À VOLTA DE MIM E DO MUNDO...
...OU COMO SE “JOGA” À POLÍTICA EM S.TOMÉ E PRÍNCIPE!
Danilo SalvaterraQual a estratégia de S.Tomé e Príncipe.?
Fonte Africa Confidencial. » Pinto da Costa, Presidente de S. Tomé e Príncipe,
manifesta-se desapontado por não ter sido previamente posto ao corrente de
medidas do Governo que por serem de natureza diplomática e implicarem questões
consideradas “delicadas”, teriam obrigado a isso, conforme disposição constitucional.
Foram os casos do reconhecimento da independência do Kosovo e da integração do
Sara Ocidental em Marrocos. Em meios políticos conjectura-se que ambas as
medidas foram impulsionadas por contrapartidas em termos de investimentos.
Este post de Danilo Salvaterra no FB, há um par de dias, avivou-me a
atenção para outras notícias recentes com origem no arquipélago africano do
Equador. Se bem se recordam, o Irão anunciou há dias a intenção de oferecer a
STP 50 milhões de USD, como moeda de troca pelo apoio do país nas votações da
ONU. Ao que parece, para investimentos “prioritários” – nomeadamente na
Educação. Não é uma situação inédita
na política externa sãotomense, já que – no tempo da Presidência de Miguel
Trovoada (pai do actual 1ºMinistro Patrice) – o país decidiu ir procurar
“dinheiro vivo” em Taiwan, exactamente a troco de alinhamento diplomático nas
NU, abandonando a relação antiga com a República Popular da China, uma postura
que se mantem até hoje. Apesar de tentativas discretas no sentido de uma
reaproximação – nomeadamente através da diplomacia angolana e da não
hostilização por parte do Fórum de cooperação entre a China e os países da
CPLP, com sede em Macau.
Agora, aparecem estes casos
do Kosovo e do Sahara Ocidental. Se neste último se pode perceber a eventual influência
de Marrocos e da UA, já no caso do Kosovo é muito difícil descortinar que tipo
de contrapartidas. Embora com “reconhecimento” internacional, o Kosovo é ainda
uma peça muito mal “encaixada” no mapa da região, com recursos próprios
limitados e dependendo de ajuda internacional – concretamente da UE. Quem
prometeu o quê? Será preciso alargar o estipulado nos Acordos de Cotonou e no
NEPAD?
Qual a estratégia de S.Tomé
e Príncipe ? – pergunta Danilo Salvaterra. Ao que parece, com legítimas
interrogações, a resposta poderá enquadrar-se numa política externa de
zigue-zagues, sem orientação definida, sem rumo de futuro, sem uma visão
estruturante e consolidada. Apenas por ser um pequeno país? Não é razão
suficiente. Independentemente da sua dimensão, um pequeno país pode afirmar-se
na cena internacional com verticalidade. O que é necessário é arrumar a casa
primeiro! Ganhar credibilidade. E para isso, há que tomar posições difíceis e
definir opções de alinhamento. O “imediatismo” não é garantia de futuro
assegurado. Arrumar a casa também passa
pela cultura, pela educação, pela afirmação cívica e pelo empenho de cidadania.
É de todo este esforço que pode nascer uma nova geração de políticos, capazes
de implementar novas políticas.
Num sistema semi-parlamentar
ou semi-presidencial, independentemente do que estiver estabelecido na Lei
Fundamental (em STP há responsabilidades partilhadas, particularmente nas áreas
da Defesa e da Política Externa), há que ter o bom senso de – pelo diálogo –
conseguir consensos alargados que possam representar estabilidade.
Naquela nota de Danilo
Salvaterra, nem se percebe diálogo nem se vê funcionamento institucional
normal. O que, volto a dizer, não é uma situação inédita. Aos abusos e ao
unanimismo forçado do tempo do partido único, sucedeu uma natural explosão de
liberdade de pensamento e de expressão que – por força de “ambiguidades”
constitucionais e de tradição presidencialista africana – cedo conduziu a um
clima de conflito quase permanente entre os diversos actores políticos. E que
se mantém perfeitamente actual.
No dia 3 de Junho, ao passar os olhos pela edição online do jornal Téla Nón deparei-me com este título: “Nota de protesto nº 354 do
Gabinete de Pinto da Costa evitou que a TVS mais uma vez amordaçasse o Chefe de
Estado”.
A notícia/artigo de opinião, assinada por Abel Veiga, tem
a ver com o tratamento jornalístico dado pela TVS às actividades do PR, Pinto
da Costa, no caso concreto à ausência de cobertura da comunicação final a propósito
da chamada “Presidência Directa” sobre o sector da Justiça no país, como segue
escrevendo o Téla Nón:
Numa
nota de protesto emitida no dia 1 de Junho e endereçada ao Director da
Televisão São-tomense, o Gabinete do Presidente da República, diz que o órgão
de soberania nacional «registou
de forma estupefacta, incrédula, e inadmissível, o tratamento jornalístico
reservado a mensagem de encerramento das Jornadas da Presidência Directa no
Sector da Justiça, realizada por sua excelência o Presidente da República, de
forma solene, no salão nobre do Palácio do Povo, como se de assuntos correntes
se tratasse», refere a nota de protesto número 354 do Gabinete
de Pinto da Costa.
Aqui, é o jornalismo e a liberdade de informação a
cruzar-se com a política. Em primeiro lugar, uma Lei de Imprensa (pelos vistos
ainda não existe uma específica para a Rádio e para a TV) elaborada pelos
partidos e aprovada pelos deputados. Foram os jornalistas consultados? Se
foram, mostraram-se incapazes de perceber a especificidade da TV e da
Rádio. Como se perceberá mais adiante, as actividades da dita
Presidência Directa foram acompanhadas em termos noticiosos. Independentemente
das razões de legalidade colocadas pelo PR, penso (como jornalista) não ser
exigível uma transmissão na íntegra do balanço final. A não ser que o sector da
Justiça apresentasse gravíssimos problemas que pusessem em causa o normal
funcionamento das instituições. Há que saber separar informação de propaganda.
Mas, pelos vistos, a emenda terá sido pior que o soneto: - A nota
do Gabinete de Pinto da Costa, exigiu que a comunicação do Presidente da
República, fosse reposta no telejornal do dia 1 de Junho «na íntegra e com o devido relevo,
conforme o ponto 2 do artigo 26º da lei de imprensa em vigor na República Democrática
de São Tomé e Príncipe».
E foi. De uma forma muito sui generis: O protesto do Gabinete
de Pinto da Costa, terá ecoado forte nos corredores e gabinetes da TVS, ao
ponto de um jornalista da casa ter entrado nos estúdios no dia 2 de Junho,
desta vez como pivôt de um bloco especial, em que foram divulgadas todas as
visitas do Chefe de Estado aos diferentes órgãos do aparelho judiciário, e no
fim do bloco especial, foi novamente transmitida a comunicação de Pinto da
Costa à nação.
O exagero também é irresponsável, por muito que os
jornalistas da TVS tenham vindo a sofrer pressões das chefias, da direcção ou
do governo. O que não deixará de ser verdade, tendo em conta o que se passou há
tempos com a jornalista Conceição Lima.
Concluindo, o que pretendo dizer aos meus camaradas
sãotomenses é que devem estar munidos de instrumentos que possam evitar a
tentação de pressionar e de instrumentalizar. Formação e organização de classe
que os possa conduzir a levar os políticos (deputados) à elaboração de uma nova
Lei de Imprensa e, se possível, a uma Lei da Rádio e a uma Lei da Televisão.
Aos políticos, direi que não adianta pressionar. Miguel
Relvas em Portugal saíu mal na fotografia e já antes tinha acontecido com
Sócrates e outros. Façam o vosso trabalho e deixem os jornalistas trabalhar.
Deixo também o registo ao Director da TVS: - o que o impede de apresentar a sua
demissão, depois de ter sido desautorizado da forma que foi ?
É o "feitiço" das Ilhas do Meio do Mundo...
António Bondoso, 8 de
Junho 2012.
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