A MEMÓRIA NÃO É DIVINA...MAS TEM GRANDEZA.
AO
MEU PAI LUÍS…
Escreveu
Almada que “o homem é o contraste do divino” e que “tentar divinizar o homem é
o primeiro sintoma da Amnésia”.
Felizmente
é maleita de que não tenho padecido – o que vale por dizer que a minha
perspetiva do divino se tem pautado pelo equilíbrio. O que não me impede de ter
memória e de atribuir um sentido positivo à lembrança dos progenitores. Hoje é
a figura do Pai…de quem me chega esse gesto de me dar a mão a caminho dos
ensaios para um dos espetáculos de variedades, ali junto do jardim da Curadoria
e da Câmara Municipal de S. Tomé. Ou ainda esses “safaris” às praias da Boa
Entrada e das Conchas, tal como as idas inesquecíveis à Roça Molembú.
De
Moimenta da Beira sobram já as memórias de adulto, sentados à braseira na sala
da Casa do Terreiro ou dois dedos de conversa à porta do Café Jardim, mas só em
fotos me chega o passado da viola no Dramático do Arcozelo ou do avançado na
equipa de futebol.
Em
qualquer caso, não esqueço a saudade da alegria da sua presença, a saudade do
sentido de humor e do riso maroto…a saudade de quem, por obra do destino, se
viu desenraizado nas “raízes” e encostado
a uma solidão – embora não permanente – mais espiritual do que física.
E partiu…mesmo antes de eu partir de
novo em busca do meu Oriente imaginário centrado em Macau, em Março de 1994. Ao
Pai que foi, recordo de novo alguns versos de há dois anos:
Ser
pai
Ser
filho
Ser
filho do pai e pai do filho
É
ter um sorriso de vida
A
emoção de um olhar
A
certeza de que estamos e que somos.(…)
António Bondoso
28 Fev. 2016
António Bondoso
Jornalista
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