UM
MESTRE…SIMPLESMENTE ZÉ!
Olá Zé.
É
um dia como qualquer outro para viajar. Sei que não se trata de uma viagem
vulgar – é a tua última neste nosso tempo comum – mas o dia é de luz, como tu
gostavas. E vai atapetando as estrelas até que nos encontremos de novo.
A
última vez que falei em ti, em público, foi durante a apresentação do livro ANGOLA NOUTROS TEMPOS – POR TERRAS DO
GOLUNGO E DE AMBAQUISTAS, terras que tu conheceste na tua infância e adolescência,
bem como os teus irmãos Irene e António, por motivos de ligações familiares. O
livro é da autoria de Jerónimo Pamplona, que em Luanda conheceu e casou com uma
jovem de Golungo Alto.
A
última vez que estivemos juntos foi aí no teu espaço da Fábrica Social, no Porto,
quando um grupo de jovens alunos do Instituto Multimédia se propôs tornar-te
personagem de capa de um trabalho sobre a eventual união das cidades do Porto e
de Gaia, que tu sempre defendeste.
Mas
quando recebi a notícia da tua partida, foi fácil rebobinar o filme de um
conjunto de situações que nos foram aproximando ao longo dos anos. Primeiro foi
a Árvore, uma instituição cultural de referência da cidade do Porto e do país;
depois foi a arte em Vila Nova de Cerveira, que começou com o artesanato e se
transformou na grande Bienal que perdura; ainda em Cerveira o teu esforço na
recuperação do Convento de San Payo praticamente em ruínas e hoje uma obra de
referência no panorama cultural do país; ainda na minha memória, a tua passagem
por Macau e a Pérola belíssima que lá deixaste; e agora este espaço fabuloso de
ateliers diversos e de teatro – foste, de facto, um dos grandes pensadores e
executores de fabulosos cenários teatrais – em que transformaste a Fábrica
Social e onde passaste os últimos tempos. E pelo meio de todo este filme não
pude esquecer as nossas conversas semanais nos estúdios do Porto da Antena 1, também
com o Júlio Montenegro e nas quais fazias parceria com outros comentadores “residentes”
como António Vilar e Jorge Bento.
Para
além de tudo isto, uma das situações que mais me marcou, pela tua simplicidade
generosa, foi decidires elaborar duas pinturas deliciosamente fabulosas para o
meu livro TONS DISPERSOS, publicado
pela VEGA em 2003. Uma atitude que revela o teu jovial estado de espírito, a
tua disponibilidade para ajudar, sempre a troco de nada. Amizade e
solidariedade. Ser-te-ei eternamente grato, sabendo que nunca te poderei pagar
o gesto. És, na memória de muita gente, um homem bom. Confesso mesmo nunca ter
ouvido uma referência pouco abonatória a teu respeito. E não tem a ver seja o
que for com a habitual ideia que se transmite de passamento em passamento…ai,
ele era tão bom homem. Não. Tu foste um grande homem!
Como
estudante, foste um dos QUATRO VINTES da Arquitetura do Porto. E depois a tua
participação na luta para construir a ÁRVORE, enfrentando perigos diversos. Marido,
Pai e Avô – outros estádios a merecer um destaque particular.
Não
vou poder estar hoje contigo, pois havia já assumido compromissos que me levam
para longe do Porto. Mas terei sempre a tua companhia aqui em casa. E
continuarei a acompanhar as tuas obras. Até um dia destes Zé. Até já Mestre Zé Rodrigues. Não te era caro
este tratamento, mas todos sabemos que era merecido. Sempre grato pela tua
Amizade, desejo apenas boa viagem!
António Bondoso
Jornalista
Setembro de
2016.
Sem comentários:
Enviar um comentário