Celebrar S. Tomé e Príncipe - um desígnio meu.
Desta vez, a propósito de uma memória do Dr. Manuel Ferreira Ribeiro, natural da Maia, pioneiro da investigação sobre a profilaxia da malária, entre 1869 e 1898.
A semana passada coloquei nas redes sociais (nomeadamente no facebook)
uma memória sobre S. Tomé e Príncipe, destacando a figura do médico Manuel
Ferreira Ribeiro que viveu, estudou e trabalhou uma dúzia de anos nas ilhas do
meio do mundo. Ali chegou em 1869, tendo assumido a Direção dos Serviços de
Saúde em 1871. Nas ilhas teve a oportunidade de viver “4 vidas”: - médico,
investigador nas questões ligadas à malária, jornalista (fundou o jornal Equador
- (…) Equador (1869) foi o primeiro jornal independente do
arquipélago, e assumia-se como Semanário Agrícola, Comercial e
Científico – e escritor (publicou muitos trabalhos e alguns livros
sobre o desenvolvimento daquelas terras). Passou ainda 2 anos em Angola, 1877/1879,
como médico da Expedição dos Estudos do Caminho-de-ferro de Ambaca – na linha
Luanda/Malanje. Nesse âmbito, organizou
em Lisboa quatro ambulâncias (hospital móvel na gíria militar) e publicou
instruções higiénicas e de medicina preventiva destinadas sobretudo aos
europeus que se deslocassem aos vales dos rios Cuanza e Lucala.
De salientar
que ainda em Angola, tirando proveito dos seus conhecimentos, foi-lhe pedido
que organizasse ambulâncias que servissem para as campanhas das obras públicas
naquela colónia, bem como, um sanatório em Luanda, destinado aos
expedicionários que necessitassem de primeiros socorros.
Quando o Dr. Manuel Ferreira Ribeiro chegou a
S. Tomé, o território havia já entrado na chamada 2ª colonização – precisamente
pela introdução das culturas do café e do cacau nos anos 20 do século XIX. Por
essa altura, as condições no sector da saúde não eram famosas. Havia que criar
condições para fixar os brancos europeus e, por outro lado, evitar que a
malária prejudicasse o rendimento dos serviçais das roças.
As bases desse trabalho foram então lançadas,
sendo mais tarde seguidas por outros médicos e investigadores – lembrando por
exemplo os médicos já do século XX Melo Sereno, na Roça Água Izé; João Botica,
na empresa Vale Flor (roças Rio do Ouro e Diogo Vaz nomeadamente); e o Dr.
Mourão, nos Serviços de Saúde das ilhas, recordando-me ainda das campanhas do “flit”
– DDT – para a erradicação do paludismo nos de 1950 e de 1960 concretamente.
Pois o Dr. Manuel Ferreira Ribeiro, que
nascera em 1839 em Rebordãos, Águas Santas – Maia, viria a falecer na pobreza
completa em 16 de Novembro de 1917, em Lisboa, sendo provável que tenha
assistido ao funeral do primeiro grande poeta de S. Tomé – Caetano da Costa
Alegre – em 21 de Abril de 1890, em Lisboa, onde terminava o seu curso de
medicina na Escola Médico-Cirúrgica. Costa Alegre tinha 26 anos de idade.
Ferreira Ribeiro exercia por essa altura funções na Direção Geral do Ultramar,
só regressando a STP em 1892 para a sua segunda comissão de serviço. Assinalando
a efeméride, organizei no passado dia 16 de Novembro, na Universidade Sénior Aprender a Viver/CES Pedras Rubras, na
Maia, uma pequena homenagem na presença dos alunos – 2 dos quais familiares de
Ferreira Ribeiro. Para além de dois pequenos filmes sobre as ilhas e sobre os
escritores de STP, os alunos disseram poemas de autores de S. Tomé e Príncipe, por
mim escolhidos. De Costa Alegre
(1864-1890), como já referi, evocaram-se os SERÕES
de S. Tomé
(…) A nossa terra é tão bela!
Duma beleza sem par,
E por ser assim formosa
Fê-la sua amante o mar. (…)
… de Alda Do Espírito
Santo (1926-2010), professora e política, foi dito A UMA
MIRAGEM (1958), em O CORAL DAS ILHAS,
de 2006
(…) Partir, partir para o destino das aventuras da
glória
Romper as paredes do cárcere
É talvez um sonho marginal
Na prisão sem grades de muitas ilhas humanas
Onde o sonho flutua. (…)
… de Conceição Lima, jornalista
(1961), escolhi INEGÁVEL (em A DOLOROSA RAÍZ DO MICONDÓ, de 2006)
(…)
Casa marinha, fonte não eleita!
A
ti pertenço e chamo-te minha
Como
à mãe que não escolhi
E
contudo amo.
… de Olinda Beja (1946), professora
em Portugal, selecionei À SOMBRA DO OKÁ,
(obra com o mesmo título, de 2016)
(…) ali ninguém mais se atreverá a negar-me o chão
a negar-me a mátria, o húmus materno doce e quente e
quente e húmido
o catre onde sempre estirei meu poema e minha mágoa
e
minha sede.
… de Francisco José
Tenreiro (1921-1963), geógrafo, professor e político em Portugal, o poema CANÇÃO DO MESTIÇO, em ILHA DE NOME SANTO (1942)
Mestiço!
Nasci do
negro e do branco
e quem olhar para mim
é como que se olhasse
para um tabuleiro de xadrez:
a vista passando depressa
fica baralhando cor
no olho alumbrado de quem me vê.
e quem olhar para mim
é como que se olhasse
para um tabuleiro de xadrez:
a vista passando depressa
fica baralhando cor
no olho alumbrado de quem me vê.
Mestiço! (…)
Ainda tempo para um
poema meu (1953-1974 em STP) LEVE-LEVE,
em SEIOS ILHÉUS, de 2010
(…)
Às vezes sinto que o tempo caminha
Sorrateiro
atrás de mim
Perseguindo
memórias cheiros e paisagens
O
ser e o estar de um ilhéu de mil imagens. (…)
António Bondoso
Jornalista
Novembro de 2017
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