NESTE PROMONTÓRIO...NADA DE NOVO!
Foto de Ant. Bondoso.
Acordo,
estou vivo. Apalpo a moleirinha, belisco o pulso e dou comigo a ouvir um
centenário comunicado do porta-voz da unidade hospitalar em que se transformou
este imenso Portugal, este promontório mais ocidental da Europa.
Ele é o vírus H3N1 – a ou b tanto faz –
ele é a corrida às urgências, mas sem vítimas do terrorismo, para desespero dos
pés de microfone, ele é os aumentos do gás e da água, do bilhete do elétrico ou
do metro, dos combustíveis que fazem mexer a geringonça de cada um, ele é o IMI
de um qualquer casebre virado ao sol e à praia, virado aos montes ou aos
baldios que são do povo.
Acordo e estou vivo. Não é preciso ser
o médico a dizer-me, constato eu no alto da minha sabedoria. Mas há qualquer
coisa que me escapa…apesar do latido faminto e sedento de um cão da vizinhança
que aguarda a chegada dos donos que foram passar o ano fora. É que neste
promontório mais ocidental da Europa nada mexe. Nem o vento nem a imaginação,
nem as águas do rio nem o mar que sempre nos levou longe, nem os salários que
fazem mover a economia. Ninguém se lembra dos anos de sacrifício, ninguém se
recorda dos lamentos e das vidas destruídas. Nada de nada. Nada se mexe. Nem o
futebol – agora que o tempo dos bons rapazes voltou ao Porto – nem a política
em ano de eleições autárquicas, todos se vão acomodando ao saldo zero das
contas de tantos bancos da nossa infelicidade.
Acordo…e já não sei se estou mesmo vivo
ou se apenas sobrevivo, acordo e não me sai da cabeça o som do porta-voz a
repetir a estabilidade do coma profundo. É de facto este o estado deste
promontório mais ocidental da Europa. Em coma e de corações gelados, apesar do
fogo de artifício que foi estourando um pouco por todas as terras. Toneladas de
estrelas que não minimizam a sobretaxa do IRS que muitos vão continuar a pagar,
talvez até à venda definitiva do Novo Banco, sabe-se lá! E é o ano do
centenário de Fátima, e é o primeiro ano de António Guterres como Secretário
Geral da ONU apelando à Paz no mundo, neste planeta esventrado por guerras
sucessivas e chorado por migrantes perseguidos e torturados.
Acordo…e para meu espanto ainda cá
estou. Felizmente rodeado por familiares e alguns amigos fiéis que entendem a
força que têm a amizade e a solidariedade. Ainda cá estamos, apesar de não
haver nada de novo. É preciso ser, é fundamental acontecer, cada um deve
cumprir a sua parte.
Um
abraço virtual e tudo de bom em cada um dos próximos dias.
António Bondoso
Jornalista
1 de Janeiro do
ano da graça de 2017.
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