O 66º NÃO É UM ANIVERSÁRIO QUALQUER!
VIVER
É CANSATIVO!
Assumindo a ideia de Armand Robin,
segundo a qual não temos a certeza de
pertencer à nossa própria vida, devo dizer que completar 66 anos de
existência – para além de toda a simpatia que o número possa gerar – não deixa
de ser um marco significativo de uma certa ideia de equilíbrio, físico e
mental, perante as contradições e os perigos de dois tempos distintos: a
juventude e a idade adulta. Viver sem
rede, trabalhar no arame, assumir riscos e desafios sem pesar consequências
– posso dizer terem sido circunstâncias que desenharam muitos passos do meu
circuito. Quer no tempo ativo, quer no designado período de aposentação.
E agora, completados os 66, tudo isso
me subiu ao quinto andar com uma
nitidez invejável – não tivesse eu clarificado recentemente no escrito EM AGOSTO…A LUZ DO TEU ROSTO [e um escritor, como diz Olivier Rolin
em O MEU CHAPÉU CINZENTO, é quase inevitavelmente alguém desequilibrado], os momentos mais significativos de um
percurso que me levou de Moimenta da Beira a Macau, pousando longamente a “juventude”
em S. Tomé e Príncipe [onde foi marcante o ano de 1966] e a “idade adulta” no
Porto [onde se desenrolou a maior parte da carreira profissional]. Expressão desse
trajeto sentimental foram sem dúvida as incontáveis mensagens de felicitações
que me chegaram de viva voz, por sms
e por meio das redes sociais da Web,
não só do Minho aos Algarves, e se estenderam igualmente a Goa, Londres, ao Canadá, Brasil e à Colômbia,
morando aqui um sinal destes tempos de inquietação e de emigração quase forçada.
Talvez não tenha dado resposta atempada e merecida a todos esses gestos de
atenção e de carinho, pelo que o faço agora e aqui com a devida vénia. Lembrando
até a graça que foi ter ouvido ao telemóvel os parabéns “cantados” – quase ao
estilo dos antigos “telegramas”.
E depois o amparo do núcleo familiar, a
mulher e os filhos, o bolo especial com mensagem dedicada e a presença de um
casal amigo que fez questão de estar e de partilhar esse momento particular de
soprar as velas e de formular desejos. São simples os meus: saúde, paz
interior, a devolução da quietude e da esperança sorridente de outros anos. O
futuro é sempre incerto…e o do país não se apresenta brilhante, apesar de
alguns sinais positivos. O caso é que já não é fácil acreditar em políticos e
em banqueiros que nos tolheram os passos. E a campanha eleitoral que agora
decorre, apesar do tino que possa aparentar, também não nos oferece
tranquilidade quanto à capacidade e aos valores de todos os candidatos em
presença.
Resta-me voltar a Olivier Rolin e aos “escritores”:
o primeiro dever do escritor, antes de «contar
estórias» ou de «fazer sonhar», como está de novo na moda, continua a ser o de
dar um sentido mais puro às palavras da tribo. Por isso me agarro à
esperança de poder contribuir…escrevendo! E vivendo…para além do cansaço!
António Bondoso
Jornalista
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