ENTRE-OS-RIOS…ou
uma tragédia portuguesa há 15 anos.
2001-2016
Paulo
Teixeira chama-lhe “A Ponte de Portugal”.
E de facto…a 4 de Março de 2001 todo o país começou a tomar conhecimento de que
havia caído uma ponte em Entre-os-Rios. A Ponte de Hintze Ribeiro, que ligava
as margens do Douro em terras dos concelhos de Penafiel e de Castelo de Paiva,
mais precisamente as localidades de Entre-os-Rios e de Sardoura. A ponte caiu e
arrastou consigo para as águas revoltas e alimentadas com chuva de muitos dias 59
vidas do concelho da margem esquerda.
Eu
soube da notícia em forma muito vaga estava nas Antas a assistir a um jogo de
futebol. Há quem diga que lá tenha chegado duas horas depois do acidente, mas o
que eu recordo é que de imediato contactei o camarada António Jorge que, em
espírito de missão, anuiu à tarefa de ir reportar o acontecimento para a Antena
1. E foi, sem saber exatamente as dimensões da tragédia, ainda. Só quando lá
chegou tomou, de facto, consciência do que se havia passado…juntando-se aos
radialistas de Castelo de Paiva e com eles cooperando na busca de informação.
Recordo ainda que mais tarde, após vários dias de emissões em direto – que envolveram
exemplarmente toda a Redação da RDP no Porto, o mesmo António Jorge sugeriu e
desenvolveu com Ricardo Alexandre, também da Antena 1, na Invicta, e com um
outro camarada – creio que da Revista Visão – um trabalho especial sobre o “negócio”
dos inertes do rio.
Paulo
Teixeira, que estava na presidência da Câmara de Castelo de Paiva desde 1997 –
e nesse cargo se manteve até 2009 – assumiu as dores da tragédia que envolveu
os seus munícipes. E fê-lo de uma forma dinâmica e competente, abrangendo sobretudo
estes adjetivos um elevadíssimo grau de humanismo. Simples, como o conheci,
Paulo Teixeira não se esquivou a estar comigo em Moimenta da Beira em 2014, num
encontro/debate sobre o Poder Local, no âmbito das comemorações dos 40 anos do
25 de Abril. Um dos objetivos era salientar as assimetrias no desenvolvimento
do país, comparando o litoral e o interior. E nesse encontro, Paulo Teixeira não
deixou de recordar os acontecimentos
dolorosos de 4 de Março de 2001, para destacar as dificuldades com que
se viu confrontado à época, no sentido de conseguir ir dando solução aos mais
variados aspetos que a tragédia colocou a Castelo de Paiva. E disse por
exemplo: “O acidente dá-se numa ponte que pertencia ao distrito do Porto, o
auto de notícia da GNR foi apresentado em Castelo de Paiva, no distrito de
Aveiro, e assim sendo, o Tribunal competente era o de Castelo de Paiva e não o
de Penafiel. Hoje tudo seria diferente porque íamos para Aveiro”. Esta questão
das dependências viria a colocar-se igualmente no que diz respeito à atuação da
GNR, tutelada por Penafiel e por Oliveira de Azeméis, tal como nas áreas da
saúde, dos bombeiros e da segurança social. E na busca dos corpos
desaparecidos, acrescenta, “Os mergulhadores eram da Armada, obedeciam ao
comando de Leixões…a interacção entre a Armada e os Bombeiros foi feita numas
situações pelo Ministro da Administração Interna e noutras pelo Secretário de
Estado. Nos primeiros dias ninguém se entendia por causa das hierarquias e da
distribuição geográfica”.
Muito
se alterou já, é um facto, mas ainda persistem muitas dependências sem sentido
e muitas desigualdades, particularmente devido ao adiamento dessa medida tão
simples expressa na CRP e que dá pelo nome de Regionalização. Regionalizar não
é dividir, diz-me Paulo Teixeira, acrescentando que, em 2014, ainda continuava
por resolver a questão dos transportes escolares. Obrigado Paulo Teixeira, por
haver lembrado tudo isto em Moimenta da Beira – um concelho igualmente do
interior e da mesma forma confrontado com muitas dependências complexas da
CCDRN, no Porto, sendo um concelho do distrito de Viseu. Muito próximo do
Douro, é verdade, mas de Viseu.
Foi
a 4 de Março de 2001. Poderia referir muitos outros pormenores sobre a tragédia
na Ponte de Hintze Ribeiro e sobre as ações desenvolvidas nos dias
subsequentes. Mas o texto já vai longo e fica dito o essencial. Por agora.
António Bondoso
Jornalista. CP-
359.
4 de Março de 2016.
1 comentário:
Dia 27 em Celorico de Basto vou fazer uma palestra, "Portugal, 15 anos depois de Entre os Rios".
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