Há
sempre tanto para dizer e contar sobre o «tempo de Abril». Pelo menos, alguma
coisa de relevante. Por exemplo, a ideia de que o Eurocentrismo, ou o
Euromundialismo, inserido em dois MUNDIALISMOS que vinham do final da 2ª
GM/Guerra Fria (EUA e URSS), terminou ali.
Em 25 de Abril de 1974 “(…) verificou-se um
acontecimento de importância sem paralelo desde esse longínquo 1945, o qual foi
a Revolução de 25 de Abril de 1974 em Portugal”.
Adriano Moreira, 1977, S. Paulo – Brasil
Assim transcrito, poderá julgar-se que
se trata de uma declaração banal. Mas Adriano Moreira colocava a questão em
termos de Relações Internacionais, fazendo sobressair a ideia de que, tal
facto, “Demonstrou a interdependência crescente de um mundo socializado a
partir das descobertas portuguesas”.
E o maior impacto do que disse então o
Professor, durante uma Lição incluída no Curso de Relações Político-Económicas
Internacionais, em S. Paulo, viria a seguir:
“Esse acontecimento, levado a cabo por umas escassas centenas de homens, de nacionalidade diferente da dos Estados em competição mundial, “arruinaram os planos dos estados-maiores dos exércitos mais poderosos do mundo”. E assim, a “linha de tensão entre a URSS e os EUA mudou radicalmente de trajecto”.
Já tanto se escreveu, já muito se
disse, até já muito se filmou sobre esse «Golpe dos 4 Dês» como lhe chamo, mas
pouco – muito pouco ou nada – se tem dado relevo a esta perspetiva. Talvez esquecida
por motivos conjunturais internos, durante esse período tão desafiante e em
simultâneo tão conturbado da realidade portuguesa, ou talvez pela simples razão
de ter sido abordada lá longe, no Brasil, por um «exilado» que nunca escondeu
as suas ligações ao antigo regime. Só que não se tratava de um exilado
qualquer. Adriano Moreira foi, de facto, ministro de Salazar…mas era igualmente
um Professor Catedrático, senhor de um pensamento crítico e aberto às mudanças
no mundo.
E é pena, pois, que essa perspetiva não tenha merecido a devida atenção, uma vez que nada ficou como dantes: - “O desmantelamento da «estrutura» do Estado Português, com a descolonização em África (Timor ficou adiado e Macau foi quando os chineses quiseram) “abriu definitivamente o ÍNDICO e o ATLÂNTICO SUL à expansão soviética”. E sem negociação de contrapartidas. Rompeu-se, assim, o equilíbrio de ambos os mundialismos em competição. E não foi a favor dos EUA.
A
chamada «comunidade ocidental» parece nunca ter entendido bem a questão
africana, apesar dos exemplos de finais de 50 e princípios dos anos 60 do
século XX, esperando que a descolonização lhe viesse a ser favorável.
Seja como for, o certo é que se perdeu,
pelo menos temporariamente, o sonho do que Adriano Moreira designava por “Oceano
Moreno”, com a
organização desse «espaço vital» sob a liderança natural do Brasil, com a cooperação portuguesa e procurando a adesão dos “estados ribeirinhos”. Felizmente, depois da “queda do muro”, outras ideias deram corpo ao chamado «espaço lusófono».
António Bondoso
Abril de 2023.
Sem comentários:
Enviar um comentário