DISCUTIR A LUSOFONIA…E
PARTICIPAR NELA, FRUINDO OS BONS SINAIS QUE
NOS CHEGAM DA “SOCIEDADE CIVIL”.
O CEMD
– Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora – fez editar a sua ANTOLOGIA UNIVERSAL LUSÓFONA, em 2014,
tendo a felicidade de encontrar um título abrangente e sugestivo [Rio dos Bons Sinais] e, para além disso,
a beleza de cores e de significados que abraçam os povos lusófonos, expressa na
capa e na contracapa de um volume de valores e de afetos com mais de 200
páginas.
Rio
dos Bons Sinais, lê-se ali, foi o nome que Vasco da Gama deu ao rio que o
levou a Quelimane, no dia 24 de Fevereiro de 1498, a caminho da Índia.
Rio
dos Bons Sinais, digo eu, termina num “delta” de 54 autores que dão vida às
águas de muitas vivências, de muitos afetos, de muitas dores que – ao longo de
séculos – deram forma a estados de alma divergentes, polémicos, violentos…mas
também de alguns afetos partilhados.
Rio
dos Bons Sinais, digo ainda eu, foi capaz de – sem esquecer uma parte –
valorizar a outra que abre os caminhos do futuro. E, sem preconceitos, destacar
a universalidade lusófona da obra, incluindo igualmente autores de origem
espanhola.
O prefaciador da obra – Rodrigo Sobral
Cunha – diz, por sua vez, sentir-se em casa tanto na Ilha do Sal como em
Sintra, “onde o mar ondula com fera/ Alegria/ E a rocha doira a fina harmonia/
- É nas praias vastas da/ Lusofonia”.
E explica: «No princípio de todas as
coisas eram os sinais». E quando os homens puderam perceber nas águas cheias de
vida e de música o reflexo de Deus, «igual em baixo e em cima», Deus sorria.
«Homens e mulheres sorriam assim com Deus e falavam por isso a linguagem de
todos os seres». Até que um dia chegaram os «Caraveleiros do Amor e disseram:
este é o Rio dos Bons Sinais. E disseram palavras – segundo Sobral Cunha – como
estas: «cristal líquido, pura música, árvores santas, gente bela saída da terra
negra com o sorriso de Deus». E pensando que vale a pena contar este «lado das
coisas», escreve: «Tudo isto se passou no começo de um mundo donde saíram as palavras
que chegaram, por milagre, até aos livros. São palavras como as que saem dos
teus lábios sagrados. Há quem se lembre de tudo completamente e sempre que isto
acontece faz-se um sinal na lusofonia. Já não é segredo: os seres da manhã do
mundo guiam-se por estes sinais».
Há quem não goste e conteste. Com toda
a legitimidade, claro! Mas, tal como a universalidade de uma língua já falada
há oito séculos – não sendo hoje apenas dos portugueses, mas de todos os povos
que dela se servem – é incontornável que os sinais sejam intemporais. E o rio
que deles emana, sendo eterno, vai-se alargando e ensinando as palavras da
música pura, em baixo e em cima das águas, sorrindo com Deus.
A lusofonia, volto a dizer eu, é o
«projeto mais aliciante deste século, em termos de construção política
internacional”.
Por isso é que eu, nascido em Moimenta
da Beira e crescido e vivido em S. Tomé e Príncipe, escrevi em MARE MAGNUM… que “foram navios de vidas/
Soldados de muitas pátrias/ Escravos de tanto mundo/ Que o mar levou ao fundo”.
E por isso é que o Delmar Maia
Gonçalves, nascido em Quelimane – ali bem perto do Rio dos Bons Sinais – sendo ele
«Nem mais nem menos»…escreve que «E sou um nómada/ Um pássaro livre/(…)E sou um
inconformado/ Descomprometido/(…) E estou louco como todos/ Mas viajo sozinho
no tempo/ E sou um inútil/ Que procura ser útil».
E por isso é que a Gisela Torquato
Cosme, que nasceu em Luanda e vive em Lisboa, diz que «A vida tem mistérios/
Que nem todos os homens/ chegam a descobrir»…e Goretti Pina, que nasceu no
Príncipe mas igualmente vive em Lisboa, escreve que, nas suas ilhas, há «Dias
para serem contemplados. (…) E há dias na minha terra,/ sequiosos de amanhãs!».
Por isso é que Lopito Feijóo, que
nasceu em Malanje e vive em Luanda – onde é presidente da Sociedade Angolana do
Direito de Autor – diz que, acima de tudo, A POESIA! Ele que escreve «comprei
vendi troquei as notas da esperança/ a jusante a montante e sei lá…/ empresário
nunca jamais porém/ todavia contudo(…)».
E por isso é que Lourdes Peliz, também
nascida em Moçambique, escreve que todos temos uma missão: (…)«No gesto, na acção,
na diferença e no seu efeito».
Por isso é que Vera Fornelos, nascida
em Viana do Castelo e moçambicana de alma e coração, trocou a «Linha de
Montagem» de uma fábrica pela liberdade de escrever – também poesia…e talvez
por isso, do mesmo modo, a brasileira Valentina Sperb, de Porto Alegre, seja
levada a escrever sobre a subida dos degraus: «Suba um por um,/ pois na vida é
assim./ Se você se apressar,/ e subir de dois em dois,/ ou três em três,/ o
tombo vai ser grande,/ e a dor maior ainda.»
Dia a dia, ano por ano…façamos crescer
as águas deste grande Rio dos Bons Sinais!
Um abraço a todos, mesmo aos descrentes – quer por opção filosófica e
intelectual, quer por ser politicamente correto dizer mal.
António Bondoso - 30 de Junho de 2014-
António Bondoso
Jornalista.
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