ENTRE ESTAÇÕES – UM CAMINHO PARA O
SUL E PARA O MAR…por onde também passou o almirante
Sarmento Rodrigues.
Caminhada
até às Devezas. Alfa Pendular. Santa Apolónia, Metro, Cais do Sodré. E o rio e
o mar ali tão perto! Belém a olhar o oceano e o Tejo…e o novo museu – o MAAT –
ainda em fase de acabamento. Parabéns à EDP por levar novas ideias junto à
água. E a chuva, não tão inesperada quanto isso, mas suficiente para ensopar os
sapatos e fazer muita gente recolher à pala do Maat. Depois o Museu da Marinha,
ali tão próximo dos Jerónimos e do Palácio Presidencial – onde a guarda é da
responsabilidade da GNR mas, à cautela e não vá o diabo tecê-las, mesmo na esquina
está instalada uma esquadra da PSP. Volto ao Museu da Marinha – onde a história
se confunde com o espírito do povo: aventura além do mar para saber se havia
outros, como seriam e qual a sua história, a qual passou a ser partilhada para
o mal e para o bem. Na loja do museu, paredes meias com o pavilhão das
Galeotas, uma mesa de café mostrou-me a planta do porto da cidade cabo-verdiana
da Praia, na qual descobri o ilhéu de Santa Maria e a praia Virgínia…quase
junto à Ponta Temerosa.
Na
loja estava lá quase a história toda e foi ali que me chegou às mãos o livro
sobre Sarmento Rodrigues – um tributo à grande figura da Marinha por ocasião do
centenário do seu nascimento em Freixo de Espada à Cinta no ano de 1899. Uma
reposição, embora com novos testemunhos, mas ainda e sempre a estatura do
igualmente transmontano Adriano Moreira, do alto da sua competência e lucidez
com 94 anos, a lembrar que Sarmento Rodrigues terá sido como que um cidadão
romano da República Portuguesa. E desfiou memórias sobre o percurso do
homenageado mais uma vez: teve a humildade de ter aceitado o cargo de
governador-geral de Moçambique, depois de já ter sido Ministro do Ultramar; foi
o primeiro que, por escrito, apresentou um projeto para reformar toda a administração
ultramarina; viu longe o que estava a mudar e defendeu a mudança num espírito
de diálogo e de compreensão. Adriano Moreira voltou a destacar o forte culto da
amizade que ia para além das divergências políticas ou ideológicas. Quando
Sarmento Rodrigues foi preso, na sequência das contradições do PREC – depois do
25 de Abril – Raúl Rego, socialista e laico, foi dos primeiros a visitá-lo. E
há igualmente essa amizade antiga com Norberto Lopes que viria a ser embaixador
em Moscovo. É ele que conta, no livro em apreço, uma estória corroborada por
Adriano Moreira e que envolveu Oliveira Salazar numa sessão de despacho: dizia
Sarmento Rodrigues ao então Presidente do Conselho de Ministros que gastava
muito tempo a escrever textos para palestras para as quais era convidado
frequentemente, em prejuízo de outras atividades. Ao que Salazar retorquiu com
ironia, porque não encarrega alguém de lhe fazer os discursos? Resposta pronta
de Sarmento Rodrigues, sem azedume mas sem subserviência – o senhor Presidente
podia dizer-me quem lhe faz os seus? Talvez possa encarregá-lo de escrever os
meus.
Sarmento Rodrigues, marinheiro,
académico e político – era situado por Marcelo Caetano à esquerda do antigo
regime. Mais uma vez lembrado no Museu da Marinha, em Lisboa, na presença de
familiares e amigos – de Freixo de Espada à Cinta a vários cantos do mundo onde
se fala em português.
António Bondoso
Outubro de 2016.
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