A guerra, qualquer guerra, deixa marcas profundas.
Recuperáveis a médio e longo prazos no aspecto material, mas dificilmente
ultrapassáveis no íntimo psicológico dos actores – sobretudo daqueles em que as
“marcas” persistem, quase não havendo fronteira entre os problemas físicos e os
psíquicos. É o que se designou chamar de “Stress Pós-Traumático de Guerra”,
assunto que vai merecer hoje destaque em Moimenta da Beira, por iniciativa da
Delegação de Tondela da Associação Nacional dos Combatentes do Ultramar.
As guerras, todas as guerras, sejam elas nomeadas como “justas”
ou “necessárias” – designação impossível por oposição à sempre injusta violência
e aos seus efeitos – são igualmente imorais. E como escreve Tim O’Brian, em As Coisas Que Levavam os Homens Que Lutavam,
“se uma história de guerra parece moral, não acreditem nela”. É uma citação com
que Arturo Pérez-Reverte, jornalista da TVE, abre o seu livro Território Comanche, sobre a guerra da
Bósnia: “(...) As bombas levantam pó, cascalho e metralha, e depois matam-te e
ficas como aquele soldado croata, completamente só, na valeta da estrada, junto
da ponte de Bijelo Polje. Porque os mortos, além de parados, estão sós, e não
há nada tão só como um morto”.
Mas quem tem a “sorte” de não ser atingido...e “apenas”
vê morrer ou sente a impotência de salvar a vida de um camarada, ou apresenta ausência
de reacção no sentido de poder ajudar o estropiado a seu lado, nunca mais
ficará só. Poderá ficar com deficiências físicas ou não...mas no seu interior
haverá sempre – mais ou menos evidente, consoante os casos – uma máquina de
filmar que rebobina e projecta as imagens de pânico, ânsia, terror, medo,
impotência. Por vezes até, sentimentos de culpa por vivo permanecer. Nunca mais
estará só, tal como o seu comportamento afectará igualmente familiares e amigos
chegados. É sobretudo destas questões que se vai falar hoje em Moimenta da
Beira, concelho que também contribuiu com a sua percela de vítimas durante a
Guerra do Ultramar, para uns, Guerra Colonial para outros, ainda Guerra da
Independência para o “outro”.
Designações que o antigo regime português foi incapaz de ultrapassar no sentido político, preferindo dar razão ao general prussiano Karl von Clausewitz – quando este dizia que “a guerra não é meramente um acto político, mas sim um autêntico instrumento político, uma continuação da actividade política, uma realização da mesma utilizando meios diferentes”. Nestes casos, ou não houve diplomacia, ou a diplomacia falhou, ou a diplomacia se prolongou demasiado no tempo, incapaz de matar a guerra no tempo certo.
Designações que o antigo regime português foi incapaz de ultrapassar no sentido político, preferindo dar razão ao general prussiano Karl von Clausewitz – quando este dizia que “a guerra não é meramente um acto político, mas sim um autêntico instrumento político, uma continuação da actividade política, uma realização da mesma utilizando meios diferentes”. Nestes casos, ou não houve diplomacia, ou a diplomacia falhou, ou a diplomacia se prolongou demasiado no tempo, incapaz de matar a guerra no tempo certo.
E os resultados, independentemente de quem vence – se realmente
existem vencedores – são sempre problemáticos, trágicos e de difícil solução.
Mas é fundamental discuti-los sem tabus e sem culpas.
(NOTA:--- Fotos do Autor (1,4,6) e retiradas da pg.7 do jornal Terras do Demo, de 25 de Outubro 2012, com a designação de Publicidade).
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