2017-01-01

NESTE PROMONTÓRIO...NADA DE NOVO!

Foto de Ant. Bondoso.

Acordo, estou vivo. Apalpo a moleirinha, belisco o pulso e dou comigo a ouvir um centenário comunicado do porta-voz da unidade hospitalar em que se transformou este imenso Portugal, este promontório mais ocidental da Europa.
         Ele é o vírus H3N1 – a ou b tanto faz – ele é a corrida às urgências, mas sem vítimas do terrorismo, para desespero dos pés de microfone, ele é os aumentos do gás e da água, do bilhete do elétrico ou do metro, dos combustíveis que fazem mexer a geringonça de cada um, ele é o IMI de um qualquer casebre virado ao sol e à praia, virado aos montes ou aos baldios que são do povo.
         Acordo e estou vivo. Não é preciso ser o médico a dizer-me, constato eu no alto da minha sabedoria. Mas há qualquer coisa que me escapa…apesar do latido faminto e sedento de um cão da vizinhança que aguarda a chegada dos donos que foram passar o ano fora. É que neste promontório mais ocidental da Europa nada mexe. Nem o vento nem a imaginação, nem as águas do rio nem o mar que sempre nos levou longe, nem os salários que fazem mover a economia. Ninguém se lembra dos anos de sacrifício, ninguém se recorda dos lamentos e das vidas destruídas. Nada de nada. Nada se mexe. Nem o futebol – agora que o tempo dos bons rapazes voltou ao Porto – nem a política em ano de eleições autárquicas, todos se vão acomodando ao saldo zero das contas de tantos bancos da nossa infelicidade.
         Acordo…e já não sei se estou mesmo vivo ou se apenas sobrevivo, acordo e não me sai da cabeça o som do porta-voz a repetir a estabilidade do coma profundo. É de facto este o estado deste promontório mais ocidental da Europa. Em coma e de corações gelados, apesar do fogo de artifício que foi estourando um pouco por todas as terras. Toneladas de estrelas que não minimizam a sobretaxa do IRS que muitos vão continuar a pagar, talvez até à venda definitiva do Novo Banco, sabe-se lá! E é o ano do centenário de Fátima, e é o primeiro ano de António Guterres como Secretário Geral da ONU apelando à Paz no mundo, neste planeta esventrado por guerras sucessivas e chorado por migrantes perseguidos e torturados.
         Acordo…e para meu espanto ainda cá estou. Felizmente rodeado por familiares e alguns amigos fiéis que entendem a força que têm a amizade e a solidariedade. Ainda cá estamos, apesar de não haver nada de novo. É preciso ser, é fundamental acontecer, cada um deve cumprir a sua parte.
Um abraço virtual e tudo de bom em cada um dos próximos dias.  
António Bondoso
Jornalista
1 de Janeiro do ano da graça de 2017.

         

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