Para quem gosta de Macau – mesmo para aqueles que lá viveram e trabalharam por poucos anos, como é o meu caso – e apenas sente saudades do convívio, da experiência e da riqueza humana transmitidas pelos verdadeiros amigos, dez anos é de facto muito tempo. Será sempre cada vez mais tempo, à medida que se forem somando mais cinco, mais dez e outros tantos se lá chegarmos.
Mas esta medida do tempo não tem obrigatoriamente que ser memorizada pelo lado negativo, pela saudade mesquinha, pelas recordações do bem-estar material – apesar do peso do argumento.
A memória será tanto mais rica, quanto mais lembramos a sabedoria do Professor Silveira Machado, a alegria e a disponibilidade da Doutora Anabela Ritchie, a boa disposição do grande escritor Senna Fernandes, o calmo discurso do Arquitecto Carlos Marreiros, as vivências do Leonel Barros, as “estórias” do Alberto Alecrim, a História e a poesia da Beatriz Basto da Silva, também a História da Celina Veiga de Oliveira e do Armando Cação, as barbas brancas do filósofo e historiado Monsenhor Teixeira, o optimismo crítico e mordaz do Jorge Neto Valente, a atenção especial da “Cândida” e da “Júlia” – da Xin Hua – o intenso trabalho timorense do Padre Xico, a atenção do Manel da Livraria Portuguesa, os poéticos papelinhos do Estima de Oliveira, a sempre disponível sindicalista Rita Santos, sempre os “bons ofícios” de Sales Marques, do Leal Senado, ou do Isaú do ICM e Albina Silva dos SEM, os bons petiscos do Santos da Taipa ou do Fernando de Hác-Sá, a Conceição e o Lino Ribeiro, a Fátima e o Jorge Santos, a Margarida e o Rosado, o Mino e a Teresa, a Conceição Cação,o desportivismo de Manuel Silvério, a atenção de Raimundo do Rosário e os vôos de Leonel Miranda,os "Fragmentos" de António Correia,a atenção e disponibilidade de Vasco Rocha Vieira, Salavessa da Costa e Jorge Rangel,do João Dinis e Maria do Carmo Figueiredo, os conselhos médicos de Larguito Claro e dos irmãos Évora, a Susana e o João Francisco Pinto, a sempre solícita informação bancária da Graça Ramalheira, a simpatia do Porfírio, a camaradagem de Paulo Nogueira, Luis Sá Cunha, Paulo Ramalheira, José Costa Santos, Luis Ortet ou Rocha Dinis, os “quadradinhos” do João Fernandes,a calma tranquila do João Guedes, a maneira de ser e de estar de tanta gente boa que – pelos mais diversos motivos – nem sempre se manifestava na plenitude.
A ordem de referência de todas estas figuras é perfeitamente aleatória. Foi ao "correr da pena"... não houve quaisquer outras intenções. E é bem possível que tenham falhado muitos outros. Espero que não levem a mal.
E depois, a efeméride ainda não passou. Hei-de voltar a falar de Macau. Falarei sempre de Macau.
Para além de tudo, ficam as minhas horas de trabalho no edifício da Nam Kwong, partilhadas com o Rui Moura e com o Adam Lee, com o Helder e o Sérgio, o Pedro Sacco e Miguel Brandão, o Moças e a Olívia, o Paulo Paz e o Nuno Ramos, o Cardoso Pinto e a Madalena Ribeirinho, o Au Weng e o Gilberto Lopes, a Susana e o Pedro S.Pereira, o Paulo Conde ou o Benjamin U, o Vasco Fernandes e a Fátima, sem esquecer a Paula Camposana.
Escrevo hoje, véspera de um encontro de gente de Macau com alguns antigos Governadores do território. Em Mafra. Ali, como em qualquer outro espaço físico, vai falar-se de Macau. E alguns amigos voltarão a encontar-se!
Há tempos, citei aqui Silveira Machado e António Estácio.
Hoje volto à "Roda de Amigos" de A.Estácio e fico nos "Silêncios" de Beatriz Basto da Silva.
António Estácio, quando completou 21 anos de Macau - em 1993 - assinalou a data com o que chamou de "passatempo divertido".
E na sua Roda de Amigos, escreveu por ex este trecho de " CIDADE AMIGA" :
"Macau, cidade amiga,
és uma terra sem par,
não sei como há quem consiga
sem tristeza te deixar.
Quem te conhece e entende
jamais te pode esquecer,
pois tens algo que nos prende
que encanta e dá prazer"....
Beatriz Basto da Silva, no intervalo das suas aulas e da sua investigação, sempre interiorizou os seus silêncios!
Até que um dia... lhes deu forma de poema! E a partilha foi inevitável !
NO PORTO INTERIOR
[Dez. de 1990]
"Sulquei as águas arqueológicas do porto
Tróias lodosas num delta do levante
de mansinho, para não magoar
o cenário do fundo do mar
mastros doridos
retorcidos
como mãos secas num último aceno de socorro,
trazidos à superfície da Baía
espelhada e alheia
Gestos de ternura interrompidos
glorias, fumo, vida e morte
vestígios de aventura
esquecidos".
1 comentário:
Caro antónio, tenho um blog sobre macau... macauantigo.blogspot.com e gostava de trocar umas ideias consigo.. contacte-me pelo e-mail jbotas@gmail.com
Enviar um comentário