2011-12-04

À VOLTA DE MIM E DO MUNDO !


O Natal é um reflexo.

De um espelho muito baço ou de um mágico momento?

Nem sempre se descortinam as razões da dúvida, mas é certo que o período natalício tanto projecta alegria, consumismo, felicidade...como realça tristeza, pessimismo, desespero. Paradoxo? Nem por isso. E as culpas da contradição nem sequer podem ser exclusivamente atribuídas ao Pai Natal da Coca-Cola. Já muito antes de terem descoberto a morada mais recente da elegante e veneranda figura de barbas brancas, na Lapónia, se reconheciam sinais de dupla face no que toca a uma época desde sempre desejada como devendo ser de comunhão, de concórdia, de solidariedade. Os cristãos, provavelmente, não terão entendido de imediato o significado da estrela brilhante que havia guiado os Reis Magos ao berço térreo de Belém. A luz destacada no nocturno firmamento da terra prometida poderia ser, afinal, o reflexo de uma Luz solar que marcava o solstício do Inverno – data entendida como oficial pelo imperador Aureliano – a qual passou, assim, a ser festejada pelos cristãos, já não apenas como acontecimento pagão mas também com um sentido moral, de respeito pelo nascimento de Jesus, pelo Sol da Justiça, pela Luz do Mundo. Decorria o ano de 274, mas igualmente se sugere a possibilidade do ano 336. A luz brilhava, mas – não podendo haver certezas num tempo sem computadores, sem internet, sem fibra ótica – houve quem explicasse a data do nascimento de Cristo à luz de uma teoria simbolico-astronómica, na qual se equacionam o dia da Sua conceção e o dia presumido da Sua morte mais os nove meses da gravidez de Nossa Senhora. Refletem-se nesta equação o equinócio da Primavera, a Páscoa judaica a 25 de Março, o dia da criação do mundo e ainda o dia da Encarnação. Esta “incerteza” sobre o dia 25 de Dezembro vem contada num livro de Silva Araújo[1] que lembra ainda a data de 6 de Janeiro na qual, no século IV, o Natal evocava simultaneamente o nascimento de Cristo, a adoração dos Magos e o baptismo de Jesus. Nesse dia, agora já no século XXI, trocam-se prendas em Espanha e cantam-se as Janeiras em Portugal. O que deveria ser importante, sobretudo numa época de crise mundial como a nossa – financeira, económica, ética e de valores morais – seria retermos o simbolismo da mensagem de Cristo, atentos à verdade, à paz, ao diálogo, à amizade, à solidariedade, mas também seriamente preocupados e decididos em enfrentar as causas da pobreza, da desigualdade e da ganância. Poderíamos ter, assim, um espelho menos baço e muitos mais momentos de magia. A luz das estrelas ainda nos pode motivar!

A.B. – Dez 2011.



[1] - Viver o Natal, Livraria Apostolado da Imprensa – Porto, 1987 (2ªedição).

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