2025-12-04

 


Vive-se em Dezembro e morre-se no ano todo».

 

É com este “pensamento” de Orlando Alves, seguramente imbuído de uma ideia crítica, que pretendo refletir sobre a chamada época natalícia. A frase está inserta na “ANTOLOGIA (POR NATUREZA) POÉTICA PARA UM CERTO NATAL”, com a chancela da Poética Edições e que foi organizada por Lília Tavares e Virgínia do Carmo, com capa de Rosário Ferreira Alves.


          A reflexão tem por base exatamente esta publicação de Novembro de 2025, cujo título é um verso de Lídia Borges: “NUMA RUA COMPLETAMENTE ÀS ESCURAS MOVEM-SE ESTES VERSOS”. Sem nome, essa rua às escuras – na minha leitura – representa, de alguma forma, o espírito crítico com que iniciei este meu texto. Sabemos todos dos efeitos feéricos que marcam o Natal, do consumismo subjacente dos «presentes» que se trocam, do eco vazio que nos chega do silêncio perturbador de milhões de seres humanos que, certamente numa rua às escuras, aguardam tristemente a passagem. Alma e corpo doridos, solidão e descrença – sobretudo em palavras ocas que se escrevem e se dizem. Repetidamente, ano após ano.

          Participo nesta Antologia, grato pelo convite da Lília Tavares, lembrando que

«nem todas as memórias foram sonhos;

Nem todas as prendas vieram no sapatinho.

Algumas, porém, chegaram envoltas em doce

E fino mistério!»

António Bondoso

É de facto um mistério tudo o que envolve esta época do ano, que a Paula Banazol de Carvalho sintetizou assim:

«Privilégio de alguns passarmos

Por muitas estações em tantos anos

Das nossas vidas.»

E para mim, há igualmente esse privilégio de estar acompanhado por muitos amigos que sabem transmitir o espírito do mistério: Ana de Freitas (Escrever Natal); António MR Martins, que nos traz Árvore de Natal de 2025; Conceição Lima, de S. Tomé e Príncipe, que escreve sobre Memórias do Natal em 2025; Francisco Duarte Mangas, que conta Uma história de natal com a figura de Netanyahu; José Luís Outono, a confirmar que É Natal…; Licínia Quitério a dizer que os homens precisam de poemas; Lília Tavares, biblicamente a dizer que «estou à porta e bato»; Olinda Beja, de S. Tomé e Príncipe e de Portugal, que nos fala de um Natal a três Dimensões; Regina Correia, com Um Verso de Luz; e Virgínia do Carmo, a sentenciar que Os homens nunca souberam nascer demoradamente.


Vale a pena perceber a qualidade desta Antologia para um certo Natal. Leia!

António Bondoso

Dezembro de 2025. 







1 comentário:

Anónimo disse...

Bem haja!