2014-04-05

RUMORES E O MINISTRO DE CAMILO...




RUMORES…
…a propósito de teatro, encenação, ministros e outras criaturas que persistem no assassinato das vidas de milhares de portugueses que, pela sua dependência do vínculo ao Estado, se sentem impotentes para reagir.

         À custa do empobrecimento de milhões de pessoas, os governantes embandeiram em arco com os números do défice. Gerar desemprego, pobreza, miséria, emigração forçada e desertificação – e tendo essa coroa de glória que o FMI tanto preza, que é o miserável salário mínimo dos portugueses – foi o caminho escolhido. Do mal o menos, não nos podemos queixar pelo facto de não terem sido capazes de encontrar uma “solução final” ao jeito do génio nazi.
         Bem vistas as consequências das atuais políticas, talvez a outra fosse uma solução mais eficaz, porque mais radical. Ao lento ritmo desta nossa “morte”, a questão apresenta-se mais sádica – consequentemente mais sofrida.
         E depois apresentam o teatro do relógio para 17 de Maio, como se o tempo fosse parar e tudo se transformasse num jardim de rosas. Sair! Sair de quê e para onde? O engano é tremendo. Não vamos sair seja do que for, pela simples razão de que estaremos eternamente presos às teorias da troika neoliberal – quer seja de um FMI do tipo “maria vai com as outras”, quer seja de uma União Europeia incapaz de promover a solidariedade e o bem comum dos Estados-membros, cada vez mais assimétricos.
         Temos um primeiro ministro sem coluna, temos um vice-primeiro ministro irrevogavelmente invertebrado…e depois uma plêiade dos que chegaram a ministro por engano, compadrio ou a simples eliminação de hipóteses. Faz-me lembrar o episódio do Tibúrcio Pimenta imaginado por Camilo Castelo Branco no seu “O Sr. Ministro”. Com a vantagem moral de Tibúrcio, conhecedor perfeito dos seus princípios e valores: “Homens da minha inflexível independência só podem ser ministros, se o povo e as armas os impõem ao Poder Moderador. A minha coluna vertebral não se curva nem ao povo, nem aos argentários, nem à camarilha. Nunca passarei de bacharel Tibúrcio Pimenta, natural da Gandarela, e advogado nos auditórios do Porto”. Ora bolas – comentaria a mulher – quando Tibúrcio recebeu a notícia [nada surpreendente] de que havia sido nomeado para ministro, mas apenas da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco, da qual era “irmão”!
António Bondoso

Jornalista – CP 359.

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