A PROPÓSITO DA RÁDIO E DAS SENHAS DO 25 DE ABRIL DE 74.
O MEU CAMARADA E AMIGO EDUARDO VALENTE DA FONSECA - colaborador do programa LIMITE.
A
propósito da rádio e das “senhas” para o golpe de 25 de Abril de 1974, levado a
cabo pelo chamado “movimento dos capitães”, alguns foram lembrando outros que
participaram…sabendo!
E
igualmente ainda outros que se viram envolvidos…sem saber!
No
meio de todas as histórias contadas, retive uma relacionada com o programa LIMITE, transmitido na Rádio Renascença
mas com produção independente. Nesse mesmo onde foi passada Grândola Vila Morena, de Zeca Afonso. O
programa era muito conhecido pelo arrojo na abordagem de temas com alguma
polémica, mas também por incluir muita poesia.
E
dentre a imensidão dos colaboradores do programa, ouvi referir um antigo
camarada – jornalista e poeta – EDUARDO VALENTE DA FONSECA. Na época
trabalhador no “República”…mas que eu
só viria a conhecer quando ele passou a integrar o quadro redatorial da RDP no
Porto. Dessa sua “participação” – no programa, claro – nunca o ouvi
vangloriar-se. Já tive oportunidade de o recordar em outras ocasiões, a
propósito dos livros que foi publicando.
E
hoje, mais em jeito de homenagem, não resisto a trazer aqui OS CRIPTOGÂMICOS, o nº3 da coleção
Paisagem, da Livraria Paisagem, no Porto e publicado em 1973.
E
dos deliciosos textos “poéticos” que este livro encerra – e que ele me ofereceu
dizendo “ao bom amigo e leal companheiro de trabalho” – permito-me destacar,
talvez pela atualidade, “O Dr. Carlos e os políticos”. E reza exatamente assim:
“Uma mesa de café. Em volta, cabeças em surdina. A conspiração dos políticos,
sempre às mesmas horas. Os bolsos cheios de naftalina. O Dr. Carlos, com uma
dessas caras que servem de apresentação a um ideal político, entrava no café
com ar de segredo já sabido por todos, e soprava a novidade suficientemente
alto para ficar gravada no ouvido mais distante da sala. No final das reuniões
concluíam todos cheios de sossego, que, felizmente, a revolução não era para
já. O Dr. Carlos precisava de apodrecer na sua quinta dos arredores. Todos eles
precisavam de apodrecer nos arredores ou ali, mas o que todos levavam era muito
tempo…”
OS CRIPTOGÂMICOS
– de Eduardo Valente da Fonseca – do qual o autor escreveu, em 1973, que “…E
Deus criou as pessoas e o bolor”!
António Bondoso
Abril de 2014.
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