UM ABRAÇO A TODA A POPULAÇÃO DE S. TOMÉ E DO PRÍNCIPE.
Foto/composição gráfica de Miguel Bondoso
Este é um texto/entrevista (via e-mail) que, há dois anos, o meu amigo e camarada Frederico Gustavo dos Anjos resolveu atenciosamente proporcionar-me. Fiquei e continuo grato pela disponibilidade. Tendo a percepção - mesmo que errada e a dois anos de distância - de que nem tudo terá "mexido" muito, arrisco colocar aqui de novo o texto que resultou dessa "conversa". Perdoar-me-ão se tudo estiver ultrapassado.
Obrigado.
Para assinalar e saudar esta efeméride do 39º aniversário da Independência de STP.
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INDEPENDÊNCIAS EM ÁFRICA...
O caso particular
de S.Tomé e Príncipe – o país mais pequeno do continente mas que pode ser visto
como um dos últimos paraísos do Planeta. Mas nem tudo são “ROSAS DE
PORCELANA” –
uma flor tropical que é vista como um verdadeiro ex-líbris do país.
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35 anos é um marco
aceitável para perspectivar os caminhos traçados e percorridos
pelos novos países africanos (neste caso de língua portuguesa).
Frederico Gustavo
dos Anjos é um Amigo, antes de o rotular como Poeta ou homem de e da Cultura.
Que também passou pela política e dela bebeu ensinamentos – rejeitando os males
próprios da função. Depois, um certo distanciamento permitiu-lhe um olhar mais
“independente” e/ou “objectivo”. Por todos estes motivos entendi propor-lhe
responder a algumas questões. Poucas mas as essenciais para tentar perceber a
realidade de STP. Não há perguntas polémicas ou difíceis...as respostas é que o
poderão ser. Mas o objectivo desta “conversa” (via e-mail) passa apenas pela
intenção de celebrar os 37 anos (Agora já 39) da independência do país.
*** 37 já passados (Agora já 39), (21 dos quais numa fase de multipartidarismo e de aprendizagem democrática),
como é que se pode descrever a situação em S.Tomé e Príncipe?
…passo a passo a
democracia vai-se consolidando. A sua implantação gerou, é certo, muita
espectativa. A insatisfação, o descontentamento crescente da última fase dos
primeiros quinze anos da nossa independência permitiram o reconhecimento da
necessidade de mudança. E mudança foi feita para grande alegria da esmagadora
maioria da nossa população. Os espíritos contrafeitos renderam-se depois à
evidência dos acontecimentos ao ponto de, em discursos, se disputarem o mérito
da iniciativa da mudança.
Entrou-se numa nova
fase do período pós-independência. Acho é que não se soube capitalizar o
entusiasmo, a energia brotadas desse processo em projectos de visibilidade com
impacto nas condições de vida das pessoas. Cedo surgiu o desencantamento.
Transportaram-se as frustrações e ambições pessoais, presumpções de
superioridade conferidas por experiências políticas anteriores, megalomanias
camufladas para o interior das instituições e escudando-se em leituras (mal)
feitas e interpretações aleatórias das relações institucionais originaram
conflitos e crises, com desmantelamento das instituições, encenações de golpe
de estado que só contribuíram para causar ou reproduzir prejuízos ao processo
de recuperação económica do país.
Agora fala-se é da
garantia de estabilidade. Virou tema de todas as intervenções. Sem dúvida que
após as danças de instabilidade sobre instabilidade tem de se reconhecer que o
país precisa de paz (aqui nunca houve guerra!) e de estabilidade política para
que governos possam de facto prosseguir com a acção governativa. Mas o receio
paradoxo reside no facto de se instalar uma espécie de clima de intimidação que
faz com que ninguém queira carregar o ónus de responsabilidade de provocação de
novas crises. Por conseguinte, essa situação gera impasses que podem retardar
ou inviabilizar a expressão de críticas ou denúncias de actos que exigem
responsabilização. No fundo é como se tudo estivesse bem.
A democracia trouxe
consigo as eleições (livre e justas, como se o poder do banho pudesse ser
menosprezado em contextos de desemprego e pobreza, e toda as relações de
subserviência que os acompanham), a liberdade de informação e de expressão, mas
arrastou também consigo a desordem, a indisciplina, a violência doméstica.
A justiça,
parte integrante de todo esse processo, continua uma pedra no sapato dos
sucessivos governos (e houve muitos, vários).
Enfim, consola
pensar, como se dizia em 90, “quinze ano já chegou!...” E se alguma coisa
aprendemos do passado, resta é trabalhar no sentido de se prosseguir com a
consolidação da democracia, que na minha perspectiva deve ter como fundamento
melhor (re)distribuição de recursos (acesso à informação, aos serviços sociais
de base, às oportunidades de formação, de emprego, de rendimento,…).
*** Um
exemplo gerador de conflitos tem sido a aplicação prática da actual
Constituição do país...
O problema deve
estar na interpretação que uns e outros fazem sempre em função dos seus
interesses. A questão já se levantou há muito e foi como consequência do debate
inacabado que uma revisão pontual serviu para reduzir os poderes do presidente…
*** Vale a pena
insistir no modelo... ou será conveniente enveredar pelo tradicional modelo
Presidencialista ?
A pergunta deve
ser: Que Constituição para S. Tomé e Príncipe? E outras questões se devem
colocar, como a da divisão político-administrativa, por exemplo. O fundamental
é que não haja revisão ou revisões em função de interesses pessoais ou de
grupos. Já ouvimos, presidencialismo sim, mas com este não. Aquele vai se
tornar ditador. O outro vai gerir o país como a sua roça…
Penso é que, se nos
ativermos no fundamental, qualquer revisão deve ir no sentido de adequação das
instituições à realidade do país, que, ainda que venha a poder contar com
recursos adicionais, deve evitar a proliferação de instituições, a criação de
figuras de ostentação e esbanjamento de recursos.
*** O
“regresso” de Pinto da Costa.
Se percebi a questão: Não houve “regresso”. Pinto da Costa candidatou-se mais
uma vez convencido de que pode dar alguma contribuição nesse processo de
consolidação da democracia. De acordo com os resultados das eleições
presidenciais ganhou e é o actual presidente. Só nos resta esperar que as suas
prestações como presidente não venham a defraudar as expectativas dos cidadãos.
*** Um sinal de
necessidade de recorrer à credibilidade e experiência... ou falta de soluções e
de empenho político das novas gerações ?
É verdade que a sua
vitória possa ser susceptível de leituras. As perturbações do período
pós-mudança deixaram muito ténues as recordações e as feridas do passado dos
quinze anos, por um lado. Por outro lado, uma franja considerável dos eleitores
é constituída por gente jovem que não viveu os “quinze anos” e os sentimentos
nefastos daquele período neles não foram incutidos. Ficou para a história!
E como também não
surgiram candidatos de consenso, pode ser que a estratégia de candidatura de
Pinto da Costa tenha beneficiado dessa evolução. Portanto, não houve
“regresso”. Falemos antes de uma nova oportunidade de participação que,
esperemos, ele saiba aproveitar em benefício dos seus concidadãos?!
*** Há sinais
evidentes de recuperação económica ?
A situação de
pobreza é incontestável, mesmo que paralelamente se encontrem manifestações de
ostentação de riqueza de origem desconhecida ou duvidosa. Constata-se
carências, observa-se insuficiências. A forte dependência do exterior é
expressão desse quadro interno.
Apesar dos esforços
de aumento da produção e de diversificação da economia, os resultados continuam
modestos. Os níveis de produtividade e de produção estão longe de poder
corresponder às necessidades.
O processo de
privatização e distribuição de terras não deu lugar a uma agricultura mais
dinâmica. A pesca continua essencialmente artesanal. O turismo como aposta tem
dado o seu contributo, mas ressente-se da insuficiência de condições para o seu
desenvolvimento. Grassa o pequeno comércio e negócios informais que francamente
reproduzem o ciclo de circulação de capital, mas não dão lugar à acumulação.
O paludismo anda
num vai e vem que embaraça o quadro do seu combate, para além dos esforços
financeiros que exige.
Mas há pequenos
agricultores bastante dinâmicos, a produção do cacau biológico está ganhando
pé; tem havido uma actividade turística que promete se forem criadas melhores
condições de atracção; as infra-estruturas de apoio à produção também têm sido
alvo de atenção e um rol de promessas por concretizar no sentido de trazer
investidores para o país, de transformar o país numa plataforma de prestação de
serviços… tudo razões bastantes para que se mantenha a expectativa, já sem
falar de oportunidades que uma possível exploração petrolífera irá determinar.
E deixo igualmente um "poema" de esperança que o Fred - para os amigos - teve a amabilidade de partilhar comigo. E que eu agora, partilho convosco.
STP.FredAnjos2012.
...conto
contigo
na minha oração
assim tem alívio
o meu coração.
na minha oração
assim tem alívio
o meu coração.
Anda
perdido
em busca de ti
de noite e de dia
és tu perdição.
em busca de ti
de noite e de dia
és tu perdição.
Pudera
que fosse
outra a canção
que canta o destino
na nossa junção.
outra a canção
que canta o destino
na nossa junção.
Mas
esta é a ideia
da vã teimosia
que põe distante
o canto gritante
do horizonte vibrante
de sonhos desfeitos.
da vã teimosia
que põe distante
o canto gritante
do horizonte vibrante
de sonhos desfeitos.
Mas
vale a pena
este eterno sonhar
por ti paixão de tanta ilusão
andando perdido na confusão
este eterno sonhar
por ti paixão de tanta ilusão
andando perdido na confusão
mas
por ti ilusão de tanta paixão
cresce inda assim o canto
das ilhas do meu coração
que o tempo com o tempo
vamos mudar
plantando e semeando
esta nossa outra oração.
cresce inda assim o canto
das ilhas do meu coração
que o tempo com o tempo
vamos mudar
plantando e semeando
esta nossa outra oração.
Em
7 de Julho de 2012
Frederico
Gustavo dos Anjos
================== sobre
o 12 de Julho.
Viva S.Tomé cu Plínxipe.....................
====António Bondoso
Julho de 2014.
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