OS MEUS LIVROS DO ANO DE 2012 (II)
Neste segundo capítulo começo por pedir desculpa por não
ter cumprido o prazo com o qual me comprometi. Razões outras, algumas
inadiáveis, conduziram-me a tarefas não planeadas. E pelo meio, passeando os
olhos pelo caderno “ATUAL”, dos 40 anos do Expresso, foi um achado de ouro a
bela prosa de José Pedro Castanheira sobre a figura de Melo Antunes – um dos fundadores da democracia, segundo
Jorge Miranda, ou mesmo o pai da
democracia em Portugal, de acordo com Ramalho Eanes. Tudo isto a propósito
de uma extensa biografia escrita pela historiadora Maria Inácia Rezola e
publicada em Novembro, com o título Melo
Antunes. Uma Biografia Política. Tive pena de não conseguir ainda recolher
os ensinamentos das quase 800 páginas da obra que, de certa forma, se cruza
também com o livro de Rui de Azevedo Teixeira sobre Jaime Neves e – passe a
imodéstia – se espelha igualmente em parte do meu O PODER E O POEMA, particularmente no que respeita aos anos mais
recentes da História de Portugal.
Não
pretendendo ser juíz em causa própria, socorro-me do que disseram ou escreveram
os apresentadores de O PODER E O POEMA,
nas sessões realizadas até ao momento.
Em Lisboa,
na Casa Internacional de S.Tomé e Príncipe, Pedro Barroso – maestro, poeta,
compositor, autor e cantor – disse por exemplo que “Este é um trabalho
interessantíssimo e de certo fôlego a merecer toda a atenção” e que “acaba por
resumir, de forma bastante criativa, a
dialética poesia/poder na nossa História, de forma interessante e original”. E,
naturalmente e ao correr do pensamento, Pedro Barroso conduz a sua ideia para a
força da poesia cantada que é, de facto, uma arma:- “Quando a canção põe em
causa o poder existente, esse poder treme”. E acrescenta: “Porque conseguimos
sintetizar o espaço de sonho que eles [poder] não têm; porque conseguimos
sintetizar a injustiça social que eles consagram. O poder tema a poesia. Um
poder que esteja de consciência tranquila, nunca poderá temer um poeta”.
Destaca do livro o poema E Depois? para
dizer que “é muito apropriado ao momento que estamos a viver – a que me apetece
chamar já de 25ª Hora, ou um momento que posso designar como antes que seja
tarde”. Por último, Pedro Barroso salientou que “este livro não é apenas um
livro de poesia, é sobretudo um livro/ensaio sobre as odes à revolta que foram
surgindo ao longo da história”.
Já no Porto, na Livraria Lello, o Prof. Doutor Joel Mata
– docente na Universidade Lusíada e investigador do CEPESE, da Universidade do
Porto – apresentou e disse um texto imbuído de brilhantismo académico,
questionando permanentemente o autor de O
PODER E O POEMA que, segundo ele, “disserta sobre o poder dos poderes, de
líderes do poder convidando o o leitor a dar uma espreitadela a uma paisagem
triangular: Portugal, Angola e S.Tomé e Príncipe e em nota sotoposta lá vem
nostalgicamente Macau, a demarcar os confins do império”. Joel Mata afirma que A.B.
faz uma revisitação quase obsessiva a autores como Ary dos Santos, Manuel
Alegre ou Zeca Afonso, mas reconhece que o livro “é um trabalho pleno de
virtudes, de visões presente-passado, presente-presente e presente-futuro,
parafraseando Sto Agostinho, e augura em praticamente todos os textos poéticos
um sabor amargo, procurando, numa busca incessante, encontrar o eco ou a
companhia – das multidões em fúria, inconformadas –, para dar voz a um protesto
tão necessário quanto premente, face à situação actual do país e do mundo”. E
vai ainda quase ao final do livro, onde se fala do desemprego como a nova lepra
do século XXI, para dizer que se pode colher neste livro uma última ideia: “o
poeta também é um construtor de pátrias, apelando ao inconformismo, da mesma
forma que Almada Negreiros o fizera, com o Ultimatum
Futurista às Gerações do Século XX: «O Povo completo será aquele que tiver
reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem,
portugueses, só vos faltam as qualidades»”.
Em Moimenta
da Beira, na sala nobre da Biblioteca de Aquilino Ribeiro, o Dr. Alcides
Sarmento – director do Agrupamento de Escolas local – falou nomeadamente da
originalidade de O PODER E O POEMA,
quer quanto ao conteúdo, quer quanto à forma e, depois de lembrar Ortega e
Gasset no que diz respeito ao homem e à sua circunstância, salientou a tradição
literária de Moimenta da Beira. Não é comum – disse – “um concelho juntar a
qualidade de homens como Aquilino Ribeiro, Afonso Ribeiro, Eduardo Salgueiro e
Luís Veiga Leitão, todos com um traço de união: o combate pela liberdade!”
Não
termino sem fazer referência ao brinde que anunciei. E que, de certa forma,
entronca com as obras de que já falámos – particularmente no que respeita à
África de todos os sonhos. É uma publicação original de 1960 que a Biblioteca de Bolso Dom Quixote trouxe
para a língua portuguesa, em Portugal, no ano de 1988. Sombras no Capim, 25 anos depois de África Minha, apresenta-nos uma Karen Blixen perfeitamente
enfeitiçada – não pelas tribos do Quénia (Kikuyu, Wakamba, Kawirondo e Masai)
mas sim pelos Somali que para ali emigravam desde sempre:
Somali era
o seu criado e mordomo na Fazenda. Farah era o seu nome e por ele nutria grande
admiração: “Os Somali são de uma grande beleza, esbeltos e altos como todas as
tribos da África Oriental, com olhos escuros e altivos, pernans direitas e
dentes de lobo. São vaidosos e apreciadores de belas roupas. Quando não
trajavam à europeia – e muitos deles vestiam com garbo fatos dos melhores
alfaiates de Londres que os patrões tinham deixado de usar – traziam longas
túnicas de seda crua, com coletes pretos sem mangas primorosamente bordados a
ouro.”
Vale a
pena ler...sobretudo agora que o Quénia vive em crise de valores e que a
Somália encarna a própria crise. E também porque já (quase) não há neve no
Kilimandjaro.
========= António Bondoso
Janeiro de 2013.
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