SEI DO TEMPO E DO VENTO…
Não
preciso que os “ventos” me venham contar uma História. Não preciso que os
ventos me tragam uma “nova” História. Não preciso que o “tempo”, o tempo dos “manipuladores do tempo”, me traga novas histórias,
reescritas ou reinventadas. Apesar de tudo aceito histórias “recontadas”, pois
sei, à partida, que, quem conta um conto, acrescenta um ponto. Por isso,
saberei descontar os pontos.
Sei de muitas histórias da História.
Sei de António Hespanha, António Sérgio, Borges de Macedo, Carlos Neves, Cortesão,
Fernando Rosas, Godinho, Herculano, Mattoso, M’Bokolo, Oliveira Marques, Reis
Torgal, Rui Ramos, Saraiva ou de Veríssimo Serrão. E sei de António Borges
Coelho, que disse que «O historiador é um manipulador do tempo. Prende-o num
campo ou castelo de palavras. E qualquer um o desperta da mortalha das
letras…Mas verdadeiramente não é o tempo que prendemos mas tão-só os
acontecimentos – sinais gravados noutros sinais». Em O tempo e os homens. Questionar a história III. Lisboa, Editorial
Caminho, 1996, p.13.[1]
Sei
do meu tempo e do tempo de muitos outros antes de mim.
Sei
do tempo em que cheguei, do tempo que percorri e sei dos ventos que me têm
«empurrado» até ao presente. E sei dos ventos que vão soprando e das razões que
os movem. E sei que, a cada investigação, se reportam quase invariavelmente as
mesmas «fontes». Basta ler as “notas” ou as “citações” de referência no final
de cada obra. E aí, como diz António Borges Coelho, «desperta-se o tempo da
mortalha das letras». Um tempo diferente, interpretado e reinterpretado, de
acordo com a direcção e os objectivos pretendidos à luz de um tempo outro. Fica
sempre bem uma “leitura” oportuna…ou oportunista! De acordo com os ventos que
sopram! Mas, em boa verdade, a essência dos factos está – não deixa de estar –
nas fontes consultadas. Independentemente dos períodos de maior ou menor
«nebulosidade». Quer se fale do «nascimento» de Portugal, quer se escreva sobre
a epopeia dos Descobrimentos. Quer se fale dos impérios, da colonização ou da
descolonização. Aliás, sobre este último tema, a RTP1e 2 passaram recentemente
dois excelentes espaços de investigação e de conhecimento. https://www.rtp.pt/play/p8429/decolonisations.
Sei do tempo e do vento…embora não
possa saber tudo! Ninguém sabe. Mas procuro, embora – honestamente – não
consiga criticar quem o não faça. O que não consigo deixar de criticar é a arrogância
com que se…critica!
[1]-http://cm-pvarzim.pt/biblioteca/download/Procurar_a_luz_para_ver_as_sombras_Antonio_borges_coelho.pdf. Uma publicação da C.M. de Vila Franca de Xira e do Museu do Neo-Realismo, com edição de Sílvia de Araújo Igreja – Procurar a Luz para ver as Sombras – 2010.
António
Bondoso
Fev.
2021
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