Não há duas depressões iguais.
Uma
depressão pela «pandemia» tem como causas o medo, sobretudo, acompanhado de
incerteza e de angústia. E de sofrimento, claro, tendo em conta as sequelas. Mas
há hoje esperança na cura!
A
depressão pela «perda» de uma mãe é muito mais complexa e nunca será curada.
Não há vacina que possa evitar o contágio! Eu, infelizmente, fui atingido ainda
muito jovem. Podem crer que foi devastador, como poderão ler neste relato de
memória. Era Dezembro…e o Natal ficou adiado. Há 49 anos:
Foi uma despedida triste, de esperança quase nula, nesse Dezembro de um calor húmido e tórrido, na placa do aeroporto, à beira de um avião que me levava o berço aconchegante, o colo de um amor maior, a fonte da minha energia e do meu equilíbrio no mundo dos adultos. Meio perdido, nem choviam lágrimas nem transpirava soluços. Estava apenas ali, sem dizer fosse o que fosse, sem ouvir as vozes que justificavam a partida, como que uma derradeira tentativa para reverter a doença que a minava. Não sei mesmo se ela acalentava alguma esperança nessa viagem que os médicos determinaram, como se o Hospital do Ultramar fosse de facto a solução. E partiu, e eu praticamente imóvel a olhar para além dela, sem um gesto, sem um grito, sem um choro, que me doía o peito, que me toldava a visão e me arrepiava os tímpanos esse ruído dos motores do «friendship» a preparar-se para levantar voo. E já no «ar»…houve sonhos que ficaram suspensos e pesadelos que se apresentaram. Foi ali que senti que a perdi!
Dezembro
de 2020.
António
Bondoso
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