2014-11-01

É A VIDA E É A MORTE...SEM PONTO FINAL

Foto de A. Bondoso

É a vida e é a morte – essas coisinhas miúdas, o alfa e o ómega da nossa existência, a condição da passagem, essa mistura de sentimentos, de saudade, de memória, de uma lembrança a correr, de uma angústia permanente, de um tempo sem retorno, de um desfilar de perdidos e achados, de uma romaria às “últimas moradas” levando flores como símbolo de amor e de amizade, assim como que um abraço prolongado no tempo que ainda nos resta, é a vida e é a morte – um tempo outro de saber como somos e o que somos e de onde vimos, pois sem memória não há história, os dias são assim e com eles devemos viver e aprender como se o hoje estivesse desligado do amanhã mas não do ontem, um tempo difícil, perturbador, inquieto, horas de sacrifícios infinitos em que ninguém faz greve à vida e ninguém faz greve à morte, são caminhos que se estreitam de tanto sofrer por nós, são estradas que alargam horizontes de tanta alegria por outros, é a vida e é a morte – um poema interminável, uma relação profunda de uma beleza sem par, um beijo quente apaixonado ou um coração despedaçado, um olhar doce e de meiguice talhado, o calor de uma palavra e a ternura de um toque, as mãos rudes do trabalho e da dignidade mantida, um ombro que ampara a honra na frescura da manhã, é a vida e é a morte nesta relação constante em que uma não se queixa e a outra deixa correr, violinos a tocar e um piano de cauda, melodia harmoniosa de um mundo sempre agitado, percebo mas não aceito tanta vileza a crescer, quem decide sem ter alma quem obedece sem lamento, homens sem porte mulheres sem aprumo, é a vida e é a morte – um vai e vem sem recurso, uma agenda sem os dias a contar coisa nenhuma, um marco de nenhures como sinal inventado, nunca a terra nunca o sol e nunca a lua souberam, é a vida e é a morte…

Foto de A. Bondoso
António Bondoso
Jornalista

1 comentário:

Rosário Freitas disse...

Adorei este «alfa e ómega» da existência!
O meu abraço.