A PROPÓSITO DO DIA DA TERRA...
Recordo uma breve reflexão, já com uns anos - embora poucos -
DIA
DA TERRA:
UM FUTURO
CONFIÁVEL?
“A capacidade de
projectar o futuro será cada vez mais importante para gerir, controlar e
procurar minimizar os riscos sociais, tecnológicos e ambientais que se irão
avolumar ao longo do século XXI (...). Finalmente é também necessário aceitar a
inevitável incerteza inerente às tentativas de projectar o futuro”.
Filipe Duarte Santos (2007)
Do “não
sei” de Vitorino Magalhães Godinho à “inevitável incerteza” de Filipe Duarte
Santos – quanto ao amanhã – não existe qualquer passo desencontrado. Talvez
apenas a diferença nos discursos de um Historiador e de um catedrático de
Física – acentuada eventualmente pelo lapso temporal na publicação das obras,
2010/2007. A primeira tem presente a atual crise, concluindo Vitorino Magalhães
Godinho que “É possível que, baixada a febre mas não debelado o mal, voltemos
aos carris do mundo de finais do século XX e início do XXI. A crise de
excecional gravidade que atravessamos poderá não passar de uma oportunidade
perdida, poderia ser uma oportunidade para mudar de rumo. Mas seria necessária
coragem e lucidez – que não se encontram à venda nos supermercados, essas
catedrais dos novos tempos”.
Quase
premonitória esta visão de Magalhães Godinho. Baixou a febre mas o mal parece
não estar ainda debelado. Pode recordar-se, a propósito, um dos remédios
recomendados pelo Professor: libertar a economia das garras da especulação
financeira.
Relativamente
à segunda obra – de Filipe Duarte Santos – a visão pessimista abrange um
horizonte temporal muito mais vasto: “A coexistência de valores contraditórios
associados ao atual modelo dominante de desenvolvimento tende a gerar incerteza
e alguma ansiedade. O futuro foi e será sempre incerto mas, hoje em dia, a
incerteza envolve os riscos altamente complexos que resultam de desigualdades
de desenvolvimento entre países, da insegurança e conflitualidade sob formas
cada vez mais diversas e perigosas, e ainda de vários problemas ambientais
graves”. Por isso, acrescenta, “são cada vez mais os que procuram encontrar
novas éticas ambientais e novos paradigmas de governação capazes de nos
conduzir à sustentabilidade do desenvolvimento”.
Como
refere Neto da Silva (2007) – “Estamos, pela primeira vez na História da
Humanidade, numa encruzilhada. De facto, se continuarmos com o crescimento que
conhecemos nos últimos séculos, o Planeta deixará de ter condições para que o
Homem nele viva”.
É o
crescimento de que nos fala ainda Vitorino Magalhães Godinho ao salientar a
nova (velha?) ideologia, da qual se deve distinguir o conceito de
desenvolvimento: “As nações avançam em pelotão, as de trás procuram recuperar o
atraso (de novo recuperar o atraso). A curva do sempre sacrossanto PIB
revelaria a recuperação conseguida e o prosseguir da maratona por todos.
Confiança imerecida nesse indicador – o Nobel economista Joseph Stiglitz dirige
estudos para forjar indicadores mais fiáveis”. Tudo isto à margem, ou mesmo à
custa, do direito fundamental que é a inviolável dignidade da pessoa humana?
“Seria mais pertinente ter em conta o salário mínimo como indicador, e melhor
ainda uma bateria de indicadores (fundação e extinção de empresas, evolução das
bolsas, curvas de preços e salários, etc.)”.
Mas os
estudos podem, ainda e de novo, não ser fiáveis ou adaptáveis. E há que ter em
conta uma decisiva questão: o planeta é finito.
Por isso
é que Neto da Silva acrescenta que “Eficiência e Competitividade cegas
destruirão as hipóteses de vida sobre a Terra. Por isso, a ideologia da
globalização competitiva, para ter sucesso, como é desejável, tem que se basear
em eficiência e competitividade compatíveis com um desenvolvimento que
satisfaça as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as
gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades. Uma tal visão do
progresso liga, de forma interdependente, desenvolvimento económico, proteção
do ambiente e justiça social”.
Sinónimo
de Desenvolvimento Sustentável?
Foto de António Bondoso
ANTÓNIO BONDOSO
JORNALISTA
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