2016-12-22

NATAL - UMA QUADRA DE SIGNIFICADOS MAL PERCEBIDOS. A CRISE NÃO ACABOU...APESAR DAS MARATONAS AOS CENTROS COMERCIAIS.


QUANDO DECIDIRMOS FALAR DE NATAL…
FALEMOS DE JUSTIÇA E DE AMOR.

         De amor, seja o que for que entendamos pelo conceito: solidário, disponível, amigo, atento, presente, carinhoso, paciente, compreensivo, alegre, sorridente, ouvinte, confidente, partilhado, arejado.
Não me venham falar de Natal, quando a miséria, a pobreza, a desigualdade entre os indivíduos dos diferentes troncos da raça humana se acentua; não me falem de Natal quando os “donos disto tudo”, banqueiros e mercados sem rosto, somam cada vez mais às suas fortunas roubando o produto de quem trabalha e de quem já trabalhou; não me falem de Natal quando os jovens não têm futuro na terra onde nasceram; não me venham falar de Natal quando as migrações são cada vez mais forçadas por situações de conflito social, de guerra e de perseguições políticas – da Síria ao Sudão, da Líbia ao Iraque, da Sérvia ao Kosovo, da Albânia à Turquia, do Líbano a Israel, da Rússia à Palestina, do Paquistão à Índia, da Indonésia às Filipinas, da China ao Tibete, do México aos Estados Unidos, da Alemanha à Hungria, do Congo ao Chade, do Mali ao Iémen, da Tunísia ao Burquina Faso, de Angola ao Zimbabwe, do Brasil à Venezuela. Não me falem de Natal quando as crianças em todo o mundo são violentadas pela fome e pela escravidão.
Não me falem de Natal sem referir Justiça, sem lembrar o sacrifício de Jesus Cristo – esse mesmo cujo nascimento celebramos há séculos por esta altura, o que nada tem a ver com a figura do Pai Natal fabricada pela Coca-Cola – e do Papa Francisco que, com muita coragem e com muita persistência, nos tem devolvido alguma esperança e muita Fé.  
Não me falem de Natal, quando ver morrer jovens à porta dos hospitais começa a tornar-se moda, tendo por base cortes orçamentais absurdos. E dos mais velhos nem vale a pena falar, aumentando as situações críticas já mesmo à porta das farmácias – quando não, até da porta de suas casas. Não me venham falar de Natal quando os avós e os pais já não conseguem – em cada dia – fazer face ao desespero dos filhos. Não me falem de Natal, quando há situações diárias de pais e filhos desavindos. Não me venham falar de Natal, quando há escolas que não funcionam por falta de verbas. Não me falem de Natal quando a violência doméstica é cada vez mais comum; não me falem de Natal quando os vizinhos se agridem por uma flor de jardim ou por um arbusto saído; não me venham falar de Natal quando as alterações climáticas – resultado sobretudo das ambições desmedidas do “homem” – conduzem à morte do nosso planeta a um ritmo assustador.
         Não me venham falar de Natal apenas em Dezembro. 
         Falem-me de Justiça, de Cristo e de Consciências Iluminadas.
Enviei, aceitei e retribuí mensagens de Boas Festas. Sobretudo para os amigos que muito considero. Mas não me falem de Natal, quando percebo nesses gestos apenas uma circunstância de moda. Não me venham falar de Natal quando se consomem fortunas em decorações de rua e nas casas de cada um, apenas para umas horas de mesa e de companhia desfeita; não me falem de Natal quando o consumismo se concentra em figuras como a Popota ou como a Leopoldina. Não me venham falar de Natal, quando as compras e as trocas de presentes são a razão única de estabelecer um convívio de amigos e de famílias.
         Não me venham falar de Natal…por tudo isto!
         Falem-me de Amizade presente e desinteressada, falem-me de Justiça, dos verdadeiros valores do humanismo. O Natal é isto: Paz em todos os habitantes do planeta e amor – seja o que for que entendamos pelo conceito: solidário, disponível, amigo, atento, presente, carinhoso, paciente, compreensivo, alegre, sorridente, ouvinte, confidente, partilhado, arejado.

Dezembro de 2016
António Bondoso
Jornalista    


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