OS AMIGOS BONS...DESPEDEM-SE ANTES DO NATAL!
ACHAS?
Há
sempre uma hora, há sempre um dia. Que nós, como verdadeiros Amigos de quem
somos, desejamos vá sendo adiado. Mas o momento é inevitável. E hoje, pela pena
do filho Rui na página do pai, chegou a tristeza de uma nota em tom poético
sobre o passamento do Tozé Cardoso Pinto. Conheci-o há muitos anos, trabalhava
ele na RDP, em Lisboa, depois de ter emprestado a sua voz e a sua sensibilidade
à Rádio em Angola. Cardoso Pinto nasceu em Malanje. E conhecemo-nos no Porto,
por ocasião de uma visita de trabalho do então Diretor de Informação José
Gabriel Viegas. Depois, fomos mantendo o contacto, embora o Tozé tenha
preferido deslocar-se para a área dos programas, ali mesmo À Esquina da Um. Tinha mais a ver com a sua forma de estar, com a
sua sensibilidade, com o seu ritmo. Um tom que ele deixava transparecer quando
me respondia : «achas»?
Pois
o Tozé foi seguramente uma das pessoas mais responsáveis pela minha ida para
Macau trabalhar na TDM. E foi lá, também com ele, que eu me fui apaixonando
pelo gosto de trabalhar as palavras. A minha poesia ganhou forma ali na Rádio,
em Macau. Obrigado Tozé pela Amizade, grato pelo teu cuidado e teimosia em
querer trabalhar comigo. O meu abraço em estereofonia – bem expresso neste
prefácio da Inês Pedrosa ao teu livro A
LUA DOS ASTRONAUTAS NÃO É A MINHA LUA:
" CORAÇÃO EM ESTEREOFONIA "
Cercar de fogo as margens brancas da rádio é um labor delicado,
porque aqui o fogo tem que arder no escuro, como diria Camões
se ouvisse telefonia.
Há que fazer com que a palavra pareça música, a música pareça segredo
e ambas abracem aquilo que do outro lado é solidão.
Como a poesia, ou com ela. Cardoso Pinto sabe disto e sabe a isto.
Trabalha-se com o coração à beira-boca no limiar da absoluta invisibilidade,
no palco do puro instantâneo.
... Com mais ou menos estereofonia, o desafio continua suspenso pelo mesmo precário fio de sintonias: a transparência da palavra, o grão da voz.
Cardoso Pinto disse, e agora escreve: "reflectindo, reflectimo-nos".
Disse e escreveu pequenas histórias de estrelas e sábios passeando pelo céu imenso de uma cidade irresistivelmente violenta.
O que ele disse escreve-se.
Há coisas assim que ditas já são outras verdades.
Cercar de fogo as margens brancas da rádio é um labor delicado,
porque aqui o fogo tem que arder no escuro, como diria Camões
se ouvisse telefonia.
Há que fazer com que a palavra pareça música, a música pareça segredo
e ambas abracem aquilo que do outro lado é solidão.
Como a poesia, ou com ela. Cardoso Pinto sabe disto e sabe a isto.
Trabalha-se com o coração à beira-boca no limiar da absoluta invisibilidade,
no palco do puro instantâneo.
... Com mais ou menos estereofonia, o desafio continua suspenso pelo mesmo precário fio de sintonias: a transparência da palavra, o grão da voz.
Cardoso Pinto disse, e agora escreve: "reflectindo, reflectimo-nos".
Disse e escreveu pequenas histórias de estrelas e sábios passeando pelo céu imenso de uma cidade irresistivelmente violenta.
O que ele disse escreve-se.
Há coisas assim que ditas já são outras verdades.
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António
Bondoso
Jornalista.
21 Dez. 2017
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