Os passos da minha “Paixão”...
Os passos da minha “Paixão”...
Um a um, cadenciados pelo cansaço das marionetas que me
assombram, os meus passos tentam seguir a Via Sacra deste país, hoje, sem
perder a Fé mas com a Esperança retalhada. Em cada passo me revejo na desilusão
dos jovens que não podem viver a alegria dos seus sonhos; na angústia dos
desempregados impedidos de ser úteis ao país onde nasceram; na depressão
sobrevivente ao desespero de cada um; na raiva e na impotência dos casais
desempregados que já não conseguem alimentar-se para dar alento e vida digna
aos seus filhos; na tristeza e na revolta que invade os reformados e pensionistas
que – tendo depositado no seu Estado a confiança e boa fé de uma vida de
dedicação esforçada – se confrontam agora com responsabilidades alheias, as
quais cerceiam igualmente os sonhos de um final de passagem terrena com a dignidade
merecida.
São assim estes passos que, apesar de tudo e por tudo
isto, me convocam ainda para um último esforço de permanência ativa num país e
num mundo em decomposição acelerada, física mas sobretudo na alma e no espírito
dos valores humanos, do pensamento, dos ideais e das ideias. O caráter é já
cadáver, assassinado pela ganância, pela inveja, pela maldade, pela sede de
Poder.
Ao contrário de outros, como escrevi em 2009, tenho “Dúvidas
de Vida”: - pensando, sobretudo, em como seria maravilhoso trocar as "amêndoas" de alguns pela saúde e ausência de fome das crianças que sofrem.
DÚVIDAS DE VIDA
Páscoa
Paixão
Morte e
ressurreição
Páscoa
Passos
Caminhos de
contradição.
Esta vida é um
senão
Perdida mas logo
achada
Páscoa
Angústia de
sexta-feira
Reconvertida em
esperança
Radiosa na mensagem
Que o sábado é de
passagem.
Páscoa
Ideia inteira
Balança
Nasce um domingo
perfeito
Certeza de muitas
dúvidas
De que o nosso
mundo é feito.
===== A.Bondoso (A
PUBLICAR).
António Bondoso - Páscoa de 2013.
3 comentários:
" Ao contrário de outros, como escrevi em 2009, tenho “Dúvidas de Vida”: o trocar as "amêndoas" de alguns pela saúde e ausência de fome das crianças que sofrem." Hoje, e mais do que nunca, cada vez mais aqueles que têm consciência do que se passa à sua volta se interrogam sobre que mudanças ocorreram no nosso Mundo, para que o Homem perdesse toda a sua Humanidade.
Gostei muito!Abraço.
Como é lúcida e profunda esta reflexão!Obrigada por partilhar connosco esta escrita tão perfeita na forma e tão plena de sentimentos face ao mundo que nos rodeia e sobre o qual não poderemos ficar indiferentes. Não podemos, nem devemos ficar indiferentes, pois seria perder a nossa humanidade - algo muito nobre - o que melhor nos define como Pessoas. Aguardo o novo livro de poemas.
Arcelina Santiago
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