Adroaldo Coroado, natural de Vilarandelo – concelho de Valpaços
– que chegou a Macau em finais do séc. XIX e cedo partiu para Malaca onde
passou o resto da sua vida “fazendo o bem sem olhar a quem”. Aí, durante a IIª
Guerra Mundial, conta Manuel Teixeira, era comum ouvir-se rádio para saber as
últimas notícias. O padre Coroado e outros clérigos, traídos por um
“malaqueiro” de nome Bates, foram presos e torturados pelo japoneses. Após a
sua morte, os católicos de Malaca quiseram avançar com o processo da
canonização, mas – infelizmente – faltou o dinheiro.
Durante a sua permanência em Macau, Monsenhor Manuel
Teixeira ficou ainda conhecido como o “casamenteiro” de todos os japoneses. De
tal forma que, estando já em Portugal, foi procurado na Casa de Santa Marta, em
Chaves, por uma jovem de nome Mioko. Pretendia casar-se com Yoko e vinha pedir
a Monsenhor para se deslocar ao Japão. Mas a sua saúde já não o permitiu.
E foi na Casa de Santa Marta, em Chaves, que Monsenhor
Manuel Teixeira viveu os últimos dias da sua longa peregrinação pelo oriente
deste mundo: - Macau, Malaca, Singapura, Coreia, China e Japão. De certa forma
desgostoso por não ter cumprido o seu desejo/promessa de morrer em Macau. --- AB. Maio 2012.
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