JOSÉ
MARIA PEDROTO
O futebol era um vício…mas
o Homem tinha vida para além da Paixão!
JOSÉ
MARIA PEDROTO
O futebol era um vício…mas
o Homem tinha vida para além da Paixão!
E
quando se diz que Pedroto, treinador, era um homem à frente do seu tempo…tudo
se estendia para lá da metodologia do treino, da visão do fenómeno e da leitura
do jogo no “banco”. O “Zé” era um homem preocupado com os seus jogadores
enquanto pessoas comuns. E tinha um forte espírito de solidariedade, não só no
âmbito da “família portista” (Miguel Arcanjo chamava-lhe o Divino Mestre), mas até
com ex-jogadores de outros clubes a quem ajudava não só financeiramente.
José Carlos Silva
José
Maria Pedroto foi mais uma vez homenageado, agora pela «Tertúlia do Dragão”,
cujo espaço passou a contar com uma sala VIP que leva o seu nome. A mulher,
Cecília, e os filhos Isabel e Rui acompanharam o Prof. José Neto e o Presidente
do FCP Pinto da Costa, numa sessão para lembrar o homem e o treinador de
eleição. José Neto ilustrou a importância de Pedroto na sua passagem pelo clube
e na sua formação como homem do futebol – não apenas no pormenor das
estatísticas; Isabel e Rui acentuaram a faceta do pai, embora com uma natural
rigidez, preocupado com o saudável crescimento dos filhos à luz do tempo que
foi – uma ideia igualmente partilhada por Pinto da Costa, que destacou o facto
de ele lhe manifestar a sua preocupação, não com o futuro financeiro dos
filhos, antes com a importância de lhes proporcionar ferramentas para melhor enfrentar
eventuais dificuldades da vida; e Cecília Pedroto preferiu salientar que o
marido, embora respirando e transpirando futebol, sempre procurou nunca misturar
a família e a profissão. Visivelmente emocionada, revelou que o marido nem
sabia que ela ia ver os jogos ao estádio das Antas no seu lugar cativo. E feliz
pela continuidade de Sérgio Conceição como técnico do clube, Cecília Pedroto –
embora recusando comparações com outros grandes treinadores portugueses,
antigos e actuais, e não esquecendo a enorme evolução do futebol – sempre foi
dizendo com orgulho que nenhum o igualou no que respeita a capacidades técnicas.
Jorge Nuno Pinto da Costa lembrou com naturalidade a sua relação de amizade com
Pedroto não só no F.C. do Porto. E foi em sua casa, com amigos comuns, que
partilhou responsabilidades com a ida do técnico, quer para Setúbal, quer para
o Boavista. A doença que viria a minar a vida de Pedroto, demasiado cedo, foi
igualmente objecto da memória do presidente do clube azul e branco.
Foi
pena, embora se perceba a exígua disponibilidade de tempo, que a «tertúlia» não
tivesse sido estendida à numerosa assistência. Pedroto era um homem de
tertúlias, lembrou o filho Rui. E eu, que tive a felicidade de poder acompanhar
pelo menos duas na Petúlia, madrugada dentro, graças sobretudo à camaradagem de Nuno Brás, Sérgio Teixeira e de
Manuel Fernandes, da RDP, não esqueço a simplicidade com que o «Mestre»
explicava como os defesas laterais deviam evitar os cruzamentos dos extremos
adversários. Ou de como, ainda não havia marcas no relvado como hoje, e já ele
colocava um jogador à frente do adversário na marcação dos cantos e um outro
junto ao poste da baliza – quantas vezes até nos dois! Questionado um dia por
um jornalista, depois de uma série de 5 empates do FCP, no tempo em que as
vitórias ainda valiam 2 pontos…Pedroto disse: meu rapaz…vale mais 5 empates do
que 3 derrotas! Há muitas outras situações conhecidas, como aquela do penálti
que o Oliveira falhou contra o Sporting, nas Antas (a perder por 1-0) e que,
por indicação de Pedroto, Romeu acabou por ter êxito na recarga, empatando o
jogo…ou uma outra passada com Jairo – um brasileiro que chegou ao clube em
finais dos anos 70 do séc. XX: num dos treinos, o avançado insistia em cruzar
muito antes da linha de fundo para a área, o que retirava eficácia ao ataque.
Então Pedroto mostrava-lhe aquele espaço mais próximo do ângulo entre as linhas
lateral e de fundo, imaginando um “quarto de círculo” em grande plano. Estás a
ver? É mais ou menos por aqui que deves cruzar. Mas Jairo insistia no “erro”.
Até que, num desses cruzamentos, o ataque lá acabou por marcar um golo. Então
Pedroto terá desabafado: pronto, também serve!
Era assim José Maria Pedroto – um homem
à frente do seu tempo e que o tempo levou muito antes do tempo merecido! De
Lamego ao Porto, da Invicta ao Mundo…a doença fatal viria a impedir-me de
apresentar a história do «Mestre», ou parte dela, na primeira pessoa, mas
ficaram testemunhos vários de diferentes quadrantes clubísticos, salientando as
capacidades como homem e como treinador. Transmitido ainda antes do seu
passamento…talvez ainda esteja em “arquivo” na RDP-Antena1.
António Bondoso
Jornalista
18 de Maio de
2018.
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