2024-05-29

 

 HÁ UMA CERTA POESIA DE PONTOS FINAIS NESTE MEU ESPAÇO “UM LIVRO DE VEZ EM QUANDO”. E não é apenas mais um livro…este em que a Rosa Maria Ribeiro nos apresenta os “Filhos Duma Casa Vazia”, num tempo em que os «dias são tortos» e à autora «não apetece falar de amor». Rosa Maria subiu à montanha e chegou ao topo!


                                                                      Rosa Maria Ribeiro

Estamos perante Um livro de poesia particular, peculiar – a que a Rosa Maria já nos habituou – com um «discurso poético» que permite a vivência de dois estilos diferentes: por um lado uma prosa corrida poeticamente elaborada e, por outro, uma «tradicional» forma de poesia livre. António Vilhena, que prefacia a obra, diz que “Gostar da poesia de Rosa é acreditar que «não há chão bravio que não acolha a semente». E sugere a quem quiser ler estes Filhos Duma Casa Vazia que o faça, ou possa fazer, “como uma anamnese projectiva e sentir a casa vazia dos filhos ou o seu contrário”. É que, digo eu em certo sentido, os «filhos» também podem ser os Amigos, como são igualmente estes «Poemas» que a autora nos oferece numa bandeja de lamentos, de silêncios, de dúvidas…mas ainda com horizontes. Tudo isso, cada um descobrirá por si.


         O que eu posso dizer, na modestíssima opinião de quem vai conseguindo entrelaçar as palavras simples, é que a poesia de Rosa Maria Ribeiro tem como que uma dimensão linear, pontuada, soluçada – porque também sofrida, amargurada, por vezes mesmo zangada.

         São poemas de muitos pontos finais, querendo acentuar – porventura – a afirmação de cada palavra, de cada frase, de cada verso. E nada como no início para logo habituar o leitor: “há um sol onde se abrem as flores./ ainda que cinzentos os dias./ ainda que tristes as mãos./ e uma luz que se acende./ ainda que os olhos cansados se fechem./ esquecidos de amanhecer.”. Por consequência, quando se dizem os poemas em voz alta, tudo resulta numa dimensão de grande força interior, naturalmente projetada para quem sabe escutar os poetas.


Contudo, o que sei eu de Poesia e de Poetas?

         Mas Rosa Maria Ribeiro sabe. E diz «saber o nome da vontade»: “letra a letra. e soletrá-lo sem medo.”.

         Para além de muitos outros já publicados, os próximos livros estão aí. Sei por exemplo que já está em pré-venda O MISTERIOSO CASO DAS FLORES MÁGICAS, o avanço na experiência da literatura para crianças. A chancela é igualmente da «ArteLogy», com o apoio de “Poesia Fã Clube”.

Um abraço sentido do

António Bondoso

Maio de 2024.

2024-04-21

 HÁ LIVROS PARA SABER... em Moimenta da Beira e em Lisboa.


O AUTOR E O LIVRO…ou de como o Rui Bondoso – o primo caçula como lhe chamo – foi amadurecendo a sua estrutura criativa, num percurso que o trouxe de Samba Lucala, terra angolana de nascimento na longa distância entre Malanje e Luanda, até este interior português de Moimenta da Beira, a norte de Viseu e a sul do Douro.


O livro tem por título “O EDITOR ESQUECIDO – Eduardo Salgueiro e a Editorial Inquérito”, chancela das Edições Esgotadas e vai ser apresentado terça-feira, 17h30, no âmbito do evento «Interior no Livro» a decorrer em Moimenta da Beira.

Em 400 páginas, a escrita de Rui Bondoso resgata e dá a conhecer a vida e a obra de Eduardo Salgueiro (1904-94), um dos mais proeminentes editores portugueses do século XX, fundador da Editorial Inquérito em 1936, "que foi a maior manifestação de cultura e liberdade durante os quarenta e muitos anos do antigo regime", segundo António Alçada Baptista.

Ao adquirir o livro e depois de passar os olhos com minúcia, ficará a saber seguramente o que de mais importante se pesquisou já sobre Eduardo Salgueiro, um Moimentense de grande fôlego agora homenageado por Rui Bondoso – ele próprio merecedor do meu destaque como «uma das figuras da minha vida».

Conheci-o em Luanda quando, em férias, visitei a casa dos meus tios Palmira e Honorato em 1968. O Rui tinha 10 anos e era o mais novo de 6 irmãos: - Os saudosos Toli e Zeca, o João Luís, agora na Austrália, a Mizé e a Luisinha. Voltámos a cruzar-nos no ano seguinte, em S. Tomé, e depois em 1971 – de novo em Luanda – quando fui frequentar a EAMA, em Nova Lisboa (Huambo).

Sem nunca ter vindo ao «puto», este torrão lusitano à beira-mar, o Rui «aterrou» em Lisboa em Setembro de 1974, na sequência do processo de descolonização que a revolução de Abril iniciou:


RUI - Viajei Luanda-Lisboa num Boeing 747, com as tias Lurdes, Felicidade, Isabel e a Tita. Ficamos uma noite em casa da prima Amélia e no dia seguinte fizemos a vigem para Moimenta em autocarro. Vivi dois anos com a avó Maria José e a tia Luísa. Tempos partilhados em casa com o Tózé e a Tita (estudávamos) e uns meses depois com o tio Luís (teu pai).

A.B. - Nessa idade, a mudança e a adaptação não terão sido fáceis?

R. -Adaptei-me sem sobressaltos e guardo até boas recordações desse tempo.

AB. Tiveste um sentimento de «exilado», aqui?

R. Não, de todo! Aliás, o melhor período da adolescência vivi-o em Moimenta da Beira.

AB- E o jornalismo? Como? O facto de eu já o ser também…influenciou alguma coisa?

R. Sabia que estavas na profissão e inconscientemente isso deve ter influído. Porém, a ‘coisa’ começou verdadeiramente em conversas que mantinha com o Dr. Ferro e o Padre Bento, ligados à primeira fase do Correio Beirão (1956), e com o Dr. Lima Gomes, já idoso nesse tempo, mas também ligado aos jornais. Isso entusiasmou-me. Entusiasmo reforçado pela leitura diária de jornais.

AB- Enveredar pelo jornalismo quando se é jovem é um ato de coragem!

R. Se foi, nem dei por isso. Creio que foi mais um desafio que logo se tornou paixão.

AB- Correio Beirão, Moimenta. Na Imprensa Regional…o ato de coragem é ainda maior!?

R. Estava motivado e fui fazendo caminho, consolidando conhecimentos, em especial através das formações (tantas formações) no CENJOR.

AB- Houve depois o JN no teu percurso. O que mais te marcou aí?

R. O JN ‘premiou’ o percurso que fiz até aí. Foi outro mundo. A dimensão do impacto do que escrevia deixou-me marcas.

AB- Mais tarde a experiência «autárquica», que dura até hoje. Assessor. QUANTO DE JORNALISMO há nessa função?

R. Muito de jornalismo, mas desta vez feito do outro lado, com outra missão e propósito.

AB- O jornalismo de hoje, distante do de ontem. Muito?

R. A léguas, de tal modo que quase deixei de ler jornais e quase deixei de ver noticiários, em especial televisivos. Hoje o jornalismo é opinião, especulação, não há independência e um número apreciável de jornalistas não tem sequer noção dos valores da profissão.

AB- E aqui chegados…aparece um trabalho de GRANDE INVESTIGAÇÃO, de Grande fôlego. E o JORNALISMO, de alguma forma, … ainda presente.

R. Sempre presente, na forma (mais rica) e no conteúdo. Narrei factos.

AB- EDUARDO SALGUEIRO, a figura, também foi jornalista!

R. Sim, jornalista profissional (cinco anos no Comércio do Porto, depois no século e no Diário da Noite), jornalista empenhado que fundou até um jornal (República).

AB- E o RESULTADO da investigação…é um livro de 400 páginas e que demorou 6 anos. O QUE É que foi «condicionando» o teu trabalho nessa investigação, para levar tanto tempo? À parte o facto de Eduardo Salgueiro ser uma Figura fascinante.

R. Dois motivos em especial: 1) Reunir os livros que editou; 2) Confirmar a extensa lista de factos de uma vida tão intensa. Junto um outro, este mais pessoal: percalços de saúde.

AB- Eduardo Salgueiro é também uma figura de proximidade, nasceu em Moimenta da Beira… mas para te «absorver» durante tanto tempo, é porque deve ser uma FIGURA SINGULAR. 

R. Moimentense, sim. Conheci-o, promovi-lhe uma homenagem e mantive com ele uma assídua correspondência. Desta vivência, e do que fui lendo e sabendo, dei conta da sua importância e envolvimento na promoção dos livros e dos escritores. Era verdadeiramente um homem que se regia por valores e convicções, um republicano e democrata dos sete costados.

AB- Parabéns. Um abraço grato.

E lembro que o livro vai igualmente ser apresentado em Lisboa no dia 9 de Maio, na Biblioteca Nacional de Portugal, também com a intervenção do jornalista e investigador António Valdemar.

 

António Bondoso

21 de Abril de 2024.