A PROPÓSITO DOS "RETORNADOS", "REFUGIADOS", "ABANDONADOS" e outros rótulos mais ou menos pejorativos. ( I )
Por muito dissecado e analisado, escrito e estudado, em qualquer perspetiva, a descolonização e os seus efeitos imediatos, por tardios, será sempre um tema complexo e divisor - porque carregado de traumas, de saudades e de saudosismos, de memórias e de histórias que fazem a História. A nossa é antiga de muitos séculos. Assumimos o grande feito das descobertas, devemos assumir os erros da colonização e não podemos colocar de parte o atabalhoado processo de descolonização - resultado de treze anos de uma guerra em três frentes, que os políticos não souberam [alguns não quiseram] terminar, negociando em tempo oportuno uma saída ao espírito do tempo.
Repesco agora algumas ideias, em razão sobretudo de uma nova vaga de estudos e investigação, que se apresenta em forma de livros mais ou menos ficcionados e em série de rádio e de televisão. DEPOIS DO ADEUS - assim se chama a série da RTP - vai, inevitavelmente, reabrir o "diálogo" que, também inevitavelmente, voltará a ser acalorado e picante quanto baste sobre os que vieram de África. Já o foi na apresentação do projecto e mais será, seguramente, nos próximos meses. É minha convicção que o reabrir do "processo" não será negativo. Pelo contrário, o amadurecimento das ideias traz perspetivas mais concretas e mais esclarecidas, independentemente de continuar a haver [nesta altura já muito menos] algumas posições ressabiadas. E é natural que o enfoque continue a ser dado às chamadas "jóias da coroa" ou do império [Angola e Moçambique], com um pequeno lugar no palco para a "simpatia" de Cabo Verde. O resto... por exemplo S.Tomé e Príncipe, não é matéria "vendável".
A este propósito, anexo aqui um "post" que a minha mulher escreveu (bem) e fez publicar no facebook:
Aproveitando a "boleia", decidi retomar algumas das ideias que expressei no meu livro ESCRAVOS DO PARAÍSO - VIVÊNCIAS DE S.TOMÉ E PRÍNCIPE, de 2005, editado pela MinervaCoimbra e cuja capa aí está. Particularmente para vos dar conta de alguns aspetos que antecederam a nossa vinda para Portugal, o nosso regresso, o nosso retorno - se assim quiserem!
Com a transição, bem ou mal feita, viémos e ficámos - adaptando as nossas vidas a esse PREC tumultuoso e ultrapassando todas as dificuldades, apesar de eu ter sido colocado temporariamente em Lisboa, enquanto a minha mulher esperou pelo normalizar da sua situação, em Vila Nova de Gaia - localidade onde já se encontrava parte da família [irmãos, tios e avó], independentemente de a mãe ter regressado a S.Tomé, de onde o meu sogro entendeu não partir, pelo menos enquanto sentisse tranquilidade suficiente.
ANTONIO BONDOSO.
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