2020-11-21

SÃO TOMÉ E O PRÍNCIPE ESPELHADOS NUM LIVRO COLORIDO…POR UM «OLHAR» DE NOVE CORES... 


SÃO TOMÉ E O PRÍNCIPE ESPELHADOS NUM LIVRO COLORIDO…POR UM «OLHAR» DE NOVE CORES – ou de como Rufino do Espírito Santo construiu uma obra poética plena de uma saudável «loucura», desenhando e entrelaçando palavras de beleza tropical num cenário de «bolas de sabão», das quais só as crianças sabem o verdadeiro significado. A «sabedoria dos adultos é cada vez mais questionável, como o autor recorda num provérbio santomense: - “se pretenderes viver com sossego neste mundo, terás de fazer-te de louco, e permitir aos outros acreditarem que são os sábios”[1].

         Para além do que escrevi no curto prefácio, que o autor gentilmente me solicitou, gostaria hoje de realçar dois ou três outros pormenores interessantes que Rufas Santo utilizou na construção deste “NOVE CORES DA BOLA DE SABÃO”. Na sua «Introdução», o autor explica detalhadamente a causa e o sentido de cada palavra, de cada ideia. Talvez tenha querido precisar a sua escrita para que não possam restar dúvidas, embora o poeta não tenha que explicar a sua poesia. Ela basta por si, está lá para ser decifrada pelos leitores. Ou como dizia Almada Negreiros, “não me obriguem a explicar nada do que eu digo”.

         Contudo, lembro que o livro está dividido em três partes, atribuindo o autor a cada uma delas – não por acaso – três cores. Na parte I, dedicada à «Insularidade», escolheu o verde (muitos verdes, dizem que são mil!) das ilhas, o azul dos céus e do mar da Lagoa Azul…e o amarelo – esta cor como que simbolizando, segundo a minha “leitura”, uma advertência a quem não tem feito o que devia, seja decisor ou cidadão comum. Por isso pergunta: “Que fazer destes filhos do coito interrompido por inação”? E por isso quer voar até “onde consiga ver o outro lado do mundo/ Conhecer onde se escondem os monstros/ Que atormentam as minhas noites…”. Nestas Ilhas de Kajumbi há também a cobra preta de viperinos silvos. Por isso quer “Que venha a chuva”, que venha muita chuva “para lavar as nossas lágrimas”.

         Não se colocando fora da equação, pois «admite falhas» em poemas espaçados, tal como as bolas de sabão, Rufas Santo abre a janela da excentricidade na Parte II. E aqui, joga com as cores vermelho, roxoranja e violeta. Por isso aparecem diversos “Quadros Na Parede”, espaçados pelas quase 200 páginas do livro, por isso o autor escreve sobre a Ilusão, sobre a Paixão e a Loucura, por isso fala do purgatório de Deuses e Demónios, da Noite da Queima dos Anjos e de uma “garrafa de vinho tinto de sempre”, sem esquecer a “lenha que alimenta essa chama”.

          A “Crioulidade” preenche a Parte III, merecendo uma reflexão sobre «nós – as pessoas», enquadradas pelas cores a preto e branco. É uma tradução incontornável da sociedade de STP. Por isso, o autor destaca ANASTÁCIA que, «cantando a insularidade, transporta numa bola de sabão a crioula origem». Por isso, Rufino do Espírito Santo pede também que VEJAM um crioulo olhar de fogo, a cobra preta e – ao alto – um «lenço branco/ Da cor do seu sorriso».

         Por último, quero assinalar o significado marcante das citações e dedicatórias que o autor revela nas suas páginas coloridas. E começa pelo princípio, isto é, pelas «mulheres». Quer às Mulheres do 19 de Setembro, quer a todas as Mulheres: “Para vós que não perdestes a força que a maternidade vos incutiu e a cada aurora vos levantais para dar o que não vos foi dado e para que não percais a força e a vontade de lutar”.  Por isso não esquece Inocência Mata e Conceição Lima – “essa alma rebelde das Ilhas do Meio do Mundo” e autora da Dolorosa Raiz do Micondó a quem presta homenagem particular. E depois aos Poetas das Ilhas do Meio do Mundo, tal como aos Artistas, aos Poetas de Sal e Sol, incluindo um recado para o Mestre Marcelo da Veiga e para Tomás de Medeiros. Por fim, uma dedicatória aos «anónimos das nossas ilhas», a todos dizendo: “Acreditem que esta é uma forma de agradecer os carinhos de amizade – Simplesmente”!

O livro, à boleia deste tempo de pandemia, ainda não foi publicamente apresentado. Mas já pode ser adquirido, quer através de contacto com o autor, quer por intermédio da própria editora “ Edições Vieira da Silva”. 



[1] - “Xi bô mêsê vivê ni mundo, sela bô finji malôkô, semple pla inem pô fla kuma inem soku sa bêtôdô” (tradução do autor na pg.70). Em «Forro» - língua maior de STP.  



António Bondoso

Novembro de 2020. 


 

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