A PROPÓSITO DE MAIS UM CONVÍVIO DE SÃO-TOMENSES NO BUÇACO.
NÃO
HÁ SAUDADES QUE CAIBAM EM 40 ANOS…
…mas
a catarse está praticamente concluída!
Tudo
começou na Cruz Alta, na Mata do Buçaco, em 1976. A comunidade de ex-residentes
e/ou de naturais de S. Tomé e Príncipe começou ali a reunir-se em Setembro de
cada ano para manter o contacto, para matar saudades, para desabafar, para
confraternizar. E creio até que, apesar da turbulência da época, sempre se
conseguiu resistir à tentação de falar de e em política, fosse qual fosse a
dimensão da palavra. E convenhamos que não era nada fácil.
Na
sequência do processo de Descolonização havia já um rótulo – retornados –
embora o sentido não pudesse aplicar-se a todos por igual. Retornados,
regressados, repatriados, desalojados, espoliados – palavras que, isoladas, não
conseguiam determinar exatamente as emoções e as reações de cada um, perante o
desenrolar da história.
Os
traumas estavam muito vivos ainda…e muitos teriam até receio ou mesmo vergonha
em assumir a saudade da história das suas vidas e de conviver sem tabus. Mas,
honra seja feita à comunidade “são-tomense”, esse sentimento de tentar perceber
os caminhos novos ganhou corpo e foi-se consolidando, sempre com a ideia de que
os convívios são a expressão de nos
revermos nos cabelos mais brancos de cada um ou no abraço do parceiro que,
algumas vezes e pela corrida do tempo, já nem recordamos o nome. Sem
saudosismos, mas para matar saudades, quem não teve oportunidade de regressar
ao paraíso, vai repetidamente enchendo o coração com memórias de outros tempos.
Todos continuam escravos do milongo, escravos do feitiço das ilhas do meio do
mundo – agora do chocolate - onde o cantar dos pássaros desperta os sentidos.
No fundo, a História não acabou nem começou em 1975. Passou
a ser diferente. Há hoje dois países independentes, embora irmanados num
espírito mais vasto do mundo que se expressa em língua portuguesa. Isso mesmo
foi este domingo salientado no local pelo Cônsul de STP para a região centro de
Portugal – José Diogo – por ocasião da celebração do 40º aniversário do
convívio, simbolizado num bolo com as bandeiras dos dois países. José Diogo,
ele também um dos participantes habituais nos encontros, consumidor igualmente
das memórias que alimentou nas ilhas. E a sua presença, hoje como em outras
ocasiões, foi marcada pela sua capacidade de saber distinguir a sua vida
privada das funções que desempenha em representação de STP.
Por
isso eu digo que a catarse está praticamente concluída, embora as saudades de
quem “viveu” as ilhas de S. Tomé e do Príncipe não caibam em 40 anos. Por isso
nos vamos continuar a encontrar, provavelmente mais do que uma vez por ano,
quer seja no Luso, no Buçaco, em Montachique, no Porto, em Lisboa ou na
Figueira da Foz. Certamente por aí…num lugar onde nos sintamos bem.
Até
sempre gente boa. Até sempre portugueses, até sempre são-tomenses!
António
Bondoso
Um dos
implicados.
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