UMA MORTE PROVOCADA PELA QUEDA…
…ou uma queda mortal, provocada pela indiferença e pela imprudência. Talvez até como consequência de um entusiasmo arrebatador!
Dir-me-ão que, por coincidência pura,
tudo pode acontecer. Mesmo sabendo que os números me são simpáticos – como o 11.
Fui o onze em alguns casos, fiz parte do “onze” em outros tantos e o onze
sempre é metade do 22 – outro número simpático a que muitos chamam de dois
patinhos, particularmente quando se participa no jogo do loto.
Mas, por obra desenganada de um destino
madrasto, eis que – no dia 11 de Abril – o número 11 do Correio Beirão foi o
último da 3ª série deste jornal fundado em 1956, em Moimenta da Beira.
Em matéria de jornais, sobretudo no que
toca à chamada “imprensa regional” e particularmente numa região interior do
país, há – como em tudo – uma série de fatores a determinar o insucesso de um
projeto. Partindo do princípio de que as pessoas, com todas as qualidades e
defeitos inerentes, são fundamentais para erguer e sustentar o dito – é aí que
se torna fundamental investir. Repito…investir! O que, em boa análise, não tem
o mesmo significado de gastar dinheiro. Aqui pode falar-se em falta de
planeamento, uma vez que o investir pressupõe sempre um risco. Um risco
calculado, planeado. Apesar de sabermos que pode falhar. E errar é próprio do
ser humano.
Assim sendo – e até que a administração
e/ou a direção do jornal decidam esclarecer as razões do falhanço – o que posso
dizer é que sinto uma emoção de perda. Moimenta da Beira vai ficar, ao que tudo
indica, sem o seu “título” mais antigo. Dir-me-ão que estamos num mercado
global, onde as regras da concorrência são cumpridas não havendo, portanto,
lugar a sentimentalismos. Mas eu sinto. E ninguém pode duvidar. É a terceira
morte do Correio Beirão, o que me faz lembrar que os cavalos também se abatem
ou que, por outro lado, os apostadores de cavalos morrem tesos – como diria
essa lenda viva no jornalismo e na literatura americana, Damon Runyon.
Não pretendendo especular e muito menos
acusar seja quem for…o que não posso é deixar de colocar algumas questões que,
aos interessados, sempre dirão alguma coisa. Ninguém é obrigado a coisa alguma,
muito menos a responder, mas há o dever de perguntar.
Terá
sido apenas um problema de concorrência entusiástica, entendida aqui como sinal
de competitividade? É que a competitividade implica sobretudo a “inovação”, o ser
diferente! Terá sido [ou pretendeu sê-lo] o Correio Beirão, nesta sua 3ª série,
um jornal diferente?
Não
foi o projeto acarinhado por quem devia? Quis o jornal afastar-se das origens e
das raízes? Terá havido indiferença dos agentes económicos, sobretudo de
Moimenta da Beira?
Terá
havido imprudência na análise de quem assumiu o projeto de ressuscitar o
jornal? Poderá colocar-se a ideia de que se pretendeu querer dar um passo maior
que a perna? Mas, então, e a ambição – essencial a qualquer projeto? Não é
fácil, mas aguardo.
Não
só pelas respostas, mas esperando igualmente que o Correio Beirão possa
ressurgir – onde quer que seja – para voltar, inevitavelmente, a ter a
oportunidade de uma quarta morte. Se possível…muito longe no tempo!
António Bondoso
Jornalista – CP359.
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