AMÍLCAR CABRAL – a figura e o seu percurso – com novo
episódio.
Hoje
às 18.30, no auditório sul da Feira do Livro de Lisboa, vão ser apresentados
«novos segmentos» para uma biografia mais completa de Amílcar Cabral.
A responsabilidade está a cargo da historiadora Ângela Coutinho e do escritor Filinto Elísio, da editora Rosa de Porcelana, na conjugação dos 50 anos do assassinato do líder africano e do centenário do seu nascimento que se perfila para 2024.
Há 10 anos, recordo, publicava eu «LUSOFONIA
E CPLP – Desafios na Globalização», no qual destacava a ideia de Cabral sobre a
importância da língua portuguesa: - “O
[idioma] português é uma das melhores coisas que os portugueses nos
deixaram”.
Mas a «ideia» só se tornou mais clara, quando Paula Medeiros levou a citação mais longe, referindo uma publicação do próprio Cabral (1974):- “O português (língua) é uma das melhores coisas que os tugas nos deixaram, porque a língua não é a prova de nada mais, senão um instrumento para os homens se relacionarem uns com os outros, é um instrumento, um meio para falar, para exprimir as realidades da vida e do mundo”.
Seguindo a ideia, acrescentei eu que, desta frase de Amílcar Cabral, «também se pode extrair a ideia de que – não sendo a prova de nada mais – a língua pode não ser pertença, pode não derivar de uma relação afetiva e cultural. O que importa, é que ela seja um instrumento para chegar ao mundo. E esse, era sem dúvida um objetivo do seu Movimento de Libertação. Por isso e embora reconhecendo força e valor identitários ao crioulo, defendido pelos seus adversários internos, Cabral contrapunha a importância de uma língua de afirmação “universal” dizendo: - “Há muita coisa que não podemos dizer na nossa língua, mas há pessoas que querem que ponhamos de lado a língua portuguesa, porque nós somos africanos e não queremos a língua dos estrangeiros. Esses querem é avançar a sua cabeça, não é o seu povo que querem fazer avançar. Nós, Partido, se queremos levar para a frente o nosso povo, durante muito tempo ainda, para escrevermos, para avançarmos na ciência, a nossa língua tem que ser o português”.(...)».
Em 2012, por outro lado, já eu havia
explorado uma outra faceta de Cabral, no livro O PODER E O POEMA, recuando ao
ano de 1946 e à Seara Nova, onde ele dizia que “A Minha Poesia Sou Eu”. Era já
o «outro lado» daquele a quem chamaram profeta, soldado, poeta – mas que se
dizia apenas “um simples africano que quis saldar a sua dívida para com o seu
povo e viver a sua época”.
«Ama os Homens/ Solta teus poemas para
todas as raças,/ Para todas as coisas./ Confunde-te comigo…».
Um registo meu, apenas, bebendo uma outra perspetiva nas palavras da São-Tomense Conceição Lima:
António Bondoso
Maio de 2023.
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