SÃO
TOMÉ E O PRÍNCIPE ESPELHADOS NUM LIVRO COLORIDO…POR UM «OLHAR» DE NOVE CORES –
ou de como Rufino do Espírito Santo construiu uma obra poética plena de uma
saudável «loucura», desenhando e entrelaçando palavras de beleza tropical num
cenário de «bolas de sabão», das quais só as crianças sabem o verdadeiro
significado. A «sabedoria dos adultos é cada vez mais questionável, como o
autor recorda num provérbio santomense: - “se
pretenderes viver com sossego neste mundo, terás de fazer-te de louco, e
permitir aos outros acreditarem que são os sábios”[1].
Para além do que escrevi no curto
prefácio, que o autor gentilmente me solicitou, gostaria hoje de realçar dois
ou três outros pormenores interessantes que Rufas Santo utilizou na construção
deste “NOVE CORES DA BOLA DE SABÃO”. Na
sua «Introdução», o autor explica detalhadamente a causa e o sentido de cada
palavra, de cada ideia. Talvez tenha querido precisar a sua escrita para que
não possam restar dúvidas, embora o poeta não tenha que explicar a sua poesia.
Ela basta por si, está lá para ser decifrada pelos leitores. Ou como dizia
Almada Negreiros, “não me obriguem a explicar nada do que eu digo”.
Contudo, lembro que o livro está
dividido em três partes, atribuindo o autor a cada uma delas – não por acaso –
três cores. Na parte I, dedicada à «Insularidade», escolheu o verde (muitos
verdes, dizem que são mil!) das ilhas, o azul dos céus e do mar da Lagoa Azul…e
o amarelo – esta cor como que simbolizando, segundo a minha “leitura”, uma
advertência a quem não tem feito o que devia, seja decisor ou cidadão comum.
Por isso pergunta: “Que fazer destes filhos do coito interrompido por inação”? E
por isso quer voar até “onde consiga ver o outro lado do mundo/ Conhecer onde
se escondem os monstros/ Que atormentam as minhas noites…”. Nestas Ilhas de
Kajumbi há também a cobra preta de viperinos silvos. Por isso quer “Que venha a
chuva”, que venha muita chuva “para lavar as nossas lágrimas”.
Não se colocando fora da equação, pois
«admite falhas» em poemas espaçados, tal como as bolas de sabão, Rufas Santo
abre a janela da excentricidade na Parte II. E aqui, joga com as cores
vermelho, roxoranja e violeta. Por isso aparecem diversos “Quadros Na Parede”,
espaçados pelas quase 200 páginas do livro, por isso o autor escreve sobre a
Ilusão, sobre a Paixão e a Loucura, por isso fala do purgatório de Deuses e
Demónios, da Noite da Queima dos Anjos e de uma “garrafa de vinho tinto de
sempre”, sem esquecer a “lenha que alimenta essa chama”.
A
“Crioulidade” preenche a Parte III, merecendo uma reflexão sobre «nós – as
pessoas», enquadradas pelas cores a preto e branco. É uma tradução
incontornável da sociedade de STP. Por isso, o autor destaca ANASTÁCIA que, «cantando a insularidade,
transporta numa bola de sabão a crioula origem». Por isso, Rufino do Espírito
Santo pede também que VEJAM um
crioulo olhar de fogo, a cobra preta e – ao alto – um «lenço branco/ Da cor do
seu sorriso».
Por último, quero assinalar o
significado marcante das citações e dedicatórias que o autor revela nas suas
páginas coloridas. E começa pelo princípio, isto é, pelas «mulheres». Quer às
Mulheres do 19 de Setembro, quer a todas as Mulheres: “Para vós que não perdestes a força que a maternidade vos incutiu e a
cada aurora vos levantais para dar o que não vos foi dado e para que não
percais a força e a vontade de lutar”. Por isso não esquece Inocência Mata e
Conceição Lima – “essa alma rebelde das Ilhas do Meio do Mundo” e autora da Dolorosa Raiz do Micondó a quem presta
homenagem particular. E depois aos Poetas das Ilhas do Meio do Mundo, tal como
aos Artistas, aos Poetas de Sal e Sol, incluindo um recado para o Mestre
Marcelo da Veiga e para Tomás de Medeiros. Por fim, uma dedicatória aos
«anónimos das nossas ilhas», a todos dizendo: “Acreditem que esta é uma forma
de agradecer os carinhos de amizade – Simplesmente”!
O
livro, à boleia deste tempo de pandemia, ainda não foi publicamente
apresentado. Mas já pode ser adquirido, quer através de contacto com o autor,
quer por intermédio da própria editora “ Edições Vieira da Silva”.
[1] - “Xi bô mêsê vivê ni mundo, sela bô finji malôkô, semple pla inem pô fla kuma inem soku sa bêtôdô” (tradução do autor na pg.70). Em «Forro» - língua maior de STP.
António Bondoso
Novembro de
2020.
Sem comentários:
Enviar um comentário