OS MEUS LIVROS DO ANO DE 2012 (I)
Entre os milhares publicados – e alguns de grande
qualidade – escolhi apenas dois. Perdoar-me-ão a “proximidade”...mas é como em
outros lugares e com pessoas diversas. Há sempre uma escolha e, naturalmente,
subjetiva.
Sendo assim
e entrando de imediato no tema, coloco em destaque o livro do amigo Prof.
Doutor Rui de Azevedo Teixeira sobre a figura do militar Jaime Neves. Chamando de
pronto a atenção para o título do livro, enfatiza que é exatamente “Homem de
Guerra e Boémio – Jaime Neves, por Rui de Azevedo Teixeira”. Tal como está
escrito na capa – uma biografia de autor:
Mesmo que
não tivesse lido mais nada sobre a nossa última guerra do século XX; mesmo que
não tivesse passado por parte dela; mesmo que não tivesse visto um ou dois
filmes interessantes sobre a mesma; mesmo que não tivesse apreciado igual
número de boas séries documentais na TV (por ex a que ainda passa, da autoria
do jornalista Joaquim Furtado, apesar do repetitivo “recurso” às figuras dos
entrevistados – sempre os mesmos – e alguns deles sem perceberem muito bem,
ainda hoje, o que foi de facto essa guerra de guerrilha em três frentes); mesmo
aceitando tudo isso – só o simples pormenor de poder ter lido (e percebido)
este livro, vale a razão de o qualificar como o mais bem escrito e mais
esclarecedor sobre a chamada guerra colonial, do ultramar, de África ou de
libertação.
Partindo da
figura de um autêntico guerreiro – “centauro” como diz – Rui de Azevedo
Teixeira descreve-nos o que foi e como foi a guerra, com todos os pontos nos “is”,
não esquecendo os nomes malditos como Wyriamu. Sem complexos, sem dramas, sem
culpas e desculpas desnecessárias – a guerra, essa guerra, foi vivida na
passada e no percurso de Jaime Alberto Gonçalves das Neves, à nascença; o
tenente Neves depois da Academia e nas primeiras missões na Índia e em
Moçambique; finalmente o “comando” Jaime Neves, o homem do camuflado, com todos os defeitos e as muitas virtudes de
um transmontano de gema que se vai fazendo homem na freguesia de Anta, depois Vila
Real, Porto, Lisboa e, finalmente, no ultramar:
A uma
escrita brilhante, simultaneamente realista, simples e erudita, direta e rude
(humorada quanto baste, como é tradição da instituição militar), talvez não
seja estranho o facto de também Rui de Azevedo Teixeira ter sido comando – um soldado
– e, por isso mesmo, ter ele próprio vivido as cenas comuns de uma guerra de
guerrilha, para a qual as tropas de elite como os “comandos” foram
superiormente preparadas. Sobretudo no “teatro de guerra”, ao contrário do que
sucedia com a chamada “tropa macaca” enviada da “metrópole” – primeiro sem
conhecimentos suficientes do terreno das “frentes”, por fim, como notou Jaime
Neves, mobilizada sem nunca ter disparado um tiro!
“A maior
parte das guerras dividem-se em noventa por cento de tédio e o resto de caos
violento. Tal não acontece com os comandos. Com eles, mesmo não havendo tiros,
há a hipótese de minas, o que exige uma contínua concentração impeditiva de
qualquer das variantes do tédio” – escreve Teixeira. E ao caos violento
consegue opor com elegância um caso de “pequena violência cómica” descrito por
Jaime Neves e que lembra a 43ª CCMDS, na frente de Moçambique, após a captura
de um “preto”:- “Como é que te chamas, pá? – pergunta o comando, no mato, ao
preto capturado. – É Conforme, patrão! – O quê?! Estás a gozar comigo, pá?! –
Não, patrão. É Conforme, patrão. – O preto, sentado no chão, leva um calçudo. –
Como é que te chamas, caralho?! – É Conforme. – Recebe desta vez um consolo
mais forte no cachaço. O comando, furioso, repete a pergunta. – É Conforme. – Dois murros. Uma coronhada.
Aproxima-se outro comando, que, a alguns metros, observa a cena. – Ouve, se
calhar o gajo chama-se mesmo Conforme. – Si, si. O nomi é Conforme. Si, patrão.”
Este é o primeiro capítulo dos meus livros do ano de
2012. O outro, que vai trazer um “apêndice” como brinde, virá amanhã à luz do
dia.
========== António Bondoso.
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