***** A minha crónica de hoje no Jornal Beirão, Moimenta da Beira, escrita na quarta-feira (ainda antes da demissão de Relvas e da decisão do TC sobre o OE2013).
A TÁTICA DO QUADRADO...
... os Direitos e Tribunais na CRP, a sua normalidade em
vivência democrática e o que realmente preocupa no futuro do país.
Independentemente da decisão que o TC tenha tomado sobre
algumas das medidas do OE para este ano de 2013, a CRP – Constituição da
República Portuguesa – esteve no centro do debate, de vários debates, nos media
portugueses. Não tendo a certeza de estar aqui a aplicar corretamente o sentido
da palavra debate (em face do que se leu, viu e ouviu), arrisco todavia na
escrita. Nada de mal, caso tivesse sido um debate esclarecedor sobre a letra e
o espírito da nossa Lei Fundamental. Contudo, assistiu-se à instauração de uma
histeria coletiva a propósito de algumas figuras da nossa cena política com
tendências mediáticas.
O caso é que, não estando a CRP suspensa – como tem
ressalvado o PR e apesar da “letra morta” que o próprio TC fez da Lei
Fundamental em 2012 – o governo não teve coragem para apresentar uma moção de
confiança [estipulada no artigo 193º], perante a contestação e a revolta
populares – um sinal da perda de legitimidade, não ainda do voto mas do
exercício. Recordo o que disse o Prof. Adriano Moreira, o ano passado e já este
ano:«É absolutamente evidente que
entre o programa oferecido e o programa que está a ser executado não há
coincidência e aí começa a perda da legitimidade do exercício». Não se deve
estranhar, portanto, que um determinado grupo parlamentar apresente uma moção
de censura, tal como prevê o artigo 194º, independentemente de ela ser ou não derrotada.
E é bom que a coligação que sustenta
este governo não entenda o chumbo desta moção como uma vitória plena. É
que, a curto ou médio prazos, ela poderá vir a ser apenas uma “vitória de
Pirro”.
Acresce o facto de que, há
muito tempo a esta parte, não se via a esquerda parlamentar a votar de forma
tão unânime como agora. Mesmo apesar das típicas “reservas” de Bernardino
Soares e do PCP. Essa “unanimidade” não pode deixar de ser um ponto em equação
relativamente ao futuro. Uma outra chamada de atenção, do meu ponto de vista,
merece o discurso do ministro das finanças no debate suscitado pela moção
apresentada na AR. Nítida e preocupantemente alinhado com a alta finança
internacional, totalmente submisso ao ultraliberalismo. Implícita na sua
mensagem, a necessidade de rever a Constituição, para dar cobertura – como
agora soi dizer-se – à narrativa
perfilhada pelas doutrinas que defende. Fosse o caso presente, e já o TC não
teria razões para existir ou, pelo menos, não teria competência para apreciar a
deriva económica e social de um governo, como agora sucede. O que, diga-se
também, evitaria aborrecimentos
desnecessários ao PR, dispensado, assim, do trabalho de enviar – mesmo que
tardiamente – qualquer dúvida de lei ao dito tribunal. O tempo que o TC demorou
a analisar os aspetos menos claros da lei orçamental – bem vistas as coisas –
não foi assim tão mais alargado do que aquele que o PR teve para se decidir
pela utilização do mecanismo de fiscalização sucessiva.
Neste espaço que me concede
o Jornal Beirão, já tive a oportunidade de criticar essa hesitação do PR e as
suas eventuais consequências, ao dizer nomeadamente que “Ganhou tempo, é certo, mas não sei se perdeu o País! Poderá ficar na
História como o novo D.Sebastião!”.
Esperemos que não e que, seja qual for a extensão do chumbo do TC, o país
se mantenha a navegar! Independentemente das consequências políticas que a
decisão vier a ter. A governação não é da responsabilidade do TC, pelo que – se
houver críticas a fazer à decisão – elas apenas se deverão reportar à efetiva
morosidade e ao eventual (porque não confirmado) congelamento do anúncio da mesma decisão, para que tal não
coincidisse no tempo com a discussão da moção de censura apresentada. A
confirmar-se, isso revelaria, no mínimo, uma total falta de independência dos
juízes e do Tribunal Constitucional.
Salientando a ideia de António José Seguro, segundo a qual “mais dois anos
deste governo seria um pesadelo brutal”, deixo-vos uma nota de reflexão que há
bem poucos dias Adriano Moreira apresentou numa conferência em Guimarães sobre
o “Futuro de Portugal”, e na qual – mais uma vez – defendeu a urgência da busca
de um “Conceito Estratégico Nacional”. Disse nomeadamente o Professor que «A entrada do III Milénio vem desafiada pela circunstância
de estarmos fundadamente preocupados com o Conceito Estratégico de Segurança e
Defesa Nacional sem termos Conceito Estratégico Nacional, porque o antigo se
esgotou em 1974, nesta Europa que também está hesitante na definição do seu próprio conceito estratégico, abrangida
pela decadência geral do Ocidente».
António Bondoso
Jornalista – C.P.359
António Bondoso, Abril 2013.
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