"DIA INTERNACIONAL DA
LÍNGUA MATERNA”.
Foi proclamado pela UNESCO em 1999, com o objetivo de
proteger e salvaguardar as línguas faladas em todo o mundo. Estima-se que existam mais
de 7000 línguas em todo o planeta. No entanto, quase metade delas corre o risco
de vir a desaparecer. A escolha deste dia
21 de Fevereiro teve origem na tragédia que ocorreu em Fevereiro de 1952, na
cidade de Daca, no Bangladesh. Vários estudantes foram mortos pela polícia nessa
data, durante uma manifestação pelo reconhecimento da sua língua - o bengalês -
como um dos dois idiomas oficiais do então Paquistão.
E, por isso, é pelas línguas que devemos ir.
Recordo, a propósito, a
intensidade desta ideia do Prof. Adriano
Moreira:
"...Em toda a parte, aquilo que avulta como
menos vulnerável e como cimento mais forte, é realmente a língua". (...) E
se houver capacidade e não faltar vontade, a língua é o veículo da cultura
capaz de disputar o seu espaço e de o fazer crescer"!
E é neste
desiderato que devemos entender o espírito do espaço «lusófono», enquadrado na
«instituição» CPLP, embora os horizontes das diásporas sejam mais vastos. Admitindo como verdadeira a
ideia de que, quando o sonho se concretiza, deixa de haver utopia – continuemos
a sonhar nesta tarefa de consolidar a lusofonia e a atuação da CPLP. Que o “não-lugar”
que nos foi legado pelos Gregos vá deixando de ser paulatinamente o lugar que
não existe, prolongando o sonho. Fixemo-nos no interior do que chamo “Trapézio
dos Nove” e nos Mares que os unem, abraçando simultaneamente todas as
diásporas. E todas as Línguas daqueles que partilham a nossa.
Mas para lá chegar, sabemos
que é
preciso mais empenho de Portugal, quer nessa perceção do outro – sua história e
cultura – quer na expansão da Língua Portuguesa. Sem querer estender demasiado
este meu texto, penso ser interessante e importante recordar uma «conversa»
minha com a Historiadora Maria Manso, em 2015, na qual se criticam autoridades
e se pede reforço do papel da Rádio e da Televisão públicas:
«Embora esteja de acordo com o facto de
a nossa política externa dever ter um pé na Europa e outro no Atlântico, a
professora da Universidade de Évora considera que “deveríamos dedicar maior percentagem de atenção aos
Países Lusófonos e às regiões que por
questões culturais se mantêm/estiveram ligadas a Portugal. Somos europeus, mas
somos sobretudo lusófonos. Na actual situação em que o País se encontra,
necessitaríamos de desenvolver políticas
de cooperação que possibilitassem o fortalecimento da CPLP e permitissem uma
“menor dependência” de Portugal face às políticas europeias”. Maria
de Deus Beites Manso, docente e investigadora nas áreas da Arqueologia e de
Humanidades, vai estar no Porto na próxima na quinta-feira para falar da
expansão da língua, da Lusofonia, da CPLP, e do reforço do papel da comunicação
social do Estado.
A propósito da palestra que vai proferir na Quinta da Bonjóia, a convite da AICEM –
Associação do Idioma e das Culturas em Português, com sede no Porto – Maria
Manso considera que, para a construção do Projeto da Lusofonia, a língua e os
afetos são essenciais mas “também
precisamos de desenvolver uma política que fortaleça as relações no âmbito do
ensino (reconhecimento dos graus académicos, criar /aumentar - ou criar -
os programas de mobilidade docente e discente…) , da investigação, etc na
CPLP. Para as regiões que não fazem
parte da CPLP mas que tiveram ligações a Portugal devíamos criar políticas de
cooperação que preservassem viva esta ligação cultural e linguística”.
Recentemente, entrevistada no programa
“Em Nome do Ouvinte”, da RDP, a
propósito do encerramento das emissões em Onda Curta, o qual critica, Maria
Manso afirma que “há uma sede de ouvir a
língua portuguesa e que é preciso dar condições para que as pessoas se
sintam ligadas à língua e à história de Portugal. Há quem se sinta português,
mesmo não tendo a nacionalidade e, de alguma maneira, há mesmo quem se sinta abandonado por Portugal”.
O Instituto Camões tem o seu papel importante e
fundamental mas, na opinião de Maria Manso “não é suficiente o que se ensina numa universidade”. Por isso, diz,
os meios de comunicação social “devem conseguir reforçar, dar mais condições
para que as pessoas, ouvindo, possam treinar a língua e, ao mesmo tempo, ficar
a conhecer a história e a cultura”.
A
internet ainda não chega a todo o lado, nomeadamente em África e na América do
Sul, pelo que se justifica a existência do serviço da Onda Curta na RDP, à
semelhança do que fazem outros países europeus, particularmente a Espanha.
Contudo, refere, é necessário levar a cabo um estudo para melhor conhecer o
público-alvo e que permita repensar a programação, sobretudo tendo em conta a
grande heterogeneidade».
É bom recordar que o número de falantes
da língua portuguesa tem aumentado, estimando-se que, em 2050, atinja 350
milhões espalhados pelos cinco Continentes.
António Bondoso
Fevereiro de 2022.
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