UM NATAL COM JUSTIÇA!
Afinal...a Justiça deveria ser e estar Todos os Dias...
NÃO
ME VENHAM FALAR DE NATAL!
FALEM-ME
DE JUSTIÇA!
(Atualizando o que
escrevi em 2015, percebendo a sem-vergonha de PPCoelho, Cristas e quejandos.
Dou de barato o triste espetáculo da oposição na AR, mas não posso deixar
passar em claro a barbaridade da afirmação do ainda líder do PSD sobre não ter
memória de um ano tão trágico).
Não
me venham falar de Natal, quando a miséria, a pobreza, a desigualdade entre os
homens de todas as raças se acentua; não me falem de Natal quando os “donos
disto tudo”, banqueiros e mercados sem rosto, somam cada vez mais às suas
fortunas roubando o produto de quem trabalha e de quem já trabalhou; não me
falem de Natal quando os jovens não têm futuro na terra onde nasceram; não me
venham falar de Natal quando as migrações são cada vez mais forçadas por
situações de guerra e perseguições políticas – da Síria ao Sudão, da Líbia ao
Iraque, da Sérvia ao Kosovo, da Albânia à Turquia, do Líbano a Israel, da
Rússia à Palestina, do Paquistão à Índia, da Indonésia às Filipinas, da China
ao Tibete, do México aos Estados Unidos, da Alemanha à Hungria, do Congo ao
Chade, da Tunísia ao Burquina Faso, de Angola ao Zimbabwe, do Brasil à
Venezuela, de Myanmar ao Ruanda ou ao Quénia. Não me falem de Natal quando as
crianças em todo o mundo são violentadas pela fome e pela escravidão.
Não
me venham falar de Natal.
Falem-me
de Justiça.
Não
me falem de Natal, quando os doentes passam cada vez mais situações críticas já
mesmo à porta das farmácias – quando não, até à porta de suas casas. Não me venham
falar de Natal quando os avós e os pais já não conseguem – em cada dia – fazer
face ao desespero dos filhos. Não me falem de Natal, quando há situações
diárias de pais e filhos desavindos. Não me venham falar de Natal, quando há
escolas e hospitais que não funcionam por falta de verbas. Não me falem de
Natal quando a violência doméstica é cada vez mais comum; não me falem de Natal
quando os vizinhos se agridem por uma flor de jardim ou por um arbusto saído;
não me venham falar de Natal quando as alterações climáticas – resultado
sobretudo das ambições desmedidas do “homem” – conduzem à morte do nosso
planeta a um ritmo assustador.
Não me venham falar de Natal apenas em
Dezembro, exatamente numa altura que o ainda líder do PSD se lembrou de dizer
que não tinha memória de um ano tão trágico em Portugal. Certamente se esqueceu
– pois não tem memória – dos 1216 casos de suicídio registados em 2014. E nos
anos do seu (des) governo, patrocinado pela Troika e por Cavaco Silva, também
não se recorda das pessoas que perderam as suas casas para os bancos (que ele
alimentou com milhões) ou daqueles que se viram obrigados a emigrar ou a
desfazer-se de muitos dos seus bens para enfrentar os efeitos dos cortes cegos
– sobretudo nas pensões de reforma. É trágico recuperar uns quantos euros,
tendo em conta as centenas/milhares de que fomos esbulhados? Não me falem de
Natal, quando esse fulano se permite dizer o que disse. Certamente não tem
memória dos 10 mil milhões que o fisco deixou fugir para os paraísos fiscais
entre 2011 e 2014, tal como não tem noção da gravidade em que deixou este país
mais triste à beira-mar plantado, tal como referia em Novembro de 2016 o jornalista
Nicolau Santos: “ É este o Estado que temos: sem
poder para mandar naquilo que é verdadeiramente essencial para definir uma
estratégia de desenvolvimento. E o que é espantoso é que quase tudo tenha acontecido em tão
pouco tempo (entre 2011 e 2015, pouco mais de quatro anos) e que estivéssemos
tão anestesiados que o não conseguíssemos evitar.”
Falem-me
de Justiça e de Consciências Iluminadas.
Já
enviei, aceitei e retribuí mensagens de Boas Festas. Sobretudo para os amigos
que muito considero. Mas não me falem de Natal, quando percebo nesses gestos
apenas uma circunstância de moda. Não me venham falar de Natal quando se
consomem fortunas em decorações de rua e nas casas de cada um, apenas para umas
horas de mesa e de companhia desfeita; não me falem de Natal quando o
consumismo se concentra em figuras como a Popota ou como a Leopoldina. Não me
venham falar de Natal, quando as compras e as trocas de presentes são a razão
única de estabelecer um convívio de amigos e de famílias.
Não me venham falar de Natal…por tudo
isto!
Falem-me de Amizade presente e
desinteressada, falem-me de Justiça, dos verdadeiros valores do humanismo como
a solidariedade e a humildade. O Natal é isto. Sobretudo isto! Mas também
admito que, sendo eu um desalinhado, possa – no limite – estar a ver o mundo ao
contrário!
António Bondoso
Jornalista
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