A PROPÓSITO DA MINHA CRÓNICA DE HOJE (ESCRITA NA TERÇA-FEIRA) NO JORNAL BEIRÃO - PARA LER NO CORAÇÃO DO DISTRITO DE VISEU.
A TÁTICA DO QUADRADO...
... A Democracia, o “bacilo de Hansen” – O PROCESSO. E ainda
as perguntas que nunca terão respostas.
Perante
uma “folha” em branco no ecran do computador, por vezes o cronista pode
comparar-se à angústia do guarda-redes no momento do penálti. Mas de repente –
se é que há repentes no hábito da escrita – dou comigo a pensar se ainda é
válido o pensamento de Aristóteles: “O pressuposto da democracia é a
liberdade...e o da liberdade é ser alternadamente governante e governado”. Não
tendo dúvidas sobre a primeira parte da ideia, já quanto à segunda parte elas
vão crescendo a olhos vistos.
Tantos
séculos depois, quantas teorias passadas ao nível da filosofia, da psicologia e
da sociologia – parece, de facto, muito redutor o pressuposto da liberdade
assentar apenas na condição de se ser alternadamente governante e governado. A
liberdade é fundamental para a democracia, mas esta – hoje – não se esgota nos
ciclos eleitorais. Para conquistar e manter a(s) liberdade(s), é preciso que os
cidadãos sejam e estejam informados e esclarecidos para poderem participar nas
decisões que lhes são exigidas no quotidiano. E poder, tanto quanto possível,
destrinçar entre o que é informação, contrainformação e propaganda. Estamos no
campo da actividade política...e esta é definida, por ex por Freitas do Amaral,
como “a actividade humana, de tipo competitivo, que tem por objecto a conquista
e o exercício do poder”. Pela ideologia ou por mais ou menos pragmatismo.
É por aqui
que se pode e deve perceber a atividade humana, seja no âmbito dos partidos
políticos, dos sindicatos, das comissões de trabalhadores ou de moradores, das
associações de estudantes ou das associações de pais. Posto isto – e não
perdendo de vista a competição para a conquista e o exercício do poder – volto
à greve dos professores no dia do exame de português do 12ºano, apenas para
realçar o parolismo argumentativo do “comentador” Miguel Sousa Tavares, na SIC:
a greve veio depois do calendário dos exames, elaborado há muito tempo. Uma
evidência, claro! Tal como a evidência de, em qualquer greve no setor dos
transportes, os horários das carreiras diárias da Carris, da CP, da Transtejo,
da STCP, dos Metros de Lisboa ou Porto, ou da TAP já estarem definidos desde
sempre. Os alunos não podem ser afetados? E os exames – não poderiam (tal como
veio a acontecer) ser adiados para outro dia? Ao contrário dos alunos – que
podem ver o exame remarcado para outro dia – os utentes dos transportes não
podem “transferir” o seu dia de trabalho. Serão certamente penalizados se
faltarem. Tal como os utentes do setor da saúde, de outro modo, estarem
sujeitos a muitos perigos – inclusive à morte – dando-se o caso de uma greve de
médicos e enfermeiros, mesmo prevendo aqui os chamados serviços mínimos. A vida
de um cidadão valerá menos do que um exame, em suprema argumentação?
Despindo
qualquer pingo demagógico neste texto, exibindo – tal como muitos outros,
inclusive governantes – apenas argumentos, contra outros provavelmente tão
válidos, apetece-me citar José Goulão no Jornal de Angola de 22 de Maio: “Um
país que é uma tragédia”! E mesmo sem me alongar na pobreza, na fome, no milhão
e meio de desempregados, nos polícias que dormem no chão das esquadras e no
valor da pensão da presidente da AR – quando o governo tem vindo a cortar e se
prepara para agravar esses cortes nas pensões/reformas da maioria dos portugueses
– eu digo que este país está altamente afetado pelo bacilo de Hansen,
transformando-se aos poucos num imenso leprocómio sustentado e incentivado pela
alta finança internacional e pelos acólitos governantes. Afetado de igual modo
nos aspetos físico e mental. É um processo de morte lenta, a que eu chamo em
poema de minha lavra exatamente O PROCESSO, o qual termino escrevendo – “Tudo
vai morrendo por dentro e por fora/ Mas saibam os biltres.../ Que é um processo
lento”! Tão lento que, inevitavelmente, os atingirá sem dúvida alguma.
O PROCESSO (A Publicar).
De um lado me
chamam
Do outro me querem
No meio da vida e
da morte à espreita.
Sem tempo e alento
Sem voz e sem força
Meu braço levanto
Sinal de quebranto...
Bacilo de Hansen
que a idade não cura.
Tudo vai morrendo
por dentro e por fora
Mas saibam os
biltres...
Que é um processo
lento.
=======António
Bondoso (A Publicar)
Jornalista e candidato a Poeta.
Junho de 2013.
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