2011-11-17

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !


O "poema" - ou uma historieta poética - que vai o título ao meu próximo livro. Imagens e "sons" imaginados num mundo louco e cavalgante em direcção ao abismo.

UM CAVALO MONTADO NUMA NÚVEM BRANCA...

Vi-o claramente... passe a velocidade do vento

Que empurrava as núvens

Para lá do alcance da minha visão

Balizada por um tríptico de vidro à frente de uma cadeira

De articulado macaense

Onde me reclino para reflectir sobre alguns dos males

Do mundo que vivemos.

Era mesmo um cavalo montado numa núvem branca.

E voava veloz na dianteira do forte vento

Que soprava, para evitar desfazer-se no meio

Do real dilúvio intenso e permanente nessa hora.

Não relinchava...

E provavelmente não se queixava do esforço

E do chuvoso temporal

Pois ia montado numa núvem branca.

Sem cela e sem estribos não dava pinotes

Nem cavalgava...

Deixava-se simplesmente

Arrastar pelo vento que empurrava a núvem branca.

Não sei...talvez ninguém saiba ainda

O que terá acontecido ao cavalo que passou

Montado numa núvem branca

Empurrada pelo vento forte

Do temporal.

Fugiria de alguém?

Tentaria alcançar pelo contrário

Esguia figura e nebulosa?

Não por certo um qualquer D.Sebastião.

Mas no dia seguinte

Com idêntico ângulo de visão

Quase jurava de novo tê-lo visto.

Só que então – qual imagem invertida –

A núvem branca galopava na equídia garupa.

Uma núvem sorridente

Do esforço da véspera bem refeita e sabedora

Do bom que é cavalgar

Alegremente

O indomável espírito da aventura.

O sorriso

Porém

Talvez fosse efeito de razão mais séria

Que uma modesta e irónica encenação.

Um rasto de política conjuntura

Empresta um certo ar de conspiração à novela

Deste veloz cavalo montado numa núvem branca,

A qual por sua vez é agora o cavaleiro

De uma manobra arriscada

Mas com um final sugerido de promessa.

Só cooperando lá chegarão

Avisos que foram tendo em sua devida conta

Na travessia de tão violenta tempestade.

Sem a núvem branca

O cavalo sem crina não teria passado quase incólome

A aventura de tentar conquistar bispos e peões neste xadrêz

De torres fortes já tomadas,

E de uma raínha sem rei

Que a proteja

Num jogo de mistério e bem difícil.

Vencer a batalha final é maior prémio

Por demais custoso e valioso

Deixando ao acaso e pelo caso pormenores

De uma singela táctica da tradicional conquista do poder.

Da alta finança à pobreza é um salto de cavalo

Que os pobres são pessoas de encarneirado estatuto

Sempre atrás de quem preside sempre atrás de quem governa.

A certeza permanente

De um des-controlo doente

Ou qual troça sorridente

De um des-governo saloio.

Sem a ética aparente de uma honra virtual

Vai o cavalo montado numa núvem espessa e branca

Saltando de casa em casa tabuleiro viciado

À procura do sucesso de uma saída imortal.

Enfraquecer o adversário

Objectivo directo que preside e não contempla

Evidentes imprudentes dificuldades acrescidas.

Por isso tal táctica envolve e desenvolve

Inesperadas aparentes e tão ingénuas estratégias

Englobando corridas de económica loucura

E financeiras políticas no combate partidário a destempo.

Qual cavalo qual núvem

De branco já se confundem

Se um não foge nem se esconde

A outra vai-se esfumando.

E nesta síntese de vida

É o pensamento a fluir

Germinando

Dominando

Conquistando além dos sonhos

tão real aparição.

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A.B. 2011

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