DAS
GUERRAS E SEUS EFEITOS…ou de como o Homem, com o seu sentido de predador nato,
sempre utilizou a força e a barbárie para obter poder. A guerra é a minha
pátria – diz Pierre Drieu La Rochelle; a guerra é sobretudo sofrimento, segundo
Robert Fisk; a guerra é a grande experiência, escreve Almada. Ou, seguindo a
«escrita da guerra» que nos oferece Rui de Azevedo Teixeira, no seu recente “Ensaios
de Espelho”, «A violência é parte da raiz do homem; a tendência para a agressão
é, tal como a pulsão erótica, parte da essência do homo sapiens, como já o fora
do proto-homem, tão bem estudado por Raymond Dart». Teixeira cita mesmo uma
expressão de Freud, segundo a qual a guerra mostra o que a civilização tapa.
Numa
perspetiva diversa e com oportunidade – já que muito se tem falado de guerra
nos últimos tempos em Portugal – a RTP2 exibe, a partir de hoje, um
documentário com o qual se pretende dar a conhecer aspetos particulares da
violência da II Guerra Mundial. Ali se ouve, por exemplo, que as guerras nunca
acabam e que «o inferno começa quando a guerra termina e dura toda a vida». Só por
si, não deixa de ser uma frase de extrema violência, proferida por uma mulher norueguesa
que foi obrigada a procriar com um soldado alemão durante a ocupação nazi. E
foram entre 30 a 50 mil as mulheres nessa situação, tendo ficado conhecidas
como “garotas alemãs”. Humilhadas e violentadas no final da guerra, só em 2018
viram o seu governo pedir desculpas pelo tratamento vergonhoso a que foram
sujeitas.
Mas,
continuando a citar Teixeira…«assim como a água não tem forma permanente, não
existem na guerra formas estáveis», ensina o primeiro dos grandes estudiosos da
guerra Sun-Tzu. E prossegue, agora com Pessoa, para quem – com a guerra – passa
«a ser legítima a solução animal das questões».
Por outro lado e contextualizando os primeiros anos do século XX, mais precisamente 1917, uma breve referência ao «Ultimatum Futurista» de Almada Negreiros, no qual se faz a apologia da guerra: “Ide buscar na guerra da Europa toda a força da nossa nova pátria. (…) A guerra serve para mostrar os fortes mas salva os fracos. (…) É na guerra que se acordam as qualidades e que os privilegiados se ultrapassam». Depois, com a barbárie da II Guerra e de todas as guerras que foram enchendo o globo – concretamente a guerra de África ou Colonial – talvez Almada tivesse escrito um outro «ultimatum».
Fevereiro de 2021.
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