A PROPÓSITO DO DIA DE ÁFRICA.
"Renunciar também é um tipo de liderança". Nelson Mandela.
Reflectir sobre a África obriga-nos a recuar séculos.
Estudar e perceber o Norte não nos conduz de imediato a idêntica apreciação
sobre a África Central ou Austral. Do chamado Corno de África a Marrocos, da
região do Cabo ao Egipto, do Golfo da Guiné à região dos Grandes Lagos – cada
espaço é simultaneamente único e verdadeiramente complexo.
Não tenho, por isso, a pretensão de alargar a História
nem, tão pouco, de transformar esta simples nota de memória num elaborado tratado
de antropologia ou de política internacional.
Quero apenas partilhar ideias e poder contribuir –
minimamente que seja – para abrir um debate sobre o que me aproxima da África e
dos meus amigos africanos.
Assim, mais do que repetir imagens de conflitos e
tragédia, a minha motivação passa por dizer – à semelhança do que acontece com
a Europa actual – que o continente “eterno” sofre da ausência de uma liderança
forte, mesmo que repartida, como foi o caso da geração do “Pan-Africanismo” que
conduziu ao processo de descolonização, independentemente do grau de diálogo ou
de conflito com as “potências” europeias.
Depois de N’Krumah, Lumumba, Nasser, Senghor, Kenyata,
Nyerere, Cabral, Agostinho Neto, Mondlane – restou ainda vivo Rolihlahla Nelson
Mandela. Vivo também o seu espírito de lutador e de conciliador que granjeou e
espalhou – quer no tempo de combate ao “apartheid”, quer sobretudo com o seu
exemplo na presidência da Nação do Arco-Íris, a nova África do Sul.
Vale a pena, por isso, e também porque é sentido como que
um vazio depois da sua presidência, recordar o que Albrecht Hagemann escreveu
sobre Mandela em 1995. A obra, traduzida e publicada em Portugal em 2011(pág.142-144),
numa iniciativa do Expresso, conduz-nos às oito “Lições de Liderança” (2008) trazidas
a público pelo amigo íntimo de Mandela, Richard Stengel. Para além do carisma,
o carácter!
Por agora, basta atentar nas duas últimas: (7ª) “Nada é
preto e branco. Nada na vida é ou/ou. As decisões são complexas e existem
fatores concorrentes. A vida concorda com o cérebro humano em querer ter
explicações simples, mas isso não corresponde à realidade. Nada é tão evidente
como pode parecer. Enquanto Mandela combatia inquestionavelmente o apartheid, reconhecia ao mesmo tempo as
suas diferentes origens históricas, sociológicas e psicológicas”; (8ª)
«Renunciar também é um tipo de liderança. Com o seu anúncio precoce de querer
apenas cumprir um mandato na presidência, Mandela tencionava enviar um aviso,
não só para os seus sucessores, mas para todo o continente africano. A sua
tarefa, de acordo com um companheiro da altura, Cyril Ramaphosa, ‘era decidir o
rumo do navio, não comandá-lo’. Mandela estava convencido de que os líderes
políticos lideram mais pelo que não fazem do que pelo que fazem».
Deixo-vos ainda, se tiverem paciência para ler e criticar
mais um pouco, um trabalho que elaborei em 2009 sobre “O continente africano e
os conflitos endémicos. O caso nigeriano da Guerra do Biafra e as águas turbulentas
do Delta”.
1 comentário:
gostei muito de ler suas matérias .. vou passar sempre por aqui para ler..
historias dos guerreiros
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