2016-09-12

A PROPÓSITO DE MAIS UM CONVÍVIO DE SÃO-TOMENSES NO BUÇACO. 

NÃO HÁ SAUDADES QUE CAIBAM EM 40 ANOS…
…mas a catarse está praticamente concluída!



Tudo começou na Cruz Alta, na Mata do Buçaco, em 1976. A comunidade de ex-residentes e/ou de naturais de S. Tomé e Príncipe começou ali a reunir-se em Setembro de cada ano para manter o contacto, para matar saudades, para desabafar, para confraternizar. E creio até que, apesar da turbulência da época, sempre se conseguiu resistir à tentação de falar de e em política, fosse qual fosse a dimensão da palavra. E convenhamos que não era nada fácil.
Na sequência do processo de Descolonização havia já um rótulo – retornados – embora o sentido não pudesse aplicar-se a todos por igual. Retornados, regressados, repatriados, desalojados, espoliados – palavras que, isoladas, não conseguiam determinar exatamente as emoções e as reações de cada um, perante o desenrolar da história.

Os traumas estavam muito vivos ainda…e muitos teriam até receio ou mesmo vergonha em assumir a saudade da história das suas vidas e de conviver sem tabus. Mas, honra seja feita à comunidade “são-tomense”, esse sentimento de tentar perceber os caminhos novos ganhou corpo e foi-se consolidando, sempre com a ideia de que os convívios são a expressão de nos revermos nos cabelos mais brancos de cada um ou no abraço do parceiro que, algumas vezes e pela corrida do tempo, já nem recordamos o nome. Sem saudosismos, mas para matar saudades, quem não teve oportunidade de regressar ao paraíso, vai repetidamente enchendo o coração com memórias de outros tempos. Todos continuam escravos do milongo, escravos do feitiço das ilhas do meio do mundo – agora do chocolate - onde o cantar dos pássaros desperta os sentidos. No fundo, a História não acabou nem começou em 1975. Passou a ser diferente. Há hoje dois países independentes, embora irmanados num espírito mais vasto do mundo que se expressa em língua portuguesa. Isso mesmo foi este domingo salientado no local pelo Cônsul de STP para a região centro de Portugal – José Diogo – por ocasião da celebração do 40º aniversário do convívio, simbolizado num bolo com as bandeiras dos dois países. José Diogo, ele também um dos participantes habituais nos encontros, consumidor igualmente das memórias que alimentou nas ilhas. E a sua presença, hoje como em outras ocasiões, foi marcada pela sua capacidade de saber distinguir a sua vida privada das funções que desempenha em representação de STP.

 Por motivos diversos e por maioria – nestas questões é raro conseguir a unanimidade – este foi também o último encontro nos moldes que vinham sendo definidos, praticamente desde o início, quando o senhor Leal teve a ideia e a foi concretizando com a ajuda do Domingos, do Victor Cruz, do Eduardo Duarte, do Oliveira e do Américo.
Por isso eu digo que a catarse está praticamente concluída, embora as saudades de quem “viveu” as ilhas de S. Tomé e do Príncipe não caibam em 40 anos. Por isso nos vamos continuar a encontrar, provavelmente mais do que uma vez por ano, quer seja no Luso, no Buçaco, em Montachique, no Porto, em Lisboa ou na Figueira da Foz. Certamente por aí…num lugar onde nos sintamos bem.
Até sempre gente boa. Até sempre portugueses, até sempre são-tomenses!

António Bondoso

Um dos implicados.

Sem comentários: