ONDE FICA A ÁFRICA?
Numa
altura em que há como que um “toque a finados” nesta União Europeia cada vez
mais em deriva, também não é sem apreensão que vemos ouvimos e lemos sobre ÁFRICA.
As televisões encarregam-se de nos mostrar diariamente. E um dia destes, a 25,
celebra-se aquele que pretende chamar a atenção para os inúmeros problemas –
claro – mas igualmente colocar em destaque as potencialidades desse terceiro
mais extenso continente e segundo mais populoso do mundo…e do qual fazem parte
cinco países que têm como oficial a língua portuguesa:- Angola, Guiné-Bissau,
Cabo Verde, Moçambique e S. Tomé e Príncipe.
Há,
como dizia um antigo diplomata brasileiro, muitas Áfricas. Qualquer
enciclopédia nos aponta as diferenças. Não pretendendo cavalgar essa verdade
absoluta e deixando ao critério de cada um a “busca do tesouro”, sempre chamo a
atenção para o que escreve o jornalista Leonel Cosme no seu livro MUITAS SÃO AS ÁFRICAS (Novo Imbondeiro,2006):
«não são apenas muitas as Áfricas-nações que
procuram a sua unidade, em cada território e no continente, mediante um esforço
de “reafricanização”, para retomar o fio da história cortado pelo colonialismo;
são também as muitas áfricas-sociológicas que existem em cada uma delas, como
boas ou más heranças, conforme o olhar de quem faz a leitura dos resultados. E
porque muitas são essas “áfricas”, muitos foram e ainda são os olhares, uns que
vêm do passado, outros, do tempo que ainda decorre».
Como escreve o Professor e historiador Elikia
M’Bokolo, não temos razão para desesperar de África, apesar de todas as
notícias que nos chegam: o continente é uma máquina pesada que precisa muito tempo
para caminhar. (...) É preciso uma integração por fases progressivas, à imagem da construção
duma casa. E não retomar a ideia de N’Krumah, no seu tempo, que a unidade
imediata do continente é possível.
Já será suficiente para debate, sobretudo se
lhe juntarmos as ideias de Aimé Cesaire e de Leopold Sedar Senghor.
Contudo,
e embora retendo esta ideia, o que pretendo aqui escrever é o meu olhar. E
apenas isso. Sobretudo um olhar para alguns pormenores das minhas áfricas. E
sem precisar de recorrer ao prefácio de Hemingway em AS VERDES COLINAS DE ÁFRICA, basta-me apreciar, particularmente, O
LIVRO DE COSTA ALEGRE, de Lopes Rodrigues (1969), para quem o primeiro grande
Poeta São-tomense «foi bom, foi estudioso, foi inteligente, foi poeta». E o
amor pela sua terra, o amor aos pais…até à sua morte. E quero deixar essa nota
de não menos importância, pois a ideia que tem passado em muitos círculos é a
de que Caetano da Costa Alegre não tinha “amigos” e foi um dos “esquecidos”. Eu
lembro sempre que posso. Tal como recordo Almada, Tenreiro, Alda Espírito
Santo, Olinda Beja e Conceição Lima.
E
porque não eu?…que hoje vos deixo este FILHO
DA TERRA, publicado na página 81 de AROMAS
DE LIBERDADES (2015):
FILHO
DA TERRA
De
S. Tomé sinto cheiros
Da
terra
Depois
da chuva,
O
aroma de um café
E
o riso das crianças
A
dimensão do seu povo
A
brotar do vulcão da ilha grande…
Ideia
de um paraíso
A
navegar pelo Golfo.
É
do cacau que se fala
Ainda
e sempre
É
do chocolate um desejo
Pois
do petróleo se espera
Ainda
e só.
Mas
o turismo é uma certeza
Do
Príncipe que se transforma
Uma
viagem de sonho
Salgada
de azul-turquesa
Condimentada
ao minuto
Quase
perfeita aos olhos de quem sente.
S.Tomé
e Príncipe dêdê[1]
Pintenxa
de alma minha seduzida
Coração
de mina-tela amargurado
Paixão
mu nantan pagadu.
[1] - Dêdê = Querido; Pintenxa = Penitência; Mina-tela
= Filho da Terra; Mu = Minha; Nantan = Jamais; Pagadu = Paga.
JORNALISTA
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