Vive-se
em Dezembro e morre-se no ano todo».
É com este “pensamento” de Orlando Alves, seguramente imbuído de uma ideia crítica, que pretendo refletir sobre a chamada época natalícia. A frase está inserta na “ANTOLOGIA (POR NATUREZA) POÉTICA PARA UM CERTO NATAL”, com a chancela da Poética Edições e que foi organizada por Lília Tavares e Virgínia do Carmo, com capa de Rosário Ferreira Alves.
A reflexão tem por base exatamente
esta publicação de Novembro de 2025, cujo título é um verso de Lídia Borges: “NUMA
RUA COMPLETAMENTE ÀS ESCURAS MOVEM-SE ESTES VERSOS”. Sem nome, essa rua às
escuras – na minha leitura – representa, de alguma forma, o espírito crítico
com que iniciei este meu texto. Sabemos todos dos efeitos feéricos que marcam o
Natal, do consumismo subjacente dos «presentes» que se trocam, do eco vazio que
nos chega do silêncio perturbador de milhões de seres humanos que, certamente
numa rua às escuras, aguardam tristemente a passagem. Alma e corpo doridos,
solidão e descrença – sobretudo em palavras ocas que se escrevem e se dizem.
Repetidamente, ano após ano.
Participo nesta Antologia, grato pelo
convite da Lília Tavares, lembrando que
«nem
todas as memórias foram sonhos;
Nem
todas as prendas vieram no sapatinho.
Algumas,
porém, chegaram envoltas em doce
E fino mistério!»
É
de facto um mistério tudo o que envolve esta época do ano, que a Paula Banazol
de Carvalho sintetizou assim:
«Privilégio
de alguns passarmos
Por
muitas estações em tantos anos
Das
nossas vidas.»
E
para mim, há igualmente esse privilégio de estar acompanhado por muitos amigos
que sabem transmitir o espírito do mistério: Ana de Freitas (Escrever Natal); António
MR Martins, que nos traz Árvore de Natal de 2025; Conceição Lima, de S. Tomé e
Príncipe, que escreve sobre Memórias do Natal em 2025; Francisco Duarte Mangas,
que conta Uma história de natal com a figura de Netanyahu; José Luís Outono, a
confirmar que É Natal…; Licínia Quitério a dizer que os homens precisam de
poemas; Lília Tavares, biblicamente a dizer que «estou à porta e bato»; Olinda
Beja, de S. Tomé e Príncipe e de Portugal, que nos fala de um Natal a três
Dimensões; Regina Correia, com Um Verso de Luz; e Virgínia do Carmo, a sentenciar
que Os homens nunca souberam nascer demoradamente.
Vale
a pena perceber a qualidade desta Antologia para um certo Natal. Leia!
António
Bondoso
Dezembro
de 2025.



1 comentário:
Bem haja!
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