2016-02-28

A MEMÓRIA NÃO É DIVINA...MAS TEM GRANDEZA.


AO MEU PAI LUÍS…

Escreveu Almada que “o homem é o contraste do divino” e que “tentar divinizar o homem é o primeiro sintoma da Amnésia”.
Felizmente é maleita de que não tenho padecido – o que vale por dizer que a minha perspetiva do divino se tem pautado pelo equilíbrio. O que não me impede de ter memória e de atribuir um sentido positivo à lembrança dos progenitores. Hoje é a figura do Pai…de quem me chega esse gesto de me dar a mão a caminho dos ensaios para um dos espetáculos de variedades, ali junto do jardim da Curadoria e da Câmara Municipal de S. Tomé. Ou ainda esses “safaris” às praias da Boa Entrada e das Conchas, tal como as idas inesquecíveis à Roça Molembú.
De Moimenta da Beira sobram já as memórias de adulto, sentados à braseira na sala da Casa do Terreiro ou dois dedos de conversa à porta do Café Jardim, mas só em fotos me chega o passado da viola no Dramático do Arcozelo ou do avançado na equipa de futebol.
Em qualquer caso, não esqueço a saudade da alegria da sua presença, a saudade do sentido de humor e do riso maroto…a saudade de quem, por obra do destino, se viu desenraizado nas “raízes” e encostado a uma solidão – embora não permanente – mais espiritual do que física.
         E partiu…mesmo antes de eu partir de novo em busca do meu Oriente imaginário centrado em Macau, em Março de 1994. Ao Pai que foi, recordo de novo alguns versos de há dois anos:
Ser pai
Ser filho
Ser filho do pai e pai do filho
É ter um sorriso de vida
A emoção de um olhar
A certeza de que estamos e que somos.(…)
António Bondoso
28 Fev. 2016

António Bondoso
Jornalista

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