Como
é bom ser “reconhecido” em vida!
A propósito de ter sido o poeta convidado do Clube ASAS DE POESIA para a sessão de 24 de Fevereiro de 2018, na Biblioteca José Vieira de Carvalho, no Fórum da Maia.
Como
é bom ser “reconhecido” em vida!
Em
“memória”, a homenagem não deixa de ter o seu sentido e o seu significado,
sobretudo para orgulho dos familiares e amigos do peito, mas ver e sentir o seu
trabalho ou a sua obra serem apreciados nesta presente caminhada terrena, é uma
sensação que deixa perceber o quanto estamos de bem com a vida, mesmo tendo em
conta todos os escolhos que aparecem diacronicamente “programados”.
Mas
é mesmo bom ser reconhecido em vida!
Não
por meio de uma comenda cada vez mais em voga; não através de um busto que faça
corar o espelho; não correndo o risco de ver o nome pespegado numa laje de
granito indicando o sentido de uma artéria citadina – mesmo que os dados sejam
fornecidos por um GPS de última geração.
Em
qualquer caso, é mesmo muito bom ser reconhecido em vida!
Sendo
suspeito, talvez faça sentido dizer que – apesar de tudo – a dita “homenagem”
terá sido um exagero, havendo seguramente pessoas de outro gabarito.
Direi
até que é mesmo reconfortante ser reconhecido em vida!
Não
pelo jornalista que fui – ainda sou, embora na «reserva» - mas pela poesia que
tenho partilhado. Deixo, portanto, o meu apreço ao simpático e acolhedor,
empenhado e dinâmico Clube ASAS DE POESIA, da Maia. Mensalmente há um convidado
de «honra», completando-se a sessão com a evocação de um grande poeta de outros
tempos. Eu tive a felicidade de poder “ser acompanhado” pela figura ilustre de
uma poetisa de grande caráter e de uma dimensão intelectual ímpar: - a
«desalinhada» Irene Lisboa. Deixo igualmente escrito um carinhoso agradecimento
aos Amigos que puderam e quiseram estar presentes – eles sabem quem são! –
particularmente aos que viajaram de longe e, sobretudo, aos que viajaram de
muito longe, muito longe além dos mares, trazendo-me o assobio do «ossóbó»
encantado das Ilhas do Meio do Mundo.
Não
esquecendo os habituais declamadores do «Asas de Poesia» (a Manuela Carneiro,
que sublimou OS PRIMEIROS BISAVÓS; a
Cristina Pessoa, que tão bem soube navegar no MEU MAR…DONO DO MUNDO; a Ana Freitas, de Coruche, que entendeu de
forma magnífica que A MINHA MÚSICA…É O
MAR; a Dulce Morais, que adocicou UM
BRASIL BRASILEIRO; o Dionísio Dinis, que disse de forma vigorosa ATROFIADO POETA…NÃO! POETA REPRIMIDO…NUNCA!;
e o António Portela, que percebeu a necessidade de O RECOMEÇO), a minha gratidão estende-se ainda à Filomena Mesquita
e à dinamizadora Teresa Gonçalves; e à música de Orlando Mesquita, Manuel
Bastos e do Grupo de Violas e Cavaquinhos da Universidade Sénior Rotary de
Matosinhos, na qual tenho a honra de colaborar. E depois declamou-se Irene
Lisboa, faltando-me referir o Francisco, de Coruche, o Francisco Félix Machado,
a Maria do Amparo Bondoso e o José Brites Marques Inácio.
Todos
juntos, ajudámos a integrar e a absorver o espírito poético da tarde de Sábado
passado aos jovens estudantes Santomenses, no Porto, Jéssica Conceição, Vanda
Almeida e Ekilson Fasbel, os quais assumiram a responsabilidade de cantar como
o ossóbó dizendo o meu poema sobre S.Tomé EM
TEMPOS CHAMEI-LHE MINHA: «Era ali que eu existia./E tinha pela frente o
mar/ Imenso/ Com ondas de calema e tanta espuma./ Contava carneirinhos a perder
de vista/ E sonhava com os mistérios do mundo:/ Que era ali, todo inteiro/ Até
onde meus olhos alcançavam./ Tudaxi sá glávi…tudo kwá sá dôxi (…) Chamei-lhe
minha no tempo/ Quando a hsitória me ensinou/ Era ali que eu existia/ E é ali
que sempre estou./ Lá longe, desse lugar/ Onde o mundo se divide/ Chegam-me os
novos sentidos/ Mas continuo a escutar/ O canto do ossóbó./ Também melodioso,
um papagé repete: ainda lhe chamo minha, ainda lhe chamo minha, ainda lhe chamo
minha…».
Fui
parar à minha ilha de sonho através de uma janela «por onde espreito a
intimidade do mundo/ Viajo supersónico/ Para além do Azul/ Quando pressiono o
botão do meu rádio de pilhas».
E
foi de lá que estiveram também comigo o Américo Gradíssimo e o Manuel Xavier –
que me emociona sempre que falamos da ilha do Príncipe – e recebi igualmente,
nesse espaço acolhedor que é a Biblioteca municipal que leva o nome de José
Vieira de Carvalho, um abraço sentido do médico e grande poeta José Brites
Marques Inácio.
Todos
eles me ouviram dizer por exemplo que, «da inocência do pós guerra em Moimenta
da Beira à infância, à adolescência, ao crescimento livre, à juventude adulta e
ao casamento em STP…vai todo um mundo de contradições e de esperanças,
conjugando emoções várias que, há mais ou menos 20 anos, tenho vindo a
conseguir passar ao papel, sobretudo em linguagem poética. E é e foi este
lastro, traduzido com simplicidade em quase 40 anos de uma profissão
apaixonante na Rádio (também na TV) e na formação audiovisual – tem sido esse
lastro a dar-me a oportunidade de partilhar com todos os que me vão lendo um “mar
imenso de ideias, de ideais, de emoções – vividas e sentidas – de paisagens
deslumbrantes”. E evitando uma difícil, objetiva e concreta definição de poesia
(à qual reconheço, como Antero, a sua função social), cito apenas Mário Quintana:
a poesia é para abalar, não é para embalar…e quem faz um poema abre uma
janela».
António Bondoso
Jornalista
28 de Fevereiro de 2018.
1 comentário:
Muito obrigada poeta António Bondoso!
Quem tem de agradecer é o Grupo Asas de Poesia,
pela honra de ter aceitado o nosso convite e nos premiar
com a sua presença e poesia.
Desculpe alguma falha da nossa parte.
Saudações poéticas e beijinhos para a esposa.
Pelo Grupo Asas de Poesia,
Teresa Gonçalves
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