UM CAVALO MONTADO NUMA NÚVEM BRANCA...
Que empurrava as núvens
Para lá do alcance da minha visão
Balizada por um tríptico de vidro à frente de uma cadeira
De articulado macaense
Onde me reclino para reflectir sobre alguns dos males
Do mundo que vivemos.
Era mesmo um cavalo montado numa núvem branca.
E voava veloz na dianteira do forte vento
Que soprava, para evitar desfazer-se no meio
Do real dilúvio intenso e permanente nessa hora.
Não relinchava...
E provavelmente não se queixava do esforço
E do chuvoso temporal
Pois ia montado numa núvem branca.
Sem cela e sem estribos não dava pinotes
Nem cavalgava...
Deixava-se simplesmente
Arrastar pelo vento que empurrava a núvem branca.
Não sei...talvez ninguém saiba ainda
O que terá acontecido ao cavalo que passou
Montado numa núvem branca
Empurrada pelo vento forte
Do temporal.
Fugiria de alguém?
Tentaria alcançar pelo contrário
Esguia figura e nebulosa?
Não por certo um qualquer D.Sebastião.
Mas no dia seguinte
Com idêntico ângulo de visão
Quase jurava de novo tê-lo visto.
Só que então – qual imagem invertida –
A núvem branca galopava na equídia garupa.
Uma núvem sorridente
Do esforço da véspera bem refeita e sabedora
Do bom que é cavalgar
Alegremente
O indomável espírito da aventura.
O sorriso
Porém
Talvez fosse efeito de razão mais séria
Que uma modesta e irónica encenação.
Um rasto de política conjuntura
Empresta um certo ar de conspiração à novela
Deste veloz cavalo montado numa núvem branca,
A qual por sua vez é agora o cavaleiro
De uma manobra arriscada
Mas com um final sugerido de promessa.
Só cooperando lá chegarão
Avisos que foram tendo em sua devida conta
Na travessia de tão violenta tempestade.
Sem a núvem branca
O cavalo sem crina não teria passado quase incólome
A aventura de tentar conquistar bispos e peões neste xadrêz
De torres fortes já tomadas,
E de uma raínha sem rei
Que a proteja
Num jogo de mistério e bem difícil.
Vencer a batalha final é maior prémio
Por demais custoso e valioso
Deixando ao acaso e pelo caso pormenores
De uma singela táctica da tradicional conquista do poder.
Da alta finança à pobreza é um salto de cavalo
Que os pobres são pessoas de encarneirado estatuto
Sempre atrás de quem preside sempre atrás de quem governa.
A certeza permanente
De um des-controlo doente
Ou qual troça sorridente
De um des-governo saloio.
Sem a ética aparente de uma honra virtual
Vai o cavalo montado numa núvem espessa e branca
Saltando de casa em casa tabuleiro viciado
À procura do sucesso de uma saída imortal.
Enfraquecer o adversário
Objectivo directo que preside e não contempla
Evidentes imprudentes dificuldades acrescidas.
Por isso tal táctica envolve e desenvolve
Inesperadas aparentes e tão ingénuas estratégias
Englobando corridas de económica loucura
E financeiras políticas no combate partidário a destempo.
Qual cavalo qual núvem
De branco já se confundem
Se um não foge nem se esconde
A outra vai-se esfumando.
E nesta síntese de vida
É o pensamento a fluir
Germinando
Dominando
Conquistando além dos sonhos
tão real aparição.
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A.B. 2011
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