2016-06-27

NUNCA DEIXEI DE O TRATAR POR "PRESIDENTE".

Foto de A. Bondoso

RAMALHO EANES – 40 ANOS DA ELEIÇÃO.

Sei que o “Presidente” não gosta de elogios, sobretudo quando são fáceis e de forma exagerada. Como parece ser o caso destes dias.
Mas este meu “escrito” não trata apenas de mencionar elogios. E seria tão simples. Por motivos diversos. Até pelo seu humor.
Porque me demonstrou amizade em alturas de adversidade. Porque me convidou a integrar a sua comitiva quando visitou S. Tomé e Príncipe em 1984 – país que nunca deixará de ser a terra onde cresci desde os 3 anos de idade e me fiz homem; porque desde sempre percebeu a importância da independência da comunicação social e, por consequência, dos jornalistas – respondendo sem hesitações a um convite meu para conhecer as instalações da RDP no Porto (por alturas de mais uma comemoração do 10 de Junho) quando a afirmação do nosso trabalho não era fácil. Também porque sempre esteve disponível para me ouvir e para conversarmos sobre a evolução da vida política, social ou económica do país. Ramalho Eanes foi sempre, não só para mim, uma voz autorizada.   
Por outro lado, com estas breves palavras, pretendo igualmente destacar as capacidades de António Ramalho Eanes nos chamados tempos das “impossibilidades”. Primeiro, a quase impossibilidade de fazer vingar este país à beira-mar plantado depois do traumático – por tardio e atabalhoado – mas inevitável processo de descolonização. E depois, pela sua visão atempada de reconhecer os benefícios da normalização do relacionamento com os novos países de língua portuguesa saídos desse mesmo processo. Foi o caso do chamado “espírito de Bissau”, quando em 1978 conseguiu, com Agostinho Neto, relançar o convívio das nações. Não só com Angola, país com o qual foi então assinado um importante Acordo Geral de Cooperação, exatamente uma semana depois de Angola ter aberto a sua Embaixada em Lisboa. O ano seguinte seria de consolidação do relacionamento, mas depois assistimos a uma nova, embora mais “suave”, travessia do deserto. Que ainda não terminou, apesar de ambos os países integrarem a CPLP desde 1996.
Portanto e por tudo isto, o meu elogio seria fácil. Mas ele sabe que escrevo o que me dita o coração. Não precisamos de intermediários. Assim, aqui lhe deixo mais um grande abraço, extensivo a toda a sua Família e, em particular, à sua mulher Manuela por quem nutro grande estima e simpatia.
António Bondoso
27 de Junho de 2016.

Foto de A. Bondoso

António Bondoso
Jornalista

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